ESTILO

Sem novos iPhones, evento revela Apple em transformação

Apple aposta em serviços digitais em busca de receita recorrente

Faltou a plateia efusiva e a emoção do ao vivo. Mas sobrou a linguagem objetiva e encantadoramente marqueteira dos anúncios que a Apple anualmente faz no mês de setembro. Claro, faltaram também os novos iPhones que só devem ser anunciados no próximo mês, em virtude de um atraso causado pela interrupção das cadeias de fornecimento industriais durante a pandemia.

O Apple Event 2020, realizado nesta terça (15), marcou de forma definitiva a mudança de rumo da empresa, sempre atenta ao compasso do mercado. Sob a liderança de Tim Cook, a companhia navegou ao longo dos últimos anos por mares turbulentos com maestria, prova de que o capitão está atento aos ventos do mercado.

LEIA TAMBÉM: Jornalista Carlos Aros estreia como colunista na TOPVIEW

A necessária transformação, na verdade, começou há alguns anos, quando serviços como Apple Music, Apple TV+ e Apple Arcade foram apresentados ao mercado. A confirmação da estratégia ficou clara neste ano com o anúncio do Apple Fitness, plataforma de exercícios que está integrada aos relógios inteligentes da empresa, os Apple Watches.

Apple Fitness+ (Foto: Reprodução)
Agora, há três modelos de Apple Watch disponíveis (Foto: Reprodução)

O Apple One reúne o streaming de música, Apple Music, o de vídeos, Apple TV Plus, e o serviço de armazenamento na nuvem em um único pacote, que pode ser assinado individualmente ou no plano familiar. Desta forma, o usuário se mantém conectado ao ecossistema da empresa, pagando mensalmente a assinatura, independentemente de usar ou não algum dos serviços. Recorrência é a palavra de ordem.  

O Apple One replica um modelo já conhecido no mercado e que na Amazon, por exemplo, se chama Prime. Converter o consumidor em assinante é uma forma de fidelizar e de garantir que a receita seja permanente. Quando mais gente, melhor. Porque isso não necessariamente significa aumento da demanda. Nem todos que pagam utilizam o tempo todo todos os serviços.

Apple One reúne diversos serviços em uma mesma conta. Na imagem, a diretora de serviços da Apple, Lori Malm (Foto: Reprodução)

Evidentemente a Apple não vai abandonar o hardware, ou seja, os iPhones, iPads e MacBooks, para viver das plataformas digitais. A empresa está se adaptando aos novos tempos e a uma nova forma de consumo para se manter relevante, mas é uma nova frente de negócios que se abre.

A explicação para essa mudança de rota passa, por exemplo, pelo aumento do tempo de vida útil dos smartphones. Antes a troca acontecia em intervalos de pouco mais de um ano. Agora, na média, as pessoas ficam com o mesmo aparelho mais de dois anos. É muito tempo para sustentar a dinâmica de lançamentos anuais de produtos (e vamos combinar que nem sempre as novidades empolgam, afinal é difícil surpreender sempre).

O sucesso desse formato de assinatura já foi comprovado em diferentes segmentos. A chave está na premissa de que o consumidor é quem manda. Ele dita as regras e define quando e como consumir um novo produto ou serviço. Logo, as assinaturas se tornaram a melhor forma de as empresas escolherem quanto e quando pagar pelo serviço ou produto. De preferência mensalmente e em parcelas pequenas, que não sejam percebidas no fim do mês pelo cliente.

A Apple entendeu essa dinâmica ao perceber o fenômeno que é a Apple Store, que gerou receita de U$ 519 bilhões em 2019. E agora trabalha para ganhar tração com os serviços por assinatura. Para isso, a empresa fundada por Steve Jobs conta com uma legião de fãs apaixonados e com uma capacidade única de aprimorar e tornar exclusivas iniciativas antes vistas no mercado.

 

Deixe um comentário