MOSTRA ARTEFACTO CURITIBA: ENTREVISTAS
A Mostra Artefacto 2017 chegou a Curitiba este mês com o tema Décor + Fashion homenageando designers de moda consagrados. Hoje apresentamos o arquiteto Jayme Bernardo homenageando Jum Nakao com elegante minimalismo na vitrine principal.
TOPVIEW: Os universos da arquitetura/decoração e moda sempre se movimentaram em uma direção muito parecida: conquistar e despertar desejo. Mas qual a sensação provocada que difere os dois?
Jayme Bernardo: Na verdade, encontramos mais aspectos semelhantes do que diferentes entre esses dois universos. O berço de ambos é a criatividade com amplos limites de atuação. A vantagem que observo na moda é que estes limites são ainda maiores. A capacidade de expressar na moda um talento artístico e criativo praticamente não encontra barreiras. Para os dois casos, materializamos nosso trabalho com cor, texturas e volumetria, mas é na moda que o trabalho do artista parece concentrar-se onde imediatamente absorvemos toda sua genialidade. Na arquitetura ou na moda, a busca por novas soluções é diária e estar atento às tendências do desejo é obrigatório.
TV: O que o fashion pode trazer ao décor e vice-versa?
JB: Acho que ambos se complementam de forma sublime, buscam o inusitado. Gosto muito de observar quando as duas disciplinas realmente se encontram na prática, temos grandes exemplos disso. Refiro-me as “maisons”, ou melhor, às construções que abrigam grandes magazines ou fundações que desenham, vendem e divulgam moda. Edifícios voltados realmente para atender as necessidades dos gigantes do ramo da moda. Encontramos esses exemplos em diversas metrópoles como Nova York, Milão e Tóquio. Todas as grandes marcas do mundo fashion já trocaram rabiscos com arquitetos estrelados e o resultado deste casamento é algo espetacular. Basta citar a fundação Louis Vuitton em Paris assinada por Frank Gehry.
TV: Como foi o processo de criação e o encontro entre vocês arquiteto e designer de moda?
JB: Trabalhar junto com um grande nome da moda como Jum Nakao foi uma experiência encantadora. Ele é uma personalidade de incrível talento e ao mesmo tempo de profunda simplicidade. Seu gosto se confunde com todo aquele imaginário que temos sobre o design made in japan somado ao espetáculo que já conhecemos nas passarelas. Estive em seu estúdio e lá começamos a formar as bases para o conceito deste trabalho para a Artefacto. Apostamos num ambiente minimalista, livre de qualquer interferência desnecessária, restou apenas o essencial.
TV: Quais são os pontos do projeto que mais evidenciam a convergência entre as ideias dos dois lados arquiteto e designer de moda?
JB: A valorização da pausa. Explico. Precisamos ter um tempo, um pequeno intervalo para um respiro e assim assimilar uma nova informação. Na cultura japonesa este respiro está em todo lugar, nos jardins, nos acessos aos edifícios, na maneira de falar, na música e inúmeras outras ocasiões. Sempre percebi este conceito, mas talvez não valorizasse tanto como agora. Era algo enigmático. Após este trabalho, ficou bem claro para mim a importância de parar, respirar fundo e seguir em frente. Retratamos isto no ambiente Artefacto. O ambiente não se revela de imediato, ele é introspectivo, vc vai descobrindo aos poucos, pausadamente.
TV: Como definiria esse projeto em um frase?
JB: Um instante de paz e simplicidade onde o importante não é o ambiente, mas os olhos que o admiram.