Gal Oppido apresenta arte erótica em exposição inédita na Galeria Lume
Fotógrafo ensaísta e expoente da arte contemporânea brasileira, Gal Oppido é um ávido pesquisador da arte erótica japonesa, “Shunga“. Em suas fotografias, aquarelas, xilogravuras, obras em suportes diversos, o corpo é fonte provedora de liberdade e sensualidade, inquietação e mistérios, tal qual um lugar a ser desbravado. Uma síntese inédita desta aproximação com a cultura japonesa poderá ser vista na exposição Shunga: Serenos e Ofegantes, em cartaz a partir de 25 de novembro na Galeria Lume.
Durante os quase três séculos do período Edo, o Japão vivia um momento de isolamento. Foi nesta época que nasceu Shunga, a arte erótica que trazia à sociedade uma espécie de cartilha sexual, com ilustrações dos mais diferentes ritos sexuais de características gráficas e cores vivas criadas pelos principais artistas deste período.
Para Oppido, que teve o primeiro contato com Shunga no início da década de 1970, Shunga vai muito além dos ritos sexuais. “É praticamente um estado de percepção”, ele diz. E é o que afirma por meio da seleção de obras que compõem a exposição.
Entre os destaques da mostra, está a série Serenos e Ofegantes. São ensaios fotográficos com performers com diferentes corpos e etnias, que ora aparecem nus ou seminus, ora apresentam-se trajando quimonos tradicionais japoneses. As vestes, inclusive, são criações inéditas e feitas para exposição. Algumas projetadas por Oppido e outras por fashion designers como Alex Kazuo, designer de ascendência nipônica e aclamado pela crítica por seu estilo minimalista; Mauro Spolaor e Caio da Rocha. Há, também, um quimono emblemático para os amantes da moda, inspirado nos trajes japoneses típicos do século XVIII e já usado em coleção do designer francês Yves Saint Laurent, um dos nomes mais significativos da alta-costura do século XX. Este último, será exibido ao público no espaço expositivo.
Já na série Le Petit Tokaidò de Hirochige, o artista apresenta 56 xilogravuras em volume sanfonado no qual desenvolveu releitura no verso de cada imagem, mantendo parcialmente sua estrutura paisagística e unindo-as pictoricamente.
A convite de Oppido, a artista Catarina Gushiken contribuiu com dez intervenções inéditas de suas caligrafias imaginadas a partir de fotografias de Gal.
Intoxicações poéticas da carne
Na ocasião da abertura da exposição, acontece também o lançamento do livro Intoxicações poéticas da carne (N-1 Edições). A publicação documenta um encontro ficcional entre Gal Oppido e o icônico escritor japonês Yukio Mishima.
“Tudo que parece ter importado para Mishima está aqui: a fixação pelos samurais, a obsessão pelos pilotos kamikaze (deuses do vento), os corpos olímpicos, os vestígios de cenas clássicas de cinema, músculos, máscaras, souvenirs made in Japan, estátuas gregas iluminadas por rasgos de sol, a evolução desde a África devorada, sacrifícios renascentistas, uma arrebatadora experiência pop Hokusai-Oppidiana e, ainda, uma cartografia anárquica que parte do nascimento da modernidade até as tecnologias excêntricas de corpos, mídias, cidades e guerras”, reflete Christine Greiner, escritora, curadora e professora do Departamento de Arte na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e ainda professora visitante no Departamento de Dança da Universidade Paris VIII e na Universidade Kansai Gaidai, em texto para o livro.
Não ao acaso, o evento ocorre em 25 de novembro, data que marca o 50º ano da morte de Mishima em um ritual suicida conhecido como seppuku, entendido pelo escritor como uma ação artística. É a forma de Oppido lançar luz à trajetória e a obra de Yukio. Para além disto, o artista leva lambe-lambes com a imagem de Mishima para as ruas do bairro da Liberdade, em São Paulo. Ele rompe os limites físicos da Galeria e expande sua criação pela cidade.