ESTILO

Porto Seguro: um outro olhar sobre o município baiano

Mergulhe na história e nas águas cristalinas, hospede-se numa vila de pescadores, desfrute da gastronomia mundial, visite uma tribo indígena e relaxe em acomodações de luxo rústico

Contrário à ideia redutiva mas persistente de agito juvenil, o que se encontra em Porto Seguro é riqueza de paisagens, humores, sabores, sorrisos e silêncios. O slogan oficial não mente: mais de 500 anos depois, ainda há muito que descobrir no município do sul da Bahia.

São pontos históricos onde se visita ou revisa a narrativa do país, aldeias indígenas que proporcionam uma olhadela em suas culturas, parques naturais acessíveis que aprendemos a reverenciar, restaurantes típicos na mesma quadra de um izakaya (tradicional boteco japonês), praias com todas as mordomias ou ermas, barracas de artesanato ou lojas refinadas, condomínios luxuosos ou casas de pescadores reformadas que figuram em revistas especializadas em arquitetura de interiores. “Nós, baianos, tentamos ser modestos mas não encontramos argumentos”, brincou Nizan Guanaes, um dos mais influentes publicitários do país, antes de falar a um grupo de empresários de turismo da região.

Para esse baiano bem viajado, que passa férias em Trancoso, não há melhor lugar turístico: “Pode ter destinos mais bonitos, águas mais claras. Mas o conjunto da experiência, a energia… Você sente”. É uma explicação para os tantos visitantes que resolveram ficar por ali, e que encontramos por todos os cantos. Pode-se fazer um paralelo entre a imagem que o destino pretende enfatizar com a mudança da célebre Passarela do Álcool, palco de uma feira noturna de artesanato, para o título de Passarela do Descobrimento. Porém, assim como os 500 moradores de Caraíva não querem saber de asfalto para chegar à comunidade, características que fazem desta uma cidade vibrante devem resistir.

Afinal, um dos “portos” é feito de coquetéis com nomes provocativos e anunciados por vendedoras irreverentes, velhos pescadores comercializando pingas com títulos que fazem o cliente enrubescer, aplausos à faxineira durante um festival de música erudita, nativos que incorporam o “farofeiro”, como brincou um taxista, porque os preços praticados nas praias sofrem do índice turista. Descubra a seguir um pouco da riqueza do local.

Praias

Taperapuan, na Orla Norte, é a mais badalada e onde há barracas com infraestrutura completa. Itacimirim, um pouco antes, já é mais tranquila e simples, frequentada pelos nativos.

Porto Seguro

A cidade histórica é realmente um museu a céu aberto, um passeio tranquilo por construções coloridas, lojas de artesanato, vista do mar. Os pontos de destaque são a Igreja de São Benedito (construída pelos jesuítas) e Nossa Senhora da Penha, e uma ex-prisão transformada em museu.

Próximo à Igreja de São Benedito, ao lado de uma enorme árvore, está o melhor acarajé provado pela reportagem – o Acarajé da Cris – e os destilados de nomes provocativos do ex-pescador Cheiroso.

Em 2000, a área foi reconhecida como Patrimônio Natural da Humanidade.

Parque Nacional do Pau-Brasil

O passeio, que a princípio não gerou grandes expectativas, se mostrou um dos mais emocionantes: encontrar uma árvore de 800 anos, bromélias que retêm até 200 litros de água, orquídeas de incontáveis formas e cores e um berçário de pau-brasil é extasiante. Fábio Faraco, chefe do parque de mais de 19 mil hectares de área protegida, repetia: “Só se conserva o que se conhece”. Além do trabalho de pesquisa, recuperação, preservação e combate ao desmatamento (o pau-brasil, por exemplo, rende altas cifras para a fabricação de arcos de violino), o parque busca aproximar o público com trilhas acessíveis, de percursos de 160 m a 2,6 km.

Pelos passeios é possível encontrar espécies de fauna e flora raríssimos, como a harpia (é um paraíso para birdwatchers; junho, período de floração, promete um festival de cores), e o próprio pau-brasil. No modelo de desenvolvimento sustentável, atua em parceria com a ONG Conservação Internacional na capacitação, venda de artesanato, reconhecimento e promoção de atividades culturais em comunidades indígenas vizinhas. O espaço está em processo de licitação de serviços e deve oferecer no segundo semestre lanchonetes, aluguel de bicicletas, camping, tirolesa etc.

