O turismo a ser conhecido
Lembrar suas últimas férias, a sensação de entrar em um carro, sentar-se em uma poltrona de avião ou sentir o balançar do mar em um navio e ter a certeza de que a jornada será incrível – mas saber que chegar ao destino e encontrar algo novo será melhor ainda. E mais: lembrar a sensação de liberdade que uma viagem – qualquer que seja – desperta.
Todos essas memórias são propositais: enquanto os efeitos do novo coronavírus ainda afetam a indústria do turismo, as lembranças das viagens passadas ajudam a ansiar pelas futuras. Esses impactos já foram contabilizados. De acordo com dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgados em agosto, o setor do turismo brasileiro teve um prejuízo de R$ 153,8 bilhões entre março e julho de 2020.
No âmbito internacional, a Organização Mundial do Turismo (OMT) calcula que o fluxo de turistas internacionais poderá ter uma queda de 60% a 80% em 2020. O órgão também indica que a receita do turismo mundial deve diminuir entre 20% e 30%.
Apesar do cenário não parecer promissor, a retomada da indústria do turismo também já está sendo pesquisada. Em entrevista ao quadro Painel Atualidade, da GaúchaZH, Guilherme Paulus, sócio-fundador da agência de viagens CVC, aponta que a recuperação do setor é certa: “O turismo tem essa capacidade única de se reerguer, porque gera emprego por onde passa. Movimenta setores da economia.”
Outro ponto abordado por Paulus na entrevista diz respeito a viagens curtas, mais locais. Segundo ele, “a retomada [do turismo] vai ser [feita] com os automóveis, com seu próprio veículo, porque você ganha mais confiança, e em distâncias mais curtas, na faixa de 100 a 500 km.
O turismo local
Antes mesmo de ser uma peça-chave na retomada da indústria no pós-pandemia, o turismo local já era tendência. No artigo O Desenvolvimento do Turismo Local: A Importância da Informação como Fator de Potencialização Turística, de 2006, a bacharel em Turismo Liliane Alves Carmo já apontava: “essa tendência reflete a atual expansão de formas alternativas do turismo com base local e exploração de atividades ligadas às tradições dos lugares.”
De acordo com o pesquisador Sérgio Buarque, no livro Metodologia de Planejamento do Desenvolvimento Local e Municipal Sustentável, “o turismo voltado para o desenvolvimento local é definido como uma viagem de lazer e entretenimento que objetiva a melhoria da qualidade de vida da localidade turística, com respeito ao meio ambiente e que proporcione trabalho e renda para a população residente.”
Essas viagens de lazer e entretenimento que potencializam o desenvolvimento local foram apontadas como tendência no final de 2019, de acordo com a pós-doutora e professora do curso de Turismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Thays Domareski Ruiz: “as pesquisas acabaram mostrando que as microviagens estavam cada vez mais variadas e personalizadas. Como nicho de mercado, agências e operadoras de viagens começaram a perceber esse aumento. Há um dado do Booking.com [site de venda de viagens], do final de 2019, que aponta que 67% dos brasileiros pretendiam viajar cada vez mais no final de semana.”
Atualmente, por conta da pandemia, a tendência do turismo local está sendo explorada para fomentar a economia regional. “Nesse momento, com a retomada gradual das atividades, essa prática poderá ajudar economicamente os destinos que vivem e dependem dessa cadeia produtiva”, afirma Ruiz.
São diversas iniciativas de fomento ao turismo local circulando pelas redes sociais. Uma delas partiu de uma marca de cerveja mexicana. Nomeado Redescubra o Paraíso, o projeto tem como objetivo gerar receita para pousadas e hotéis brasileiros localizados próximo à natureza, por meio da disponibilização de cinco mil diárias de cortesia, oferecidas para cada consumidor que adquirir um voucher dentro do site da iniciativa. A marca também tem como meta, por meio do projeto, proporcionar aos clientes uma reconexão com a natureza.
O Ministério do Turismo brasileiro, em um esforço para fomentar a economia local e gerar lucro para a indústria de viagens, apresentou o selo Turismo Responsável – Limpo e Seguro. Essa medida tem como objetivo auxiliar os turistas que, na retomada das viagens, procurem por estabelecimentos que assegurem o cumprimento de protocolos de higiene e limpeza para prevenção da Covid-19.
“Nesse momento, com a retomada gradual das atividades, essa prática poderá ajudar economicamente os destinos que vivem e dependem dessa cadeia produtiva.” – Thays Domareski Ruiz
A região Sul
No sul do país, o fomento do turismo local está fortemente associado à natureza. Os parques nacionais de Aparados da Serra e Serra Geral, localizados na divisa entre os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, e o de Foz do Iguaçu, no Paraná, foram reabertos, adotando medidas de segurança.
Em Aparados da Serra e Serra Geral, o número de visitantes foi reduzido para 40% da capacidade de público. No parque paranaense, onde estão as Cataratas do Iguaçu, as visitações ocorrem de terça-feira a domingo, das 9h às 16h. Todos os dias, o local passa por um processo de sanitização para oferecer mais proteção aos viajantes.
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Os novos movimentos – terceira parte da matéria principal
*Matéria originalmente publicada na edição #239 da revista TOPVIEW.