Horizonte além do caos
Abrir a filial de um negócio, reformar e mudar a marca de outro que já era conhecido na cidade e lançar novos produtos, tudo isso em meio à pandemia. Pode parecer loucura para muitos, mas foi o que fez Beto Madalosso, chef curitibano. De um lado, a formação em Administração ajudou o empresário a enfrentar o caos. De outro, o fato de ter crescido em uma família com vasta experiência na gestão de negócios gastronômicos – entre tantos, o Madalosso, o maior restaurante da América Latina.
“O setor é muito frágil. O tanto de restaurantes que fecharam as portas, o tanto de restaurantes que são frágeis e estão no mercado. É uma ilusão achar que o cara que tem restaurante ganha dinheiro”, analisa. Em junho, a estimativa era de que cerca de 30% dos restaurantes e bares paranaenses deveriam fechar por conta dos efeitos da pandemia, de acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e a Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar). Nesse período, dois produtos foram importantes para amenizar os prejuízos dos negócios de Beto: a pizza congelada e a Trolha, um stromboli, espécie de salgado italiano recheado feito com massa de pizza. A novidade, que chama a atenção por seu nome divertido, ganhou até um perfil próprio no Instagram (@trolha_). “É um produto engraçado, porque gerou muito outro tipo de relação. Isso traz até um alento. Era piada, conforto na comida, então tem coisas que funcionam.”
“Enquanto houver humanidade, haverá restaurante. As pessoas gostam de sair e comer fora, é quase terapêutico”
O prato faz parte do cardápio do Carlo Ristorante, que tomou o lugar da Forneria Copacabana. O plano era anterior à pandemia, mas saiu do papel neste ano. Sem o antigo buffet, a casa chega com uma pegada italiana caseira e preços mais acessíveis. Outra “loucura” do momento, como descreve Beto, foi a expansão do Madá. A nova unidade fica no bairro Ecoville. “Estava com o contrato na mesa desde março, mas não tinha assinado. Quando chegou a pandemia, eu tomei outra decisão. Falei: ‘cara, agora é a hora de fazer essas coisas'”, relembra. “Ainda não consigo falar do sucesso, mas o negócio novo já se mostrou promissor.”
Em meio às novidades, Beto não deixou de ser presente nas redes sociais. O que, inclusive, já lhe rendeu o título de Influenciador do Ano no Prêmio Personalidades Grupo RIC | TOPVIEW 2019. Por lá, compartilhou ideias, possíveis soluções diante da crise e desabafou com os colegas da classe gastronômica.
O Fórum Tutano, outro projeto idealizado pelo empresário, foi realizado neste ano, desta vez online. O desafio foi levar para o ambiente virtual a experiência que tinham desenvolvido nas duas primeiras edições presenciais. “Começamos a nos programar e eu estava com pouca expectativa sobre venda, achei que não conseguiríamos patrocínio, que é supercomplexo. Acabou que vendemos todas as cotas e tivemos 400 inscritos.”
Se a pandemia pode representar um fim para os restaurantes? Beto é categórico: “nunca. Enquanto houver humanidade, haverá restaurante. As pessoas gostam de sair e comer fora, é quase terapêutico. Quando você está comendo fora, é uma fuga do mundo. Você senta e as pessoas te servem, você bebe e come – e é feliz. Eu faço isso porque gosto de proporcionar esse momento para as pessoas.”
Beto continua com suas ideias ousadas. Abrir uma escola de gastronomia online e expandir o Madá são algumas de suas pretensões, mas ainda não um plano. “Tem que sair muito do meu coração, não tenho isso escrito nem vou escrever. Quero que saia do meu sentimento. Eu gosto mais assim.”
Confira outras quatro histórias inspiradoras que fazem parte da matéria principal desta edição.
*Matéria originalmente publicada na edição #242 da revista TOPVIEW.