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Sabores birmaneses: um diário gastronômico e afetivo do cotidiano único de Myanmar

Veja o melhor da gastronomia de Myanmar, país do sudeste asiático ainda pouco explorado pelas rotas turísticas

Voltamos no tempo. Estamos no Lago Inle, localizado no leste do Myanmar, país que ficou mais de 50 anos sob um governo fechado e que abriu suas portas para o mundo apenas nos anos 2010. Hoje, é um dos mais autênticos da Ásia, em profunda transformação e com uma riqueza cultural imensurável. Nessa região, há mais de 100 vilarejos, sendo 40 deles literalmente sobre a água.

A maioria da população sobrevive da agricultura, totalmente adaptada ao ambiente: os chamados jardins flutuantes, que são plantações sobre o lago, rendem em média três colheitas por ano.

O melhor da gastronomia de Myanmar

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Aula de gastronomia birmanesa. (Foto: Paola Gulin.)

Para que todos possam fazer suas compras semanais, o mercado é itinerante. Logo pela manhã, saímos com Mrs. May para fazer compras para o nosso almoço. Dezenas de barraquinhas vendem os mais diversos e coloridos temperos, vegetais, frutas, peixes frescos, carnes e chás. Os comerciantes, com uma facilidade invejável em sentar de cócoras ou com as pernas cruzadas, pesam os ingredientes com balanças que parecem da Idade Média. O mercado é também um ambiente social, no qual eles têm a oportunidade de tomar chá e confraternizar.

Mulher myanmarense saindo do mercado em seu pequeno barco. (Foto: Paola Gulin.)

Para começarmos a colocar a mão na massa na casa de Mrs. May, não há alternativa senão ir de barco: o vilarejo Ba Yar Gyi, com cerca de 150 habitantes, fica sobre a água. O ingrediente principal, que não falta em nenhuma refeição birmanesa, é o arroz. Seja em grãos ou em noodles, ele está na mesa pelo menos três vezes ao dia. A base para começar a cozinhar a maioria dos pratos é praticamente a mesma: óleo, gengibre e (muito!) alho. No entanto, os birmaneses são considerados comedidos ao adicionar chilli às preparações.

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Pescador no Inle Lake, localizado no leste do Myanmar. (Foto: Paola Gulin.)

Para abrir o apetite, começamos com um tempura feito com legumes e um pouco de carne de porco. Cada refeição é um banquete e o primeiro passo é escolher o curry: o tempero especial dá todo o gosto ao peixe pescado pela manhã. A abundância está nos acompanhamentos: a salada de tomate verde – colhido por ali – leva cebola, alho frito, coentro, farofa de amendoim, limão, sal e azeite.

Os pratos típicos do Myanmar. Foto: Paola Gulin.

As folhas de chá não são só para fazer a bebida: preparadas de forma especial, são protagonistas na salada. A berinjela assada, preferencialmente direto no carvão, é um dos acompanhamentos mais saborosos. Isso que ainda nem falamos sobre a sopa, normalmente feita de lentilha ou feijão.

Os legumes refogados com alho (de novo!), gengibre e cebola não poderiam faltar, assim como o chá verde, que é a bebida que os acompanha durante todo o dia. Voilà! Ao sentarmos à mesa, nos deparamos com uma combinação de texturas, ingredientes, temperos e sabores.

A chegada a para a aula de culinária. Foto: Paola Gulin.

Mas, muito maior que esse deleite gastronômico, é a alegria em compartilhar a refeição, tantas diferenças, semelhanças e aprendizados com a bondade, a coragem e a história de vida de Mrs. May e sua família. Para lembrar para sempre!

Para mais informações sobre o roteiro em grupo para o Myanmar da NomadRoots, que acontecerá de 31 de outubro a 10 de novembro, acesse o site.

*Coluna publicada originalmente na edição 226 especial Gastronomia

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