ESTILO CULTURA

Obra de Picasso inspira espetáculo de dança Guernica

Com direção de Laura Haddad e coreografia de Carmen Jorge, Guernica fica em cartaz até domingo (5)

Ao sair para o pátio da Capela Santa Maria, na noite de estreia do espetáculo de dança Guernica, espectadores encontraram intérpretes já posicionados, imóveis no palco, e capas de chuva distribuídas sobre os assentos. Em meio ao vento, duas perguntas se firmaram: vai chover? E o que esse trabalho pode nos dizer frente à tela icônica de Picasso?

Não choveu. Guernica, a tela, é a forma que o pintor encontrou para exprimir o horror que recaiu sobre a cidade espanhola. Guernica, o espetáculo, é uma leitura dessa outra leitura, na qual encontra temas (“pulsão de paixão”, “amor em tempos de ódio”, etc.) e um método – a colagem – para a coreografia. Mas além dessa fonte principal, a equipe pesquisou outros materiais — reportagens, fotografias, filmes e livros  –, de onde tirou palavras-chave, que eram então traduzidas em movimentos. A partir desses fragmentos, a coreógrafa Carmen Jorge fez sua própria colagem para constituir o espetáculo.

O método resultou em sequências inesperadas para tratar a paixão, a perda, o autoritarismo, a resistência, entre outros temas, numa leitura que vai além da violência. Como a representação do touro, em movimentação conjunta e simultânea, da qual intérpretes se destacavam por alguns instantes, suficientes para expressar qualquer sentimento que fugisse da inércia, para então retornar ao rebanho.

O espetáculo, no entanto, não conseguiu fugir de replicar a tela (figuras disformes, gritando de desespero, podem se tornar caricaturas nos corpos e expressões) em momentos e do horror que, ainda que predominante por conta da temática, pode ter carecido de nuances e se excedido em quedas e contorções, perdendo efeito. Sobretudo com a pintura sendo projetada ao fundo e, ao fim do espetáculo, fotografias da guerra na Síria, por exemplo, escancarando um paralelo com os dias atuais.

Os bailaores Franklin Albuquerque e Flávia Ribeiro estão entre os pontos fortes do espetáculo.
Os bailaores Franklin Albuquerque e Flávia Ribeiro estão entre os pontos fortes do espetáculo.

A diretora, Laura Haddad, buscou justamente deixar a leitura aberta — daí a opção pela dança: “[Se fosse um espetáculo teatral] eu estaria talvez encerrando um conceito, delimitando um entendimento, porque quando coloco a palavra, posso direcionar isso. E a dança, não necessariamente você precisa entender tudo o que está sendo contado. Ela tem que provocar algo”, explica Laura. Já a opção pela apresentação ao ar livre está relacionada à preocupação com uma experiência vívida para o espectador. A expressividade desses intérpretes é muito mais presente, mais viva e pulsante do que um texto dito num teatro. Senão, parece que estou artificializando, teatralizando. A guerra é real. A vida é real, as pessoas são reais”, comenta a diretora.

Intérpretes de Guernica agregam experiências diversas, do balé clássico à dança de rua.
Intérpretes de Guernica agregam experiências diversas, do balé clássico à dança de rua.

Os sete corpos em cena, se em momentos pareciam não ter a intenção sintonizada, trouxeram bagagens diversas — da dança de rua ao balé clássico — e resoluções diferentes. A coreógrafa, Carmen Jorge, destaca suas qualidades enquanto criadores: “[O bailarino] não precisa necessariamente ser um bom repetidor, precisa vir com uma bagagem criativa forte. Porque para fazer esse mosaico todo e ganhar essa riqueza, tem que ter a participação de todos”, lembra.

Quatro dos intérpretes foram selecionados em uma oficina no final de 2016, como parte da contrapartida ao apoio da Fundação Cultural de Curitiba. A ideia é “abrir possibilidades para que novos profissionais possam surgir”, diz Juliana, que pretende levar a ideia para outros projetos, desdobrando-a em estágios de iluminação, cenário, figurino, som, etc.

O que, afinal, Guernica nos diz, o que provoca? Há tempo para descobrir: até domingo (5), na Capela Santa Maria.

Espetáculo de dança Guernica

Quarta-feira (1º/3), às 19h30 e às 21h; quinta-feira (2), às 21h; sexta-feira a domingo (5), às 19h30 e às 21h.
Na Capela Santa Maria: R. Conselheiro Laurindo, 273, Centro.
Ingressos a R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada). Bilheteria abre uma hora antes do espetáculo e aceita dinheiro e cartões de débito e crédito.
Informações: (41) 99932-8842

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