A tendência da balaclava ‘cola’ no Brasil?
Basta uma olhada no Instagram, TikTok ou no Pinterest dos influenciadores do hemisfério norte neste inverno e você verá um item que se repete entre os fashionistas: a Balaclava. Chamada também de ‘máscara de esqui’ ou ‘gorro de ninja’, o acessório é feito normalmente de lã, mohair ou algum tipo de fio têxtil e possui uma abertura do tamanho do rosto ou apenas dos olhos.
O item que entrou na disputa das tendências de moda em 2021/2022 se tornou um queridinho do inverno nas passarelas. Ele apareceu como uma máscara quadriculada feita por Virgil Abloh, com chifres de diabo tricotados, na Givenchy, e no desfile da Miu Miu na semana de moda de Paris, em março passado, com vestidos justos e botas de neve. O item também aparece em coleções da Moschino, Balmain, Marine Serre, Raf Simmons, Eckhaus Latta e Richard Quinn.
Mas nem todos recebem a máscara com ânimo. A influenciadora Malu Borges dividiu opiniões após anunciar que irá lançar uma linha de balaclavas com parceria da uma marca de peças de crochê, a Crocê. Com o quadro no TikTok “Get Ready With Me’, Malu montou alguns looks com o acessório. Porém, alguns internautas não aprovaram a estética do item. Em diversos comentários os usuários ressaltam a dificuldade de pessoas pretas usarem a peça, especialmente no Brasil.
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O uso do item
A balaclava foi criada em 1854, durante a Guerra da Crimeia, para proteger as tropas inglesas do frio congelante e, desde então, ganhou novos significados e contextos. O gorro, que cobre rosto e pescoço, virou artigo esportivo de ski, snowboard e até Fórmula 1. Porém, ele também se tornou um acessório associado ao crime, a fim de cobrir o rosto e proteger a identidade.
Ao longo dos anos, a balaclava foi adentrando culturas – sociais e pop. Além dos desfiles de moda, o acessório apareceu em rostos de celebridades como Kanye West – que passou meses com o rosto quase todo coberto ao divulgar seu novo álbum Donda – e Kim Kardashian, que fez algumas aparições com um look parecido, criado pelo estilista Demna Gsavalia, da Balenciaga.
A tendência faz sentido no Brasil?
Por ter ganhado o mainstream, a tendência começou a ser discutida na internet a partir de uma perspectiva social e racial. No Brasil, a balaclava guarda um imaginário negativo de preconceito por parte da população. No Twitter, alguns internautas comentam: “A moda (para mim) é um reflexo da sociedade, igual todos os outros tipos de arte, e não faz sentido no nosso cenário brasileiro”. Outros justificam que, “em um cenário tropical, isso não faz sentido”.
Influenciadores e ativistas do movimento negro ressaltam que no país é impossível que o acessório seja utilizado por pessoas pretas: “Sem a balaclava a gente já está levando tiro, imagina com isso…”, comenta o influencer Levi Kaique. O risco de sair com o rosto coberto e ser confundido com um bandido é levado em consideração.
Apesar da pandemia ter naturalizado o uso de itens que cobrem o boca, nariz e boa parte do rosto, o preconceito não sumiu com as mudanças dos últimos anos. Além disso, as balaclavas se tornaram uma versão estilosa das máscaras, mas nada eficaz em termos sanitários.
A questão religiosa também é pauta quando falamos do acessório. Em um vídeo do Tiktok com a música “gorgeous gorgeous girls wear balaclava, gorgeous gorgeous girls avoid the drama” (mulheres lindas usam balaclava, mulheres lindas evitam dramas), a influencer Maliha Ness faz uma crítica:
“Não se você é um jovem negro, porque você pode ser assassinado pela polícia. Não se você é uma mulher muçulmana, já que você pode sofrer um crime de ódio – se você estiver em um dia bom, você perde seu emprego, se for um dia ruim, você é esfaqueada. Mas, se você é uma mulher branca e magra, você é chamada de ícone fashion”.
@malihaness #stitch with @borislavasekova sorry officer you missed the lastest trends, it’s a bAlaClaVa #balaclava #hijab #hood #muslimwomen #racism ♬ original sound – Maliha