ESTILO

Para os amantes da arquitetura

por Juliana Reis  

PARIS

 

Vocação para ousar
por Elaine Zanon


Já era de se imaginar que Paris não teria vocação para viver somente à custa do passado – impresso em suas fachadas e monumentos centenários – quando a Torre Eiffel apontou no horizonte da capital francesa em plena era industrial (1889). A ousadia do projeto – que na época era uma proeza tecnológica – chocou os parisienses.  Mais tarde eles se acostumaram a viver em uma cidade que, sem medo de ser feliz, acolhe novos monumentos enquanto investe na preservação de construções históricas.  E daí nascem ousadias como a pirâmide do Louvre, o Centre George Pompidou, o futurista bairro de La Defense… Todos grandes cartões-postais parisienses.

Mas não é só isso: para ir além, a prefeitura oferece até um mapa para amantes da arquitetura. Nele, figuram obras e edificações contemporâneas ou não, além de explicações detalhadas sobre a arquitetura de diversos bairros, ruas, galerias e muito mais. “Paris merece ser revisitada sempre. Pela história e pela arquitetura mágica”, diz Elaine Zanon.

 

ISTAMBUL

 

Horizonte pontiagudo
por Renata Pisani


Istambul pede uma breve aula de história para ter seu horizonte – dominado tanto por minaretes quanto por arranha-céus – compreendido.  Na Antiguidade foi Bizâncio, o centro do Império Romano do Oriente. Depois, chamada de Constantinopla, foi tomada pelos turcos otomanos em 1453, fato que oficializou o fim da Idade Média.  Hoje um tanto caótica, pulsa com 10 milhões de habitantes afastando a impressão de uma Turquia atrasada, o que seria puro preconceito. Equilibra-se entre dois continentes: Ásia e Europa, separados pelo Estreito de Bósforo e é como se fosse um livro aberto de história, outro de geografia.

Em sua arquitetura – além do presente e do passado, do exótico e do moderno – mora a herança de seus dois impérios: o otomano e o bizantino. O primeiro figura em minaretes e caligrafia islâmica. O segundo está em mosaicos e domos coloridos. “É a arquitetura de duas cidades onde tudo começou”, diz Renata Pisani.

 

TEL AVIV

 

Bauhaus no Oriente Médio
por André Largura e Giovana Kimak

Entre os anos 1920 e 1940 Tel Aviv era uma cidade jovem prosperando em meio a mudanças econômicas, sociais, culturais e geográficas. Foi então que em 1930 arquitetos judeus europeus fugindo do regime nazista chegaram trazendo a linguagem simples e as formas puras do estilo Bauhaus, inventado na Alemanha. Esses homens não poderiam imaginar que sua escolha tornaria Tel Aviv não só o maior museu Bauhaus ao ar-livre como também Patrimônio Mundial nomeado pela UNESCO. Adaptado a Tel Aviv, o Bauhaus originou um estilo típico israelense próprio para o clima quente mediterrâneo e para o ambiente turbulento da cidade. 

Os prédios simples, brancos e quadrados buscam uma beleza austera e jogam com formas geométricas.  “Tel Aviv é moderna e secular ao mesmo tempo. Reúne a maior concentração do mundo de prédios em estilo Bauhaus”, diz André Largura. “Traz ainda um sincretismo com as tradições e necessidades dos novos habitantes fazendo surgir assim uma arquitetura singular”, acrescenta Giovana Kimak. 

 

LONDRES

 

Universo ultramoderno
por Ivan Wodzinsky

O Parlamento, o Palácio de Buckingham, o relógio Big Ben… Londres é terra de edificações carregadas de bagagem histórica, certo? Não. O rio Tâmisa corta uma paisagem urbana de contrastes verdadeiramente ousados onde antigo e tradicional intercalam-se com edificações ultramodernas. Seria pouco citar exemplos deste milênio como o City Hall – a inusitada prefeitura de metal e vidro assinada pelo conceituado arquiteto britânico Norman Foster e sua equipe – ao lado da Tower Bridge, a ponte de linhas neogóticas de 1894. “São várias épocas unidas numa cidade só”, diz o arquiteto Ivan Wodzinsky. Com uma lista quase infindável de caprichos arquitetônicos por todos os lados, a metrópole vira a cabeça dos apaixonados pela arquitetura. Da colossal roda-gigante London Eye – inicialmente uma estrutura temporária e hoje definitiva no skyline da cidade – se tem uma boa ideia do que Londres significa.

 

CHICAGO

 

Fênix americana
por Silvia Franzoni

No dia 10 de outubro de 1871, a chuva finalmente caiu sobre uma incandescente Chicago dando fim ao grande incêndio que, iniciado dois dias antes, destruíra a cidade. Não chovia há meses no estado de Illinois quando o fogo, cujo início é um mistério, assolou quase oito quilômetros de comprimento por um quilômetro de largura, consumiu prédio após prédio, atravessou o rio, queimou cerca de 18 mil casas e devorou o comércio. Começou a ser reerguida meses depois dando significado à lenda da fênix que renasce das cinzas.