Visitas devem ser agendadas, no momento, pelo parnadopaubrasil@gmail.com.

Reserva Indígena da Jaqueira

Na rua do Telégrafo, a 30 minutos do Centro e com acesso simples, a reserva mais conhecida da região tem no turismo sua principal atividade econômica, e recebe visitantes para passeios de três horas, um dia inteiro e até pernoite. A aldeia pataxó, fundada em 1997 para afirmar sua cultura, reúne 32 famílias. Ela é apresentada durante o tour, bem como antigas armadilhas usadas na caça e o peixe assado na folha de patioba. O ponto alto é o relato de Nitynawã, uma das fundadoras da aldeia, sobre sua própria história: a vida nômade depois da expulsão das terras, a pobreza e o preconceito, a negação da identidade até a estruturação da reserva, o reencontro e preservação da cultura.

Onde comer

Bistrô da Helô: abre para jantar de segunda-feira a sábado, com boa variedade de pratos (massas, carnes, peixes) ao preço médio de R$ 70. Prove a caipirinha de seriguela, fruta local pequenina e de paladar acessível. R. Marechal Deodoro, 172 (também conhecida como rua do Mangue).

Trancoso

O distrito de Trancoso guarda outros pontos de interesse turístico, como o Teatro L’Occitane, projetado pelo arquiteto François Valentiny e idealizado por um grupo de amigos apaixonados por música e pela região. Há dois palcos, incluindo um a céu aberto, com cerca de mil lugares cada. Anualmente, os espaços lotam durante o festival Música em Trancoso, que em 2017 trouxe grandes nomes da música erudita e outros gêneros para apresentações junto à Orquestra Acadêmica Mozarteum, formada por bolsistas e músicos profissionais. É emocionante ver a participação da comunidade local, que tem acesso aos ingressos a preços populares, lota e vibra com concertos de Bach, Vivaldi e Piazzolla.

Onde comer

Na Praia dos Coqueiros, almoce na Cabana Aconchego, que tem 25 anos de história, pé na praia e uma cozinheira disputada por hotéis e estrangeiros que passam a temporada na região. Prove o peixe na telha, assado com legumes, mas guarde espaço para a sobremesa (para dividir) de prestígio. Depois da refeição, sentar numa cadeira em frente ao mar ou deitar numa das redes no restaurante é quase obrigatório.

Onde ficar

O Uxuá Casa Hotel e Spa reúne casas tradicionais do Quadrado que foram repaginadas, ganhando conforto, atenção ao detalhe e elegância rústica, mas preservando características importantes dos imóveis e seus proprietários (que dão nome às construções). Cada uma tem cara e estrutura únicas, mas todas dialogam com a paisagem, cultura e história local. Para maio e julho de 2017, as tarifas começam em R$1.510 mais taxas (exceto feriados). uxua.com

Praia do Espelho

A estrada de acesso é ruim, somando 1h30 de viagem do centro de Porto Seguro, e é preciso acordar cedo para garantir a maré baixa. Mas compensa. Essa é considerada uma das praias mais bonitas do Brasil, tranquila, e onde se formam piscinas naturais. O nome se dá pelas águas cristalinas, que reflete o azul do céu.

Onde ficar: a Enseada do Espelho é charmosa, tem vista para o mar, bom atendimento e apartamentos até com deck privativo e hidromassagem. As tarifas começam em R$ 560.

Fasano

O projeto do complexo Fasano na Praia de Itapororoca, anunciado em abril, envolve um hotel assinado pelo arquiteto brasileiro Isay Weinfeld, com 40 bangalôs de 60 e 90 m2, beach club com restaurante, piscinas, spa, fitness center, entre outros; 23 vilas residenciais, de 262 m2 a 408 m2, de frente para o mar; e 19 estâncias em lotes de 3.564 m2 a mais de 8 mil m2, com serviços do hotel e quadra de tênis no terreno. A previsão de inauguração é para o primeiro semestre de 2019.

