ESTILO GASTRONOMIA

Planeta Food

Não há comida sem o planeta, mas se o planeta estiver colapsando, sobra comida para quem?

Afinal o que a alimentação tem a ver com o futuro do planeta? Tudo! A cadeia de produção alimentar está relacionada com a saúde da Terra. Afinal, de onde vem a comida quentinha e saborosa do prato? Em sua grande
maioria, da natureza.

Os 10 alimentos mais consumidos do mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), são, respectivamente, leite, trigo, arroz, batata, cerveja, açúcar, tomate, milho, carne de porco e mandioca. Ou seja, tudo o que vem da natureza.

Por conta do aumento populacional – a população mundial atingiu 7,8 bilhões de pessoas no início de 2022, segundo o Instituto de Censos norte-americano –, é preciso cada vez mais recursos para gerar alimentos.

Esses recursos, normalmente, vêm da terra, da agricultura. E, de acordo com a crítica gastronômica e jornalista especializada em gastronomia – criadora do podcast Vai se Food – Ailin Aleixo, o grande problema é que muitas florestas, no Brasil e no mundo, estão sendo derrubadas para alimentar animais para o consumo humano.

Ela explica que, para alimentar tantas pessoas, é preciso produzir muita carne animal e, para produzir essa carne, é preciso plantar grãos para que eles possam se alimentar, crescer e, ao morrerem, virarem alimento para os humanos. “Nossa cadeia alimentar atual está colapsando o planeta. Especialistas falam que esse colapso já começou e não têm tempo de impedir. O que podemos fazer é impedir que isso piore”, afirma a crítica.

Mas, além de causar um problema ambiental – segundo a jornalista–, a população também está prejudicando a própria saúde ao seguir um novo hábito alimentar: consumir ultraprocessados. “Eu acredito que a alimentação das pessoas tenha piorado, principalmente pelo consumo dos ultraprocessados. Acredito que isso tenha acontecido por fatores importantes, como a pandemia.

Outro fator foi a inflação [aumento], que fez com que as pessoas diminuíssem o consumo de carne vermelha em 11% e aumentassem em torno de 40% o consumo de ultraprocessados”, afirma a engenheira química, engenheira de alimentos com especialização em química de alimentos e professora da escola politécnica na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Nelisa Sita Pires Picolotto Martim.

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Novo comportamento alimentar

De acordo com Ailin, somente uma mudança conscientizadora para a população será capaz de impedir que o estrago ambiental no planeta seja irreversível. “É preciso que as pessoas pensem na cadeia alimentar. Falta educação em relação a isso. Elas não entendem como a guerra na Ucrânia impacta o preço do pão, por exemplo”, relata.

Defensora de uma alimentação à base de plantas, a jornalista ainda relata que uma mudança como essa é possível. “A mudança não depende da aceitação, ela vem. Esses hábitos podem vir por meio da educação ou, infelizmente, pela falta de comida. Ou seja, se não gerarmos esse sentido de urgência, vai faltar comida”, alerta.

Para pessoas que sentem dificuldade em começar a diminuir o consumo de carne animal, há algumas opções no mercado que vêm se tornando cada vez mais conhecidas e, segundo Ailin, uma ótima opção para esse público.

A Fazenda do Futuro é uma foodtech e lifestyle brand da América Latina voltada à produção de carne à base de plantas, sem nada de origem animal. No entanto, o grande diferencial do alimento da marca é que ela garante que a “carne” tenha o mesmo gosto, textura e suculência de carnes bovina, suína, de frango e peixe.

O hambúrguer da Fazenda do Futuro é feito à base de plantas. (Foto: divulgação)

“Por conta de seus diferenciais, a Fazenda Futuro alcança não só vegetarianos e veganos, mas consumidores dispostos a mudar seus hábitos diante dos impactos que causam no planeta, os chamados flexitarianos”, afirma Mari Tunis, diretora de marketing da marca.

Na composição dos produtos, há apenas ingredientes naturais, como beterraba, soja, ervilha e cebola, que, transformados por tecnologia, chegam ao resultado final. Além disso, a marca preza por matéria-prima não transgênica e não proveniente de áreas de desmatamento.

“O consumo de carne, hoje, gera impacto ao planeta, fazendo com que, cada vez mais, as pessoas tomem consciência desses fatos e optem por mudanças na alimentação, mas sem abrir mão do sabor”, explica Mari.

Por isso, a diretora afirma que o futuro da alimentação é respeitar uma cadeira sustentável de produção e, claramente, ter um investimento em tecnologias que ajudem no desenvolvimento de produtos alimentícios, além de garantir segurança e qualidade.

A tecnologia e o futuro da alimentação

Se tem um ótimo aliado de uma alimentação mais sustentável no futuro, esse aliado é a tecnologia. Não somente é possível como os alimentos feitos em uma impressora 3D já estão sendo consumidos: desde 2018, a impressora 3D Coffee Ripples é capaz de personalizar espumas de café com fotos de pessoas, frases, desenhos e muito mais.

Porém, não são somente espumas que uma impressora 3D é capaz de criar. A química, engenheira química e pesquisadora na USP de Ribeirão Preto Bianca Chieregato Maniglia estuda o amido como aditivo para alimentos que seriam impressos. “O amido regula a viscosidade das coisas. Se você vai fazer um mingau, pasta ou molho branco, você adiciona o amido para alterar a espessura”, relata a pesquisadora.

Um alimento sendo feito em uma impressora 3D (Foto: Shutterstock)

O amido é útil porque, na impressão 3D normal, é usado um filamento de plástico. No caso da impressora 3D de alimentos, é preciso um filamento que possa ser ingerido por humanos e animais e tenha uma consistência em que seja possível moldar a impressão como alimentos reais.

Sobre o aspecto dos alimentos, a química explica que isso é de extrema importância para o consumo desses alimentos impressos. “Já foi constatado que o aspecto de um alimento nos faz ter vontade, ou não, de comer. Quando falamos de disfagia, as pessoas se alimentam de pastas. Olha o mercado que podemos atender. É possível pegar uma cenoura, fazer uma pasta, colocar amido e imprimir em formato de cenouras.”

Ao questionada do porquê imprimir um alimento 3D em formato de cenoura, feita com uma pasta de cenoura, a engenheira conta que, dessa forma, você consegue trazer o aspecto adequado para a pessoa deglutir, coisa que não seria possível com o alimento original.

Sobre a usabilidade dos “alimentos 3D”, Bianca afirma que consegue identificar algumas empresas usando esse recurso em poucos anos. “Vejo empresas que trabalham com chocolate agilizando alguns confeitos de geometrias complexas com essa impressora. Outro setor que tem muito a ganhar é o de massas. A Barilla é uma marca que vem utilizando impressora 3D para imprimir macarrão de difícil complexidade”, conclui a pesquisadora.

*Matéria originalmente publicada na edição 266 da TOPVIEW

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