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Ucrânia e Paraná: conectados pela comoção popular de comunidades imensas

80% da população ucraniana no Brasil está localizada no Paraná – e a totalidade da comunidade sofre junto com os ataques contra a Ucrânia

11.474 km. É dessa distância que a comunidade ucraniana paranaense observa com angústia e incerteza os desdobramentos da invasão russa na Ucrânia. Decretado por Vladimir Putin, presidente da Rússia desde 2012, o ataque foi iniciado no leste do país nas primeiras horas do dia 24 de fevereiro de 2022.

“Recebemos a notícia [da invasão] com muita tristeza e bastante surpresa. Nós tínhamos uma certa esperança de que nenhum ataque acontecesse, mesmo com as tensões dos últimos dias”, conta Felipe Oresten, presidente da Sociedade Ucraniana do Brasil. 

Os próximos passos, apesar de incertos, já movimentam uma das maiores comunidades de ucranianos fora da Europa – são aproximadamente 600 mil descendentes no Brasil e 80% deste número está localizado no Paraná. O restante está dividido entre o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. 

“Nós estamos acompanhando e assimilando o que está acontecendo, vendo como tudo vai se desenhando nas próximas horas o cenário todo. Depois, entenderemos como podemos ajudar de forma humanitária e nos posicionar. Hoje a gente cobrou posicionamento do governo brasileiro. Eles não se posicionam, não falam sobre sanções”, afirma Felipe. 

Ucrânia & Brasil 

A história dos imigrantes ucranianos que vieram para o Brasil tem início bem antes da vinda deles à América do Sul. Wilson Maske, doutor em História pela UFPR e professor de História Contemporânea na PUCPR, faz o apanhado dos fatos a convite da TOPVIEW.

Com o fim da União Soviética, os países que compunham essa união se tornaram independentes e receberam amplo reconhecimento internacional. Alguns passaram a ter governos democráticos, outros não.  

A Rússia entrou numa grave crise econômica e não teve condição de influenciar as outras repúblicas. Mais ou menos perto do ano 1000, um estado, cuja capital foi Kiev, é fundado pelos vikings que foram pro leste europeu. Perto de 1250, houve uma invasão Mongol e destruiu esse estado.  

O povo se manteve ali durante 200 anos e, logo após, surgiram vários principados. Um deles foi Moscow – que passou a se chamar de Rússia no século 16. Existem discussões sobre a origem do povo ucraniano e a de Kiev – mas há uma parte dos ucranianos que não faz parte do “lado russo”. 

“Eles lideraram a reconstrução do estado ucraniano e fizeram parte disso só depois da Segunda Guerra Mundial. Os que vieram pro Brasil são desse grupo. Eles tem uma igreja católica para eles. Eles são os ucranianos”, pontua Wilson.

Os imigrantes ucranianos que vieram para o Brasil vieram do império áustro-húngaro. Por conta de um projeto de estado, começaram a se deslocar para o Paraná entre 1890 e 1910. 

A maior parte era de camponeses que não tinham terra. A cidade que mais recebeu imigrantes ucranianos no estado foi União da Vitória.

A comunidade

A grande frente da comunidade ucraniana no Brasil é a cultura. São 26 grupos folclóricos espalhados pelo país, que cultivam e perpetuam a música e a dança da Ucrânia. O grupo mais antigo tem 92 anos, de acordo com Felipe, presidente da sociedade.

Grupo Folclórico Ucraniano Poltava (Foto: Cido Marques/FCC)

“Nós pudemos dar continuidade à nossa cultura durante um tempo em que na Ucrânia isso não era permitido. Aqui era. Isso inclusive é algo que nos pega muito, desde 1991 nós víamos uma Ucrânia livre e independente que podia manter suas tradições e hoje vivemos é um retrocesso. Uma invasão cultural além de territorial. Isso nos fere muito enquanto povo. Nós temos sim uma história, nós temos uma língua própria e uma cultura própria. Não é pelas vertentes serem parecidas com a de outros povos que não temos uma história”, diz. 

Mesmo distante fisicamente, Felipe diz que a principal conexão com os ucranianos in-loco é a comoção.

“Acho que o principal apoio nesse momento é a comoção do próprio povo, além da busca e da divulgação de informação correta. Acho que a comoção do povo como ser humano é muito importante nesse momento. É preciso entender que o ato de invasão é um ato contra a humanidade, não contra um povo específico”, finaliza.

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