Três restaurantes em Trancoso, por Nizan Guanaes

O Cacau: restaurante que dá um toque contemporâneo às receitas tradicionais da Bahia, tem um deck agradável que é palco de casamentos e festas. Na Praça São João Batista, 96. (73) 3668-1266.

Maritaca: serve grelhados, massas, frutos do mar, risotos e pizza. Na R. do Telégrafo, 388. (73)3668-1702.

Barracas de praia: segundo o empresário, não tem erro: “Em qualquer barraca de praia você vai comer muito bem”. Os destaques são a moqueca de peixe ou frutos do mar e o bobó de camarão.

Arraial d’Ajuda

Conta-se que o distrito foi reduto de artistas fugindo da ditadura militar. Há muitas praias para se visitar, mais ou menos agitadas, e uma vida noturna cheia de atrações. A concentração se dá na rua do Mucugê, ponto de bares, restaurantes, música e lojas, com opções para todos os gostos. Vale a visita até a Igreja de Nossa Senhora d’Ajuda, que data da metade do século 16, com uma bela vista para o mar emoldurado por milhares de fitinhas do Bonfim. Há opções de passeio de quadriciclo e de bicicleta pelas praias. A do Mucugê, mais próxima ao centro, tem boa infraestrutura.

Onde ficar e comer

Saint Tropez: hotel quatro estrelas à beira da Praia do Parracho, com opções de suítes, chalés e apartamentos, tem restaurante de comida internacional e regional aberto ao público, drinques tradicionais e uma versão do popular “capeta”, mistura de guaraná em pó, vodca, canela, leite condensado. Diárias a partir de R$ 520 para casal, com café da manhã. saint-tropez.com.br

Arraial Eco Resort: possui píer privativo para cruzar o rio Buranhém, com balsa gratuita para hóspedes (atende apenas pedestres). A estrutura inclui spa, ótimo restaurante, praia quase privativa, piscinas em frente ao mar e parque aquático na região à disposição dos hóspedes. arraialresort.com

Diárias a partir de R$ 700, em suítes com até 115 m2 e vista (da cama) para o mar.

Caraíva

O destino ainda é divulgado como “alternativo”, por ser uma vila com infraestrutura básica, mas já dá sinais de conquistar um público fiel. Fundado em 1537, é o mais antigo vilarejo do Brasil, Patrimônio da Humanidade da Unesco, e área de proteção ambiental. Deixa-se o carro num estacionamento (R$ 15 a diária) e atravessa-se o rio Caraíva de barco (R$ 10 ida e volta por pessoa; saídas a cada 10 minutos).

Não há postes de luz e o transporte interno é por carroças com dizeres divertidos. “Caraíva não tem mais baixa temporada”, diz Pará, nativo dono de um restaurante que leva seu nome. Segundo ele, o turismo se intensificou há cerca de 10 anos, com a chegada de energia elétrica e comodidades como água quente e ar-condicionado. “Foi importante para receber o turista com mais qualidade”, explica. Uma pracinha, casinhas simpáticas, restaurantes e ateliês de artistas compõem a paisagem. O encontro de mar e rio é um belo espetáculo.

Onde comer

No Boteco do Pará, no Ponto do Mentiroso (em referência à expressão “história de pescador”), os produtos são fresquíssimos, pescados logo ao lado pelo proprietário. O pastel de arraia (R$ 9) é o carro-chefe. Destaque também para o peixe na telha (R$ 165) e a moqueca de peixe e camarão (R$ 118). De terça-feira a domingo, das 11h às 19h.

Onde ficar

Cores do Mar: trabalha a simplicidade a seu favor, oferecendo bangalôs, chalés e apartamentos do lado do mar. pousadacoresdomarcaraiva.com.br

Casa da Praia: a pousada está instalada em Caraíva há mais de 20 anos. Oferece café da manhã à beira do mar, possui restaurante próprio, piscina e oferece aulas de ioga. Suítes a partir de R$ 570. casasdapraiacaraiva.com.br

Pousada da Barra: localizada bem no encontro entre rio e mar, possui apartamentos e chalés bem sombreados por coqueirais, piscina, atividades esportivas e serviço de spa. Diárias a partir de R$ 385. caraiva.com

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