ESTILO

Quando paisagem e arquitetura se encontram

Zanine Caldas une arquitetura sustentável a criatividade sem igual

Zanine Caldas, sem passar por estudos formais em engenharia ou arquitetura, foi reconhecido como arquiteto honoris causa em 1991 pelo IAB. Hábil artesão, iniciou sua carreira confeccionando mais de 700 maquetes para os principais escritórios modernistas brasileiros em meados do século passado. Trouxe para os seus projetos residenciais uma rusticidade e uma qualidade artesanal, não encontrada em projetos de seus pares contemporâneos. Um domínio técnico que acabou por moldar sua expressão e linguagem, baseadas numa ampla utilização da madeira, no reuso de materiais e elementos de obras em demolição e nas técnicas e formas vernaculares de seus volumes e telhados que emulavam a arquitetura colonial brasileira. Uma arquitetura carioca, despojada e sustentável avant la lettre, dependente e vinculada aos seus sítios de implantação, que tornou famosas as encostas da Joatinga. Boa fruição e leitura!

Cristina Alho é economista e foi designada pela família de Zanine Caldas consultora para a reedição do mobiliário desenhado pelo mestre nos anos 50. A partir de 2016, vêm realizando um contínuo e importante trabalho de reintrodução do mobiliário do arquiteto no cenário brasileiro e internacional.

Casa Cuca residencia projetada por Jose Zanine Caldas | Paira sobre o mar (Foto: divulgação)

“Sua experiência e curiosidade como desenhista e maquetista de grandes mestres do modernismo brasileiro fizeram Zanine Caldas um apaixonado pela arquitetura e consequentemente pelo mobiliário. No auge do modernismo brasileiro, esteve à frente da fábrica Móveis Artísticos Z, onde pode desenvolver móveis a baixo custo para a classe média, utilizando-se da industrialização em expansão no país. Aqui, já havia o conceito máximo do reaproveitamento da matéria-prima utilizada. Isso numa época em que quase não se falava de ecologia.” Arruda & Landim. 

Poltrona Chica (Foto: André Nazareth)

Os produtos idealizados por Zanine Caldas obtiveram, através do uso do compensado de araucária ou pinho recortado, boa qualidade e preços acessíveis, ampliando a faixa de consumidores da mobília moderna para além do que era usual no período. Ele desenhou todos os componentes dos móveis de forma a melhor ocupar a chapa de compensado. 

E hoje, em contraponto a esse pensamento, um móvel original dele está muito valorizado nas galerias de arte e design do mundo

Poltrona Zeca (Foto: divulgação)

“Eu acreditei no começo da industrialização brasileira, certo de que iríamos desfrutar mais suas conquistas. Por isso, embarquei no processo de industrialização e a promovi no âmbito do móvel, tornando-o mais acessível. Nessa época, o móvel era produzido artesanalmente e, com a industrialização, eu consegui baratear o custo.” 

Mesa Lateral Zé (Foto: divulgação)

Nessa época já havia uma preocupação dele pelo “não desperdício”, que permeou todos os seus trabalhos em toda a sua vida. 

No total, foram reeditados os móveis considerados na atualidade como ícones de estilo e design criados por José Zanine Caldas, o pioneiro no uso de madeira sustentável com personalidade e elegância genuínas. 

* Coluna originalmente escrita por Cristina Alho, convidada de Marcos Bertoldi, e publicada na edição #249 da revista TOPVIEW.

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