A reconstrução foi dando forma à cidade de prédios altos com estrutura de aço laminado e vidro que reconhecemos, por exemplo, nas peripécias de Ferris Bueller no filme Curtindo a Vida Adoidado. Hoje, Chicago se divide entre as águas do gigantesco lago Michigan e os igualmente superlativos arranha-céus.  “Além de referência mundial na arquitetura com arrojados projetos arquitetônicos, possui praças e parques com inúmeras esculturas e obras de arte públicas”, diz Silvia Franzoni. Também é destino certeiro para quem gosta de música e de boa comida. 

 

ANTIGUA

 

Joia colonial
por Wilson Pinto

Ex-capital da Guatemala – a sede do governo foi passada para a Ciudad de Guatemala após um devastador terremoto em 1773 –, Antigua é conhecida como uma joia da arte colonial e declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO. Fundada há mais de 500 anos e originalmente chamada de Ciudad de Santiago de los Caballeros de Guatemala, fica às margens do lago Altitlán e cercada por três vulcões chamados Água, Fogo e Acatenango, conserva séculos de história com marcas fortes do colonizador espanhol.

As seculares casas coloridas que foram construídas para abrigar numerosas e ricas famílias espanholas e as igrejas e conventos que acolheram ordens religiosas continuam lá. Alguns exemplares restaurados, outros em ruínas. Mesmo assim, a beleza exótica e colonial não desapareceu. É como um livro de história. “Antigua é um espaço de miscigenação dos espanhóis com os maias, uma explosão de cores e efeitos interessantes”, diz Wilson Pinto.

 

XANGAI

 

China ocidental
por Maylin Lin

Uma China de face ocidental. Assim é Xangai, metrópole de 20 milhões de habitantes, onde se misturam as culturas oriental e ocidental tanto do passado quanto do presente. Ao longo do rio Huangpu, estruturas antigas convivem com a geometria dos novos edifícios ultramodernos (mas nem sempre de bom gosto). Xangai foi o motor do país nas décadas de 1920 e 1930 e teve uma intensa relação com o Reino Unido até a chegada do comunismo em 1949 – o que colocou fim à ascensão da chamada “Paris do Oriente”.

A partir dos anos 90, voltou a demonstrar ímpeto e agora faz companhia a Hong Kong como gigante econômica. Símbolo da antiga Xangai, o Bund – área onde os estrangeiros estabeleceram missões comerciais e construíram edifícios art déco e em estilo francês – já foi a Wall Street da cidade. “Xangai é curiosa e instigante”, diz Maylin Lin.

 

CINGAPURA

 

Exuberância high-tech
por Francis Meister

Esta cidade-estado insular no sudoeste asiático, localizada entre a Malásia e a Indonésia, não tem nada do trânsito caótico, da pobreza e a desorganização comum de seus vizinhos, apesar de densamente povoada. Cingapura é um foco de prosperidade. De primeira percebe-se que é um tigre asiático high-tech com espigões que não deixam a desejar em nada aos de cidades como Nova York ou Tóquio.

Às vezes, a impressão é de que são vários países em um: pelas ruas arborizadas, extremamente limpas e no transporte público eficiente, pacificamente a população composta de chineses, malaios, indianos e ocidentais expatriados que vivem no país a trabalho se encontra. Templos budistas e hindus erguidos em bairros temáticos como Chinatown e Little India também fazem parte desse mosaico que é Cingapura. “Há vários lugares suntuosos que deslumbram nosso olhar, principalmente em Arquitetura Moderna”, diz Francis Meister, que elegeu o edifício da Escola de Artes de Cingapura, como uma de suas melhores lembranças de lá. 

 

BRASÍLIA

 

Sonho no Planalto Central
por Jaime Lerner

Monumentos, palácios e esculturas espalhados por largas avenidas, longas quadras e extensos gramados marcam o visual dessa cidade com jeito de maquete no Planalto Central. Brasília já era assunto desde que o Brasil era colônia. Em 1761, o Marquês de Pombal, então primeiro-ministro de Portugal, já propunha mudar a capital do império português para o interior do Brasil Colônia. No século seguinte foi o sonho premonitório do padre italiano João Bosco que revelou uma terra de riquezas e prosperidade situada próxima a um lago e entre os paralelos 15 e 20 do Hemisfério Sul.  Posteriormente canonizado, Dom Bosco se tornou o padroeiro de Brasília porque “se desejou” acreditar que o sonho teria revelado o nascimento da futura capital brasileira. O que importa é que Brasília veio como uma joia construída pelos gênios Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. O destino brasileiro obrigatório para os amantes da arquitetura foi a escolha de Jaime Lerner. “Não dá para deixar o ídolo Oscar Niemeyer de fora.”

 

Matéria originalmente publicada na edição impressa de setembro de 2013

 

 

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