ESTILO

O diretor financeiro que se tornou cervejeiro

Raul Schuchovsky Neto transformou os fundos da Ademilar em QG de sua cerveja artesanal

Alguns trabalham fazendo o que amam. Outros cultivam suas paixões nos fins de semana. Raul Schuchovsky Neto levou seu hobby para dentro do trabalho.

“Sou um pouco viciado no assunto”, reconheceu o diretor financeiro da Ademilar, empresa de consórcio de imóveis, num fim de tarde. É nesse horário, após o expediente, que ele costuma se dedicar à produção de cerveja artesanal – o “assunto” –, nos fundos da administradora. O local escolhido soa pouco ortodoxo, mas os funcionários que circulam por ali mal estranham esse pequeno oásis.

Aos 34 anos recém-completados, Raul é um tipo dinâmico e atento à aparência: cabelo impecavelmente penteado para trás, camisa xadrez e jeans slim fit, tênis marrom combinando com o cinto. O esmero é visível também nas cervejas: sua FrohenFeld Craft Brewery já tem logomarca estampando copos e garrafas; página no Facebook e perfil no Instagram; prêmio no Encontro Nacional dos Cervejeiros Artesanais em Curitiba, três anos atrás.

Novos equipamentos, que devem praticamente triplicar sua produção, chegaram há pouco, dando ares de laboratório ao espaço gourmet da empresa. Para um hobby, este é bastante profissional.

A primeira gelada

FrohenFeld, na tradução do mestre cervejeiro, é “Campo Alegre” em alemão. O nome é homenagem à cidade na Serra Catarinense onde seu avô paterno viveu. Ele não chegou a experimentar sua cerveja, já que, além de ser mais do time do uísque, a primeira leva estreou somente em novembro de 2010 – e sem muito sucesso. “Foi horrível”, lembra, rindo, o cervejeiro. “Mas bebi inteira. É filho teu, né, não tem como não gostar.”

O orgulho atual contrasta com o (pouco) interesse que Raul demonstrava pelo assunto. Foi somente em 2001, por causa de uma brincadeira, que a situação se inverteu. Durante um mês na Alemanha, ele se propôs a tomar uma cerveja diferente por dia, regra que seguiu à risca.

O problema foi dar continuidade, no Brasil, ao gosto adquirido. A diferença de qualidade era evidente e, quando se animou a fazer sua própria artesanal, esbarrou na falta de informação, cursos e materiais. Quase dez anos depois, o diretor financeiro foi a fundo no tema, estudando por conta própria e arriscando sua primeira gelada.

Família e amigos incentivaram (e até beberam). Pelo visto, valeu a pena. No encontro com a Top View, o cervejeiro serviu duas criações suas: uma pensada para o verão, mais leve, com 4% de graduação alcoólica, de lúpulo americano e aroma mais frutado; e outra escura, no estilo inglês, maturada em madeira brasileira (umburana, utilizada na produção de cachaça), com aroma de café, defumada, amadeirada.

Vender ou não vender?

Partiu de seu pai, presidente do conselho da Ademilar, a ideia de usar o espaço nos fundos da administradora. Ali, Raul já preparou cerca de 60 bateladas (expressão equivalente a “fornada”), cada uma com 50 litros, e 20 tipos de cerveja – tudo feito à mão. Oito horas de trabalho, mais 30 a 70 dias para fermentação e maturação – esse é o tempo que ele leva para finalizar uma cerveja, que cria segundo o próprio gosto. Aqui, o fato de não ser comercializada é uma vantagem.

E qual é sua favorita? “É uma pergunta muito parecida com ‘qual o seu prato favorito’”, pondera. “Depende do dia. Às vezes é um aroma mais cítrico, mais encorpado, mais maltado ou bem levinha.”

Desde 2013, ele integra uma confraria, a Überraschungsei (“ovo surpresa” em alemão). Mensalmente, cerca de oito homens se reúnem para estudar cerveja. Isso inclui bebê-las, claro, mas o grupo encara a análise com seriedade: servem rótulos especiais para degustar e discutir aroma, intensidade, sabor. “Só se aprende bebendo”, resume Raul. Enfim, o assunto transbordou para todos os cantos, e o interesse por fermentação rendeu inclusive pães…

A área a dois passos do diretor financeiro acolhe bem a FrohenFeld, mas o cervejeiro precisaria fazer adaptações para que a marca pudesse ser comercializada. Entrar para o mercado das artesanais, no entanto, não está em seus planos. “Hoje, não seria viável”, explica, referindo-se à falta de tempo e, principalmente, à alta carga tributária brasileira. Mas talvez ele já esteja nessa rota.

À medida que se avança num assunto, a tendência é ficar mais ambicioso, buscar novos desafios. Raul Schuchovsky Neto quer aumentar a produção: a meta de 2017 é fazer mil litros em outra cervejaria, podendo assim colocar a FrohenFeld à prova do consumidor. Aguarde.

 

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