O olhar sutil sobre as paisagens
O artista visual, Willian Santos iniciou sua trajetória em 2007 com a investigação e a manufatura em torno da pintura. Atualmente, trabalha na confecção de um livro sobre a sua obra. É representado pela SOMA Galeria.
Seu trabalho, em uma primeira visada, diz respeito à paisagem. A representação da natureza é um dos temas fundadores da arte, sempre revisitado, por meio de incontáveis novas linguagens ao longo da história.
O meu primeiro encontro com o seu trabalho ocorreu em 2015, em um site-specific muito vigoroso e de grandes proporções na Galeria Casa da Imagem, em Curitiba.
Um trabalho furioso e gestual, tributário do seu trabalho anterior de artista urbano, em cores fauvistas, ainda que extraídas da natureza. Uma natureza indomada e selvagem, representada por um fluxo de pinceladas expressionistas e colossais, derivadas da action-painting, que deixavam entrever através de uma pequena fenda, mais ou menos central à obra, uma paisagem idílica surpreendentemente representada de forma acadêmica. A obra inclui, ainda, pedras naturais no seu entorno, em clara apropriação de elementos extra-artísticos, posteriormente incorporados às superfícies pictóricas dos seus trabalhos mais recentes.
Ao final, Willian Santos com a sua obra, nos fala menos da paisagem do que das suas formas de representação ao longo dos tempos, parecendo mais interessado na história da arte e suas linguagens do que na paisagem per se. Um belo trabalho a ser apreciado. Boa fruição!
Lapidado pela historicidade, motivado pelo agora, a obra é uma percepção do contemporâneo conduzida por um entrecho fundado da arte, da filosofia, do autoconhecimento e do nosso entorno natural. Tendo os aspectos de natureza como condutores para manifestar as outras três evidências.
Destes princípios ou propósitos, procuro criar uma situação que permita ao espectador investigar esses vestígios, nos gestos, guardo um segredo porvir numa indagação presente. No processo, existe a intenção de fortalecer suas evidências pelos sentidos. É na ação de descobrir ou desmistificar esses índices que a obra se manifesta, onde os assuntos o encontram, em um dilatado campo para diferentes percepções, do público especializado em arte ou não.
Nos trabalhos recentes, tenho manuseado com os elementos naturais em si, como rochas, liquens, terra, sementes, animalia e a encáustica (uma composição de cera de abelha, pigmento e diluente), processo que se soma com a prática em tinta acrílica, spray e óleo. Existindo um percurso, do amálgama entre os materiais e as próprias imagens representadas que geram resíduos no studio, fragmentos que venho colecionando, partes de outras obras. Refundo a encáustica, as tintas secas descoladas das palhetas, a casca solta de uma árvore recolhida durante o caminhar entre uma pintura e outra.
“São nas relações cotidianas fora do studio que vivenciamos o exórdio do processo, é a partir de como agimos neste que parte da obra e da nossa essência se constroem, neste mesmo lugar onde depois a devolvemos. Entremente, tudo se transforma quando se inicia o trabalho no studio, pois nele eu também tenho a liberdade de expressar os meus atos contidos fora dele.” – Willian Santos.
* Coluna originalmente escrita por Willian Santos, convidado de Marcos Bertoldi, e publicada na edição #247 da revista TOPVIEW.