CULTURA ARTES

Trajetória da Regina Silveira no MON

Por Yasmin Taketani

Cercada por representações de armas e mísseis, Regina Silveira em nada lembra uma senhora de 75 anos e pouco mais de um metro e meio de altura. Durante a montagem de Crash, que abre nesta quarta (12) no Museu Oscar Niemeyer, a artista estava mais para “um tufão”, como um conhecido mútuo a definiu.

Tanto quanto suas obras, Regina se mostra decidida, inquieta e irônica logo nos primeiros minutos de conversa. “Se tem a ver com a banalização da violência? Isso é você que está interpretando”, provoca a artista plástica sobre uma das possíveis leituras de Crash.

Para a gaúcha radicada em São Paulo, não se pode fechar a interpretação: a característica da obra de arte é justamente ser aberta. “Se perguntar para aqueles montadores, acho que eles têm outras ideias. Mas arte é assim. Ainda bem.”

As mais de 20 obras que estarão na sala 3 do MON fazem um percurso histórico da carreira de Regina, considerada pioneira da multimídia e videoarte, e professora responsável pela formação de várias gerações de artistas contemporâneos. São quase quatro décadas de trabalho. Nesse sentido, é interessante observar como um vídeo de 1978 dialoga com uma obra de 2013: o primeiro é um registro do processo de serigrafia de uma arma, enquanto os dois blocos de acrílico também corporificam, através de cortes de laser, essa arma. A relação entre violência e poder se faz presente ainda em trabalhos que à primeira vista se distanciam dessa temática. Exemplo é instalação Amphibia, em vinil adesivo, que teve sua altura reduzida para se adequar ao espaço disponível.

“A escolha desse tema ficou completamente em cima das circunstâncias de hoje, muito mais pesadas em termos de política e manifestação”, explica a artista, que sempre considerou seu trabalho político, mas não no sentido retórico ou óbvio. “Ele sempre procurou uma ironia, um estado em que pudesse ser entendido de maneira mais poética e mais sutil.” Quando menciono uma sensação de angústia a partir da exposição, difícil de definir, Regina comenta que é essa a sua busca. “Você pode dizer o que for, mas não pode abdicar da poética. Senão você fica igual à mídia, né?”

Wild Book, 1997 - Pele de animal não identificado e serigrafia sobre feltro.
Wild Book, 1997 – Pele de animal não identificado e serigrafia sobre feltro.

Urbano efêmero
Outro ponto importante na obra da artista plástica é o interesse por múltiplos recursos de execução: de animações digitais a gravuras, dependendo do que solucionar melhor aquilo que deseja transmitir. O desafio é, então, o equilíbrio entre conteúdo e técnica. “Quero que o espectador perceba um conteúdo, uma imagem, algo que entendeu do trabalho, sem que fique muito perdido olhando como foi feito”, argumenta, se declarando rigorosa – herança de seu professor Iberê Camargo.

“É impressionante a energia que a Regina consegue colocar nos projetos”, comentou o quadrinista Guilherme Caldas, que foi seu aluno na ECA-USP e assistente no final dos anos 1990, e acompanhava a montagem de Crash. “Ela puxa a galera, planeja e direciona a equipe muito bem.” Seu processo criativo envolve um repertório extenso, atenção ao entorno e acaso, bem como disciplina para se aproximar da ideia até ela ficar parecida com o que se imaginou. “Você precisa se aproximar com o meio certo, o material certo, a imagem certa – tudo isso é trabalho de louco”, descreve. “É uma equação que tem que ser perfeita entre intenção, operação, técnica e resultado. Absorve completamente a sua mente.”

No último semestre 2013, alguns ônibus da rede de transporte de Curitiba amanheceram cobertos por bordados gigantes – eram impressões adesivadas de Regina Silveira. Essa intervenção representa a faceta que mais a empolga: obras efêmeras na cidade, que modificam nossa percepção. Atualmente, Regina desenvolve uma intervenção para a Bienal de Havana: estacionamentos fictícios vão abrigar carros, barcos, moscas e lacraias durante alguns dias, anonimamente, para então desaparecer.

SERVIÇO
Crash, de Regina Silveira
Abertura nesta quinta(12), às 19h. Entrada franca.
Em cartaz até 28 de junho de 2015.
No Museu Oscar Niemeyer: rua Marechal Hermes, 999, Centro Cívico. (41) 3350-4400.

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