Mais longe do que nunca: experiência de turismo pode ser interplanetária
Por Talita Souza
É até irônico pensar que, depois do ano em que a humanidade se recolheu por mais tempo em suas casas, seja apresentada uma nova tecnologia que promete nos levar ao espaço. A humanidade está mais próxima do que se imagina da sua próxima revolução nos transportes. Depois dos barcos, trens, carros e aviões, chegou a hora de embarcarmos em foguetes.
A primeira experiência de turismo espacial está mais próxima do que nunca, prevista para o dia 20 de julho, 60 anos depois do primeiro voo espacial feito por um astronauta americano. Seis passageiros a bordo do foguete New Shepard, projetado para operar de forma autônoma, vão ficar em órbita a uma altitude de até 100 km, acima da linha Kármán, considerada o ponto onde se inicia o espaço. Isso só é possível por conta de uma tecnologia desenvolvida pela astronáutica estadunidense Blue Origin, do multibilionário Jeff Bezos, também fundador da Amazon.
Bezos ocupa a primeira posição no pódio das pessoas mais ricas do mundo, seguido do também empreendedor Elon Musk, fundador do PayPal, da Tesla e daSpace X, outra empresa que promete voos espaciais comerciais até o quarto trimestre de 2021. O preço, porém, não é barato. O leilão do segundo assento no New Shepard fechou com um lance final de US$ 2,4 milhões – a primeira rodada chegou a 5.200 lances, mas não teve informações sobre valores divulgados.
Annibal Hetem Junior, doutor em Astronomia, avalia que o crescimento exponencial das tecnologias de exploração do espaço se deve, em parte, às empresas privadas que surgiram no setor, que possuem mais liberdade do que organizações ligadas ao governo, por exemplo. Além disso, segundo o professor:
“Parte da tecnologia espacial vai começar a ser incorporada em aviões, fazendo com que eles voem cada vez mais alto e mais rápido”.
“Hoje, temos computadores extremamente rápidos e inteligentes, o que simplifica o comando das aeronaves, e materiais como fibra de carbono, resinas e cerâmicas, que permitem que os foguetes sejam feitos de forma mais barata”, explica o professor de Engenharia Aeroespacial da UFABC.
Com uma experiência de mais de 30 anos no setor, o turismólogo Luiz Gonzaga Godoi Trigo afirma que as viagens espaciais tendem a baratear conforme a frequência aumenta, mas ainda farão parte do mercado de superluxo: “não tenho dúvidas de que até o século XXII vamos ter bases em Marte e na Lua. Mas, antes disso, a viagem ao espaço vai ser muito exclusiva e cara”, afirma. A Blue Origin divulgou que, futuramente, o preço vai ser de cerca de US$ 200 mil por passageiro. Até hoje, 569 pessoas já visitaram o espaço, mas essa será a primeira experiência protagonizada por civis.
Nova corrida espacial
Em fevereiro deste ano, a Space X anunciou a missão Inspiration4, que será realizada com o foguete reutilizável Falcon 9, lançado do Centro Espacial da Flórida, nos Estados Unidos. Durante alguns dias, turistas completarão uma órbita na Terra a cada 90 minutos e, ao final, a cápsula da nave entrará na atmosfera e pousará nas águas da costa da Flórida.
Já o britânico Sir Richard Branson, proprietário da Virgin Galactic, empresa mais fundamental no ramo, promove o VSS Unity, um sistema de voo espacial reutilizável. Os passageiros serão lançados do Spaceport America, primeira base espacial construída com propósito comercial, no Novo México, em 2011.
Também há a possibilidade do lançamento da primeira estação espacial privada do mundo nos próximos anos. A principal aposta é da Axiom, uma empresa fundada por um ex-gerente do programa ISS (International Space Station) da Nasa (agência espacial americana).
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*Matéria originalmente publicada na edição #250 da revista TOPVIEW.