ESTILO

Do átomo ao cosmos

Adriana Tabalipa une processos únicos de expressar a arte nos dias atuais

Artista multiorientada com recursos para experimentar as mais diversas mídias de forma contundente. O atual trabalho pictórico da artista, aqui apresentado, vem em continuidade à sua obra anterior, em que contornos bidimensionais de objetos do cotidiano, preenchidos em cor chapada, deram origem às atuais circunferências, igualmente contornadas e coloridas, em um processo topológico. Historicamente, Wassily Kandinsky, com obras batizadas como Circle in a Circle e Belle e Robert Delaunay, fundador do Orfismo, já nas primeiras décadas do século XX, realizaram trabalhos em cores fortes e formas geométricas circulares.

Na sua fase atual as reminicências figurativas se perdem e os trabalhos saem em busca das totalidades contidas em cada esfera/círculo, que se entrelaçam e se expandem infinitamente. Figura geométrica sempre utilizada em representações religiosas, filosóficas e artísticas e importante em todas as áreas do conhecimento. Presente nas menores partículas e no universo.

Os círculos são desenhados com linha espessa e os espaços criados entre os enlaces… um aquário de peixes coloridos é preenchido por cores sólidas, lembrando-nos de nossos desenhos infantis, em um trabalho lúdico e de muita vibração cromática. Os tons de verde e azul-turquesa são recorrentes, os preferidos de Adriana, desde as suas caixas de lápis coloridos na infância. Boa fruição!

Árvore da vida (Foto: divulgação)
Infinite Light (Foto: divulgação)

Passei alguns dias refletindo sobre o que eu mesma, como uma artista plástica/visual contemporânea, consideraria interessante de ler sobre um artista em tempos tão desafiadores. Talvez isso tenha me trazido mais perguntas do que propriamente respostas, mas compartilho aqui alguns pensamentos e premissas que considero pertinentes. Algo sobre minha prática e poética que possa de algum modo sensibilizar e sinalizar para além das obras em si.

(Foto: divulgação)

A arte não tem função. Arte é contexto. E, nesse, sentido penso que não é sobre “o que fazer” e o “que fazemos”, mas sobre o “como fazer”. Fazer com “arte” demanda uma “integridade” de vida e isso é um dos pontos mais complexos. Acredito na potência poética da obra como consequência de uma espécie de arte-vida em que o artista tem autonomia de seus meios de produção para sempre poder pesquisar/experimentar/instaurar um território livre possível na forma de conduzir suas proposições e ações. Não deixa de ser um “viver na prática” uma filosofia trazendo significado e valor à existência por meio do olhar e do fazer sobre coisas que possam ser consideradas insignificantes ou até aparentemente banais.

Essa oportunidade de ressignificar, de sensibilizar o outro. De reorganizar a materialidade do mundo. De vivenciar as relações de espaço e tempo para além dos conceitos da ciência. O artista é essencialmente este ser pesquisador transdisciplinar que a todo momento se permite ritualizar. De fazer com arte todas as coisas. Isso produz linguagem e conhecimento. O pensamento se permite visionar o corpo deambular e a alma a ouvir. De modo que a essência criadora pode se expressar e se manifestar no presente, seja por cores, formas, linhas, vibrações, música, objetos, pintura, desenhos, instalações, performance e arte.

Entre o corpo e o espaço-tempo um universo de relações e energia. Utopias, ficções possíveis, percepções por vezes agudas de nossa civilização. Uma experiência entre o íntimo e o público/privado/sujeito participante que se permite cumprir, junto com a obra, sua trajetória, captar suas mensagens… e isso é belo! A estética é conectada à ética e esta uma relação indissociável. Fazer arte como uma missão sagrada, um sacerdócio, uma magia que realiza seu propósito de “ser” pleno, inteiro, completo, de se reconectar à fonte.

Uni-versos polidimensionais (Foto: divulgação)
(Foto: Performance art: “Performancecoisa” 2021 sessão de “open source” espaço P.F com os artistas Adriana Tabalipa, Eduardo Amato, Eleonora Gomes, Gustavo Francesconi, Jonas Sanson, Janete Anderman e Leo Bardo. (Foto: Performancecoisa)

Mini bio

Adriana Tabalipa 1972 – Artista visual, performer, gravadora, pintora, desenhista e livre pensadora. Nascida em Curitiba e radicada no Rio de Janeiro vive e trabalha atualmente entre estas duas cidades.

Iniciou sua trajetória no final dos anos 80. Participou de inúmeras mostras coletivas e individuais, nacionais e internacionais. Entre elas The End Factory Project, Fundacion Valenzuela Y Klenner, Bogotá, Colômbia. O objeto: anos 60/90 cotidiano,arte, Instituto Cultural Itaú , São Paulo SP e MAM -RJ. Layers of Brazilian Art, Faulconer Gallery, Grinnell,Iowa, USA. Palmo quadrado, Museum of Latin American Art, Long Beach, Califórnia,USA. Arte Brasileno de Hoy, Sala de Armas, Ciudadela.Pamplona, Espanha