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Roteiro de vinícolas que merecem ser visitadas

por Juliana Reis, de São Joaquim (SC), fotos Roberto Bassi

No início dos anos 2000, terras altas  –  e frias  –  em Santa Catarina começaram a chamar a atenção de alguns empreendedores e da Epagri, órgão de pesquisa e extensão rural vinculado ao Governo de Santa Catarina. O motivo: desconfiava-se que naquela altitude haveria condições climáticas perfeitas para o plantio de uvas viníferas de alta qualidade.

A notícia atraiu uma legião de apaixonados por vinho querendo cultivar seus próprios vinhedos – o que de fato aconteceu. Em 2005, dezenas de vinícolas já se distribuíam por terras a mais de mil metros de altitude pelo Estado.

As primeiras safras, surpreendentemente boas, eram resultado da amplitude térmica, que vai de 2 oC a 24 oC  no mesmo dia, prolongando o ciclo de maturação das uvas e originando vinhos complexos e intensos. A maioria dessas vinícolas fica na Serra Catarinense – distante 400 km de Curitiba –, região de paisagens bucólicas, às vezes nevadas, de cânions e abismos profundos e visual extraordinário pontilhado por araucárias.

Muitas delas abrem as portas a visitantes para uma olhada nos vinhedos, explicação sobre processos de vinificação desde a colheita até o engarrafamento, e degustações com a possibilidade de comprar os produtos no final.

Há quem acredite que dentro de 15 anos a área estará definitivamente no seleto rol das melhores regiões produtoras de vinho do mundo. A TOP VIEW viajou por cinco dias de carro para desbravar essas terras, provar seus melhores vinhos e preparar um roteiro. Confira a seguir nossa seleção de vinícolas que valem a pena visitar.

Santo Emílio    

Na bela fazenda Quinta dos Montes, no alto e gelado município de Urupema, a 50 km de São Joaquim, o casal Rubens e Elizabeth Binotto Bazzo escolheu cultivar uvas para vinhos de alta qualidade como hobby. A brincadeira virou um negócio de 20 hectares plantados, originando vinhos tintos, rosés e brancos e de espumantes brut e moscatel que já conquistaram vários prêmios.

O vinho Leopoldo é a estrela da casa e sua safra 2007 já foi Medalha de Ouro no Concurso Mundial de Bruxelas-Brasil em 2009, uma das mais importantes competições de vinho do mundo.

O casal e seus dois filhos, Lais e Leonardo, é quem recebe os visitantes, que podem se hospedar na fazenda (R$ 100 por pessoa com café da manhã) ou simplesmente passar o dia (R$ 15), fazer a degustação (R$ 40 com tábua de frios) ou almoçar ou jantar (R$ 50/R$ 80 com/sem vinhos).

A primeira opção já vale pelas animadas conversas com a família ao redor da lareira de uma casa quente e aconchegante cujo telhado foi cuidadosamente construído em palha de santa fé por índios uruguaios. As noites na fazenda são ainda mais especiais quando a família faz costela em fogo de chão na churrasqueira instalada em meio a um bosque de araucárias.

SERVIÇO

Rodovia SC-438, km 55, Urupema
(49) 9135-6414
Visita sob agendamento. www. fazendaquintadosmontes.com.br

Monte Agudo  

Leônidas Ferraz, pediatra de Videira (SC), sempre nutriu uma paixão tão sincera pelos vinhos que resolveu investir na criação de sua própria vinícola em São Joaquim, a 1.200 metros de altitude, junto como o amigo Alceu Muller.

No dia 6 de janeiro de 2005 — Dia de Reis, como lembra a sommelière Carolina, filha de Leônidas — as uvas chegaram da França, e a primeira colheita aconteceu em 2008.

Em 2011, seu espumante Sinfonia Rosé Brut (cabernet sauvignon e merlot) foi escolhido o melhor do Brasil na Expovinis, um dos maiores eventos de vinhos do Brasil. Hoje, a Monte Agudo tem pouco mais de 6 hectares plantados.

Em uma bela casa de madeira com janelas panorâmicas, oferece almoços e jantares (R$ 125) e menu degustação harmonizado ao pôr do sol (R$ 55). O cardápio valoriza a comida serrana e campeira, é renovado mensalmente e oferece duas opções de entrada, pratos principais e sobremesas.

Carolina, que mora na vinícola, recebe os visitantes e também dirige a construção do bed and breakfast, que logo acolherá os clientes que desejam pernoitar perto do vinhedo.

SERVIÇO

Rodovia SC-438/114, km 69, São Joaquim
(49) 9985-1446
Visitas e degustação sob agendamento

Villaggio Bassetti

Em 2004, três irmãos curitibanos — Eduardo, Marco Aurélio e Cesar Pioli Bassetti — uniram-se para produzir vinhos, uma paixão incentivada pelo avô Juca Pioli, que trouxe o costume da Itália.

A 1.250 metros de altitude, em São Joaquim, plantaram mudas de merlot, cabernet sauvignon, pinot noir e sauvignon blanc. Na primeira safra, em 2008, as cabernet sauvignon renderam 520 garrafas do Primiero, um vinho produzido por meio do tradicional girolate — processo em que permanece em barricas de carvalho francês desde a fermentação até o amadurecimento, resultando em uma bebida particular, intensa e complexa.

Em seguida veio o Montepioli 2009, uma justa homenagem ao avô Juca, e, mais tarde, entre outros rótulos, o untuoso e especial Donna Enny, que passa também por barrica de carvalho francês.

O carismático Eduardo é quem apresenta os campos plantados e toda a área de vinificação — onde ainda é possível conhecer a famosa barrica do Primiero — terminando com a degustação (R$ 30), na qual conta a história de cada vinho.

SERVIÇO

Rodovia SC-438/114, km 64, São Joaquim
(49) 9182-8862
Terça a sábado das 9h às 12h e das 13h às 17h
www.villaggiobassetti.com.br

Villa Francioni     

O empresário Dilor de Freitas, de São Joaquim, era amante de vinhos e ergueu a Villa Francioni num terreno de 26 hectares já preparado para receber visitantes. Faleceu em 2004, três meses após o término da construção de sua vinícola e antes que as primeiras garrafas de vinho fossem produzidas.

À medida que se avança durante o tour, percebe-se outras paixões de Dilor. Tudo começa em um corredor com gravuras do artista catarinense Juarez Machado, que também assina alguns rótulos da marca.

Boa parte das paredes é construída com material de demolição e os vitrais vieram de igrejas e mosteiros mundo afora, assim como as peças de decoração. Do corredor com vista panorâmica para o vinhedo, passa-se a uma sala escura onde um vídeo é exibido até que cortinas automáticas são suspensas revelando a área de vinificação, engarrafamento e armazenamento.

Percebe-se que os processos de produção estão em níveis diferentes, permitindo que o fluxo gravitacional leve as uvas e os líquidos a cada etapa com mínima interferência humana.

A visita (R$ 30) termina na sala de degustação e o valor da entrada pode ser abatido na loja da vinícola. A Villa Francioni produz cerca de 250 mil garrafas por ano em 16 rótulos diferentes.

SERVIÇO

Rodovia SC-438/114, km 70, São Joaquim
(49) 3233-8200
Segunda a sexta das 10h às 15h30
Sábados e domingos das 10h às 16h30
Visita sob agendamento
www.villafrancioni.com.br

 Pericó      

Na localidade de Pericó, ainda em São Joaquim, a vinícola lançou seu primeiro vinho em 2007 e já acumulou 24 medalhas em diversos concursos e avaliações de especialistas.

Além de vinhos tintos, brancos e rosés, a propriedade do megaempresário catarinense Wandér Weege também produz espumantes e acaba de lançar o primeiro icewine do Brasil.

Trata-se de um vinho de sobremesa produzido a partir de uvas congeladas ainda na videira. Com ele, a Pericó entra no exclusivo mundo de produtores de icewine, que inclui apenas a Alemanha, Áustria e Canadá. A propriedade não está aberta à visitação.

 Achados do meio-oeste catarinense

Villaggio Grando  

A 50 quilômetros de Caçador, Villaggio Grando é por muitos considerada a mais bela das vinícolas de altitude do Estado. Em meio a colinas gramadas, parreiras e pinheiros, a casa para degustação (R$ 35 a R$ 50) tem vista deslumbrante.

A produção começou em 2000 após um amigo do proprietário Maurício Grando sugerir a vocação do local para a produção de uvas viníferas. Hoje, o vinhedo de 45 hectares origina 260 mil garrafas por ano de tintos, brancos e espumantes.

Seu Brut Rosé 2012 foi vencedor do Top 10 da Expovinis 2013 na categoria Espumantes Nacionais. Tem heliponto.

SERVIÇO

SC-451, km 56, Herciópolis, Água Doce
(49) 3561-7135
Segunda a sexta das 9h às 17h
Sábados sob agendamento
www.villaggiogrando.com.br

Vinícola Kranz   

A cerca de 60 quilômetros da Villaggio Grando, na cidade de Treze Tílias, de colonização austríaca, a vinícola pertence a Walter Kranz, filho de imigrantes que vieram no primeiro grupo de austríacos da região do Tirol, em 1942, para o Brasil. A visita já vale para conhecer a bela cidadezinha e suas construções típicas alpinas.

 SERVIÇO 

Rua dos Pioneiros, 220, Centro, Treze Tílias
(49) 3537-0833
Visitas de segunda a sábado das 8h às 11h30 e das 13h às 17h30
domingo das 9h às 12h. R$ 20
www.vinicolakranz.com.br

 ONDE COMPRAR

Casa do vinho
(49) 3233-0824
Rua Ismael Nunes, 7
Centro, São Joaquim
www.casadovinho.net

ONDE  FICAR
Rio do Rastro Eco Resort
(48) 4053-9330
Rodovia SC-390, km 402, Bom Jardim da Serra
Diárias a partir de R$ 570
www.riodorastro.com.br

ONDE COMER
Mensageiro da Montanha Restaurante e Café
(49) 9112-9858
Rodovia SC-390, km 402
Bom Jardim da Serra
Cafeteria: diariamente das 9h às 19h
Restaurante: sábados, domingos e feriados  das 11h30 às 14h30
www.mensageiroda
montanhacafe.com.br

O QUE FAZER
Tribo da Serra
(49) 9101-2451
Organiza trilhas, tirolesa e passeios off-road  — vários partindo do Rio do Rastro Eco Resort — para conhecer essa região de cânions com enormes declives, fazendas, colinas verdes, rios e até parque eólico, além de transfer para as vinícolas.

 

2 comentários em “Roteiro de vinícolas que merecem ser visitadas”

  1. Parabéns pelo post.

    Eu poderia indicar a Vinícola Enos, que produz vinhos de boutique e tem sede em Santa Catarina.

    São vinhos muito bons, com produção de apenas 1000 garrafas numeradas de cada rótulo e com produção nacional.

    Segue o site, para quem se interessar pelo assunto: https://www.vinhosdeboutique.com.br

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