A liberdade para cuidar de si
Cuidar de si não deveria ser a exceção, mas a regra. O autocuidado é tão importante para o bem-estar quanto para as relações externas. Afinal, quando se está em paz consigo mesmo, todo o resto parece se alinhar também.
Autocuidado é também se autoconhecer. Inclusive, se esse já era um assunto em pauta há anos, depois da pandemia, tornou-se ainda mais aflorado. Autoconhecer-se, porém, ultrapassou os limites da terapia e da meditação. O sexual wellness — ou “bem-estar sexual” —, ganhou um destaque significativo durante o período pandêmico.
Segundo dados do portal Mercado Erótico, entre março e maio de 2020, houve um aumento de 50% na venda de vibradores. O número, no entanto, é apenas a ponta do iceberg em relação ao
sexual wellness.
Engana-se quem pensa que o termo se refere apenas aos prazeres físicos. O bem-estar sexual tem uma forte — se não a mais importante — conexão psicológica e social. Afinal, há uma grande diferença entre sexualidade e sexo. A psicóloga e sexóloga Fernanda Bonato (CRP 08/10.734) explica que a sexualidade é integrada aos processos de saúde e, inclusive, isso é retratado como um direito humano na Organização Mundial da Saúde (OMS).
Isso gerou, aliás, a criação da Declaração dos Direitos Sexuais, em 1997, durante o XIII Congresso Mundial de Sexologia, aprovada, ainda, pela World Association for Sexual Health em Hong Kong, durante o XV Congresso Mundial de Sexologia.
Durante todo esse tempo, não falar abertamente sobre o assunto abriu portas para que muitas informações incorretas sobre o assunto fossem repassadas e diversos tipos de tabus fossem criados. “Precisamos pensar que a sexualidade é construída por algo holístico. O bem-estar sexual é algo do século XXI. Se isso fosse falado abertamente no passado, nós estaríamos na fogueira agora”, relata a psicóloga.
Diversas opiniões sobre o assunto foram criadas, reforçando a ideia de que isso não poderia ser conversado. “Onde a gente aprende sobre sexualidade? É com as amigas e os amigos, com séries televisivas que mostram algo irreal: dois corpos ficam nus e, em 20 segundos, chegam, juntos, ao orgasmo. Existe essa lacuna que impede que a gente viva a sexualidade de uma forma prazerosa”, comenta Fernanda.
As travas em relação à sexualidade não são algo de gerações passadas — muito pelo contrário — uma mulher de 20 e poucos anos pode ter seu bem-estar sexual prejudicado por conta desses padrões sociais. A publicitária Camila* conta o quanto sua relação com a sexualidade, hoje, é conturbada, por conta de opiniões externas e, consequentemente, internas.
A jovem de 26 anos virou adepta do Eu Escolhi Esperar, movimento que tem o objetivo de encorajar, fortalecer e orientar sobre a importância de viver uma vida sexualmente pura e emocionalmente saudável. No entanto, essa decisão veio anos após ela se envolver sexualmente com outras pessoas. “Eu era uma adolescente permissiva, mas, como eu morava em uma cidade pequena, as pessoas julgavam muito minhas ações. Quando eu vim morar em Curitiba, eu prometi que seria diferente: esse seria meu lar e onde criaria relações de verdade”, relata Camila.
A decisão de esperar veio após conversar com amizades que já faziam parte do movimento. Ainda, ela foi orientada em relação à escolha. “Elas, que já eram casadas, explicaram que o máximo de um relacionamento tem que ser o sexo, mas, se você entrega isso antes mesmo de ter um relacionamento, não há mais nada depois. Eu não sei se hoje eu concordo com isso, mas ,na época, fez sentido”, revela.
Camila conta que hoje vive em um meio termo e que a dúvida interna é constante, já que recebe influências de diversas pessoas, com visões distintas sobre o assunto. “Eu fico pensando no que as
pessoas vão pensar. Me questiono se estou no caminho certo e se isso me cabe. Eu não sei. Penso que, se eu desistir, da minha decisão agora, todo o meu esforço foi em vão. Não por conta da relação sexual, porque eu não sinto falta disso, mas por- que eu me permito menos”, expõe.
A influência do bem-estar sexual nas relações
Sexo em um relacionamento não é, nem de perto, a principal questão. No entanto, para Camila o fato de não estar aberta para relações sexuais influencia suas relações amorosas. “O que me impede de conhecer alguém é dizer à pessoa que eu não transo e privá-la disso. Ou, então, não contar e me afastar. Afinal, penso que essa foi uma escolha que eu fiz, não ela”, conta.
A psicóloga explica o quanto a sexualidade é importante para um casal. “Caso a frequência sexual do casal seja distinta, isso pode trazer problemas para o relacionamento. Isso pode causar disfunções sexuais e, inclusive, uma aversão à sexualidade”, explica a profissional.
Por fim, Fernanda opina que o autocuidado e o autoconhecimento — em casal ou não — podem melhorar com o tempo. “Eu penso que a sexualidade pode ser vivida com momentos e valores da sociedade. A gente teve uma mudança — falando mais abertamente sobre isso —, mas ainda está muito longe. Não posso dizer que estou contente, ainda há muito o que melhorar”, conclui.
Autocuidado íntimo é mais que uma tendência, é uma realidade
Pensando no bem-estar feminino, algumas marcas têm investido em produtos que trazem benefícios à sexualidade. Com essa proposta, a Pantynova traz soluções íntimas que não focam somente a lubrificação, mas produtos que tragam outros benefícios, também, como hidratação e até auxílio na regeneração do local. “Quando falamos de bem-estar sexual, estamos falando dos
benefícios de uma sexualidade bem trabalhada. Isso impacta nas áreas hormonais e emocionais e, claro, na autoestima”, afirma Izabela Starling, proprietária da Pantynova.