ESTILO

Emotional Design

A relação do indivíduo com um produto, com o lar e até mesmo com uma paisagem, desencadeia emoções – que também são objetos de pesquisa

Ao refletir sobre design, de modo geral, é possível concluir que, por si só, ele já é emocional. Portanto, não seria preciso de uma metodologia específica para trabalhar questões relacionadas à emoção, já que ela é intrínseca à área. Contudo, existe – e esse campo se propõe justamente a entender, cada vez mais, a relação entre o consumidor e as emoções desencadeadas por “coisas”. Afinal, as emoções possuem um papel muito importante na definição da identidade pessoal de cada pessoa e, também, na sua sensação de pertencimento.

“Lugares, vistas, cores, aromas e tudo o que compõe esse universo complexo da paisagem influencia nas nossas emoções” – Miguel Farias

Alexandre Favaretto, mestre em Design pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), afirma que as questões relacionadas à emoção são primordiais, principalmente por serem os fatores principais do apego e da responsabilidade de um produto. “Hoje, ninguém compra algo apenas pela função prática exercida. As pessoas querem encontrar um fator simbólico, um fator de apego, um produto que represente o seu estilo, as suas características”, explica o especialista.

Entendendo a relação entre sentimento e consumidor, Ticiana Martinez, proprietária da ÔDA Design Club, empresa que atua com curadoria de objetos de design e arte, acredita que a casa é o reflexo da alma. Por isso, tudo o que é levado para o universo do habitar precisa estar conectado com os valores do morador – junto àquilo que ele entende e acredita como certo para a sua vida.

A Bandeja Luminária Cocktail Fly Gold, é feita em madeira combinando em um único objeto a função de badeja e luminária.

“Com a pandemia e a necessidade de isolamento social, o design afetivo passou a fazer mais sentido para as pessoas. Antes, o termo era, talvez, apenas uma manchete de revista ou algo muito específico para o nicho de arquitetos e artistas”, argumenta Ticiana, acrescentando que, agora, as pessoas se relacionam e têm um interesse maior pelo tema, percebendo principalmente seus benefícios.

Donald Norman, professor emérito de ciência cognitiva na Universidade da Califórnia, em San Diego, é um dos principais nomes relacionados ao design emocional – e foi justamente nos estudos dele que Alexandre Favaretto, em seu mestrado, debruçou-se, a fim de aprofundar sua pesquisa. No livro O Design do Dia a Dia, o professor apresentou três níveis de processamento das emoções, que estão ligados ao design do produto.

“O primeiro, chamado de visceral, é sobre a sensação de ‘feio ou bonito’. Algo como: ‘esse produto é bonito, eu quero’. O segundo, comportamental, tem a ver com a relação de experiência do usuário com o produto. Ou seja, varia de acordo com as habilidades de cada pessoa. Já o terceiro nível, reflexivo, é o mais complexo de todos. Nele, o consumidor não é convencido apenas por fatores estéticos e funcionais, mas também pelas reflexões que ele ou outras pessoas podem ter a partir do produto”, lista Favaretto.

O Vaso Bolha possui formas orgânicas.

O profissional conta que as relações emocionais no design ainda são muito difíceis de serem captadas, de serem lidas. “Existem ferramentas e metodologias pelo meio das quais você pode captar a expressão visual das pessoas no momento de utilização do produto, mas é muito difícil você conseguir criar um já com a emoção que você quer que o usuário sinta”, complementa.

Portanto, a relação entre consumidor e emoção, na prática, pode acontecer de formas diversas – é no que acredita Ticiana Martinez. Para ela, uma série de questões podem ajudar a trazer uma atmosfera de design afetivo para dentro da casa, como a escolha das cores e a volumetria dos objetos. “Pode ser traduzida também na escolha de uma matéria-prima mais orgânica, como a cerâmica e as madeiras, na preservação de um objeto de herança de avós, que são legados que a gente recebe e ficam na família.”

COLORFUL HAPPINESS

A Fruteira Forma em Cerâmica Colorida é feita a partir da técnica japonesa Nerikomi, que experimenta a aplicação de pigmentos na argila.

As cores também têm relação direta com as pessoas e suas emoções. Ana Cristina Avila, arquiteta que representa o Brasil junto com o Color Marketing Group em uma pesquisa de tendências de cores mundiais para ditar as tendências, afirma que a vibração da cor tem o poder de interferir no humor ou na tranquilidade das pessoas. “É importante que se tenha esse conhecimento, mas não só do que cada uma representa, representa como, também, de seus subtons, assim como sua profundidade e intensidade”, explica a especialista, que ainda elucida: “Temos as cores primárias, mas existem variações de tonalidade: intensas, profundas, claras e suaves. E aí, nessa variação, conseguimos ter o real entendimento da cor, a fim de trabalhar e trazer a vibração desejada para essas emoções.”

PAISAGEM

Embora seja um tema mais abrangente, a paisagem é intrínseca à experiência humana. Afinal, seu conceito vai além do que estamos acostumados a ouvir, como uma bela praia e um conjunto de montanhas. De acordo com o arquiteto e urbanista Miguel Farias, existe mais de uma interpretação. Contudo, a mais comum de se considerar é a que considera paisagem tudo o que a gente vê. Ele lista: “Lugares, vistas, cores, aromas e tudo o que compõe esse universo complexo da paisagem influencia nas nossas emoções.”

O Espelho Imigrante é feito em metal e vime, um encontro entre dois materiais clássicos que se moldam para formar coisas novas.

O especialista acredita, inclusive, que a relação sentimental possui duas vertentes: individuais e coletivas. “No âmbito das sensações individuais, como o nome já diz, é totalmente particular. Para mim, por exemplo, olhar o pôr do sol no litoral, sentir o cheiro do mar e ouvir o som das ondas traz uma sensação de alegria, de paz e até de vulnerabilidade. Outra pessoa que não tem a mesma relação com a praia, por exemplo, pode não gostar de nada disso. É nesse ponto em que entram as sensações coletivas. Quem não gosta de um pôr do sol na praia? Ou, invertendo os casos, se pensarmos em uma praia suja e abandonada, será que as sensações de alegria e paz serão as mesmas? Cada um pode ter sua interpretação espacial, seja ela positiva ou negativa, e, com isso, pode-se ou não gerar um senso comum sobre cada caso”, conclui Miguel.


DÉCOR ZEN

Difusor Ultrassônico da Hathas 

(Foto: divulgação)

Fragmenta óleos essenciais em micropartículas, difundindo no ar em forma de vapor frio e preservando as propriedades dos óleos (R$ 520).

Vela Perfumada Jo Malone London  

(Foto: Divulgação)

Produzida em parafina, possui fragrância de limão com notas de manjericão apimentado e tomilho branco (R$ 1.300).

Balanço

(Foto: Divulgação)

Idealizado pelo designer Sérgio Matos, o produto é inspirado na arupemba, peneira de palha de carnaúba ou buriti utilizada por comunidades indígenas brasileiras (R$ 19.675).


PARA LER

(Foto: Divulgação)

LIVRO:
Emotional Desin: Why We Love (or Hate) Everyday Things 
Donald A. Norman – Basic Books


*Fotos: Ume Illustration, Phorographee.

*Matéria originalmente publicada na edição #252 da revista TOPVIEW.

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