ESTILO

Uma tarde com Frida Kahlo

A Casa Azul, onde a pintora morou na Cidade do México, inclui um tour emocionante pela vida da artista, jardins inspiradores e peças originais

Em silêncio, todos andam devagar, leem as legendas de cada foto, relembram a história e se compadecem. O tour é feito sem alardes ou manifestações empolgadas, não há um pré-combinado, mas todos se portam de uma forma a respeitar a dor sofrida, a trajetória de vida, o legado.

Visitar a Casa Azul, onde a Frida Kahlo morou, assemelha-se a um tour na casa de Anne Frank, em Amsterdã. É claro que as histórias em nada são nem parecidas e os lugares são absolutamente diferentes. Mas estar onde tanto se sofreu, reler os relatos, observar os cômodos, andar por onde se tanto chorou, traz emoção parecida. Um respeito semelhante.

As surpresas da casa, localizada no elegante bairro Coyoacán na Cidade do México, começam já na entrada. A mansão imensa, com amplos e verdes jardins e muitos cômodos impressiona. Poucos esperam ver uma casa daquele tamanho, tão bem decorada e agradável, afinal é comum ligar os artistas a quartos escuros, simples e intimistas.

No primeiro espaço, obras da artista já contam parte da sua biografia. Natural, afinal sua história e quadros estão absolutamente ligadas e muitas vezes Frida pintou o seu próprio sofrer.

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Aliás, conhecer a vida sofrida de Frida Kahlo é requisito fundamental para se aproveitar bem a visita. A história da mulher forte que mantinha o otimismo mesmo depois de ter poliomielite, sofrer um grave acidente de ônibus com muitas sequelas mesmo depois de 30 cirurgias, uma amputação e as constantes decepções amorosas com o marido Diego Rivera, é contada em diferentes formas no acervo colocado na casa da artista.

A dor por não poder ser mãe, por exemplo, é quase um tema obsessivo, presente em vários quadros, pôsters na biblioteca e nos livros que ele lia compulsivamente.

Entre os espaços mais marcantes está o local em que Frida pintava seus quadros depois que passou a usar cadeira de rodas e coletes ortopédicos por causa do acidente sofrido. Na Casa Azul, além das muletas, cadeira e de tais coletes, é possível ver a mesa, cavaletes e as tintas usadas pela artista.

O quarto é outro espaço inesquecível. Aliás, os quartos. Há um, quase no meio da casa em que ela passou a dormir quando está muito convalescente. E o outro com suas coisas, cama e decoração bastante peculiar. Tudo está lá, exatamente como ela deixou.

E ainda tem as exposições no Museu. Uma delas é dos vestidos, coletes e acessórios da pintora, que estão entre os objetos da mostra. Vaidosa, Frida personalizava suas peças para esconder suas imperfeições e acabava ditando muitas tendências de moda na época.

Ao se despedir da linda casa de fachada azul e grandes janelas verdes de bordas vermelhas, a sensação é uma mistura de angústia por reviver com Frida suas muitas dores e também de prazer por ter estado por horas com uma mulher tão forte, marcante e de história inesquecível. Uma tarde para não se esquecer…

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