Hotelaria de luxo: descubra qual a nova tendência do setor
O mercado de luxo cresceu 7,8% no Brasil em 2018 segundo dados da pesquisa internacional realizada pela consultoria Euromonitor, e a previsão para os próximos anos é que o crescimento continue na primeira casa decimal, ano após ano, lembrando que essas porcentagens representam as casas de bilhões de reais. E uma constatação que representa este crescimento é a não ostentação.
Os consumidores estão cada vez mais conscientes que o comprar por si só já não faz sentido, por isso o foco que impulsiona o crescimento são as experiências, memórias e significados, conceitos que regem o movimento Pós-Luxo, pelo qual percorro o país em palestras e apresento em conceitos em minha comunicação digital.
Um dos crescimentos significativos é o de turismo e gastronomia, com registros de aumento de 16% no Brasil. As pessoas estão em busca de viverem momentos únicos e os hotéis de alto padrão estão atentos aos novos momentos.
Para entendermos melhor este momento, entrevistei a ex-hoteleira Beatriz Blecher, especialista no setor de serviços e atualmente Diretora Regional de Glion e Les Roches para as Américas, referências entre as melhores escolas de negócios do mundo na área de hospitalidade.
A ligação da hotelaria com as marcas de luxo
Beatriz trouxe que o setor da hotelaria vive hoje uma época de transformações extraordinárias:”foi-se o tempo em que, para obter sucesso, bastava erguer sedes monumentais com produtos de qualidade. Hoje, há cada vez mais turistas e executivos em busca de serviços diferenciados. É preciso assegurar a eles uma experiência inesquecível e mais transparência em todas as atividades”, explica.
Área que as grandes marcas de luxo já visualizam há algum tempo e que agora se concretiza em maior escala com a compra no fim de 2018 do grupo Belmond de hotéis de luxo, cruzeiros fluviais, trens e safáris, pelo conglomerado LVMH.
O grupo passou a assinar as experiências vividas pelos hóspedes nacionais e mundiais no Belmond Copacabana Palace no Rio de Janeiro e Belmond Hotel das Cataratas, Cataratas do Iguaçu, além de seus já conhecidos endereços como o Cheval Blanc, em Courchevel, e seus hoteis com a bandeira Bulgari.
Outras marcas conhecidas na moda de luxo também assinam hotéis pelo mundo, como o caso do Armani Hotel Dubai, e das parcerias icônicas em Paris da Chanel com o recém reinaugurado Ritz Paris e da Dior com o Pallas Plaza Athénée.
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Sobre a gama de hotéis de luxo pelo mundo, destacam-se as mais tradicionais, como Ritz Carlton, Península, Four Seasons, Fairmont, e as marcas jovens e irreverentes como W Hotels, da antiga Starwood, hoje pertencente à rede Marriott.
A Hospitalidade nos diversos setores econômicos
Beatriz identifica e aconselha futuros talentos globais para que se tornem líderes na indústria da Hospitalidade amanhã, e traz um dado muito interessante, que 50% dos seus graduados em hotelaria desenvolvem suas carreiras em diversas indústrias que adotam os códigos da hospitalidade, como companhias aéreas, varejo e moda.
“Os grandes players do varejo de luxo precisam criar experiências em suas lojas capazes de intensificar uma relação com seus clientes que vai além da compra. As grandes organizações esportivas (como Comitê Olímpico mundial ou a UEFA) precisam de profissionais que entendam sobre excelência em hospitalidade e logística. Os bancos de investimentos internacionais buscam profissionais que saibam lidar com clientes globais de altíssimo padrão, que compreendam o universo em que eles vivem”, conta Beatriz
As competências desenvolvidas pela Hospitalidade nos profissionais, os desenvolvem para que possam lidar com diferentes tipos de pessoas, que tenham uma vivência global, que sejam flexíveis e abertos para desempenhar determinadas funções.
Futuras tendências – fusão entre Luxo e Hotelaria
O conceito de wellness/bem-estar também está em evidência. Marcas como Six Senses são hoje diferenciadas dentro da indústria, onde o hóspede se identifica com seus propósitos e entrega. E o Brasil será o primeiro país a receber a rede no continente americano.
Beatriz ressalta que os perfis dos consumidores de luxo mudaram e as marcas também buscam entregar experiências de acordo com o novo consumidor. Os serviços agregados (alta gastronomia com chefs estrelados, concierges clef d’or, camas com assinatura própria, spas, serviços VIP adicionais, uso de tecnologia de ponta para inovação) já não constituem um diferencial, pois se tornaram rotineiras em todos os grandes hotéis. Por meio de sites como o Trip Advisor e fóruns de discussão online é possível antecipar praticamente tudo a respeito de um hotel antes de se hospedar. O que cria a diferença entre um estabelecimento e outro. “A meu ver, é o quanto as interações durante a estada do hóspede são impactantes e surpreendentes, quão especial o staff faz um hóspede se sentir, levando o conceito além, que tem diferenciado a hotelaria pelo mundo”, aponta a ex-hoteleira.
“Os setores de luxo e hospitalidade já vem se encontrando há algum tempo. Marcas como Givenchy, Armani, Bulgari, Cavalli entre outras investem negócios relacionados a hotéis, spas e restaurantes. Assim como a indústria de luxo adota cada vez mais códigos e práticas da hospitalidade baseadas na experiência do cliente, os players da hotelaria de luxo buscam suas identidades de marca, que se refletem em serviços e experiências únicas, usando todos os sentidos – desde o aroma do lobby até os sabores das águas aromatizadas durante as boas-vindas ou antes de tratamento no spa”, destaca a especialista.
Hotelaria no Brasil
Ao se comparar ao mundo, o Brasil não está bem ranqueado na hotelaria de luxo. Apesar da recente abertura de grandes hotéis no Sudeste do país como Palácio Tangará e Four Seasons, assim como a futura vinda do Rosewood para São Paulo e Six Senses para o Nordeste, ainda estamos engatinhando com o desenvolvimento de propriedades de luxo se comparadas a outros países latino-americanos como o México. “Infelizmente, apesar de existir uma demanda por hospedagem de luxo no país , os investimentos requeridos e as políticas locais em relação a tributos e outras questões não são favoráveis”, comenta Beatriz em nossa entrevista.
O que nos abre muitas possibilidades tanto para marcas já consolidadas quanto para novas marcas que já nascem neste novo patamar do luxo: das experiências e memórias.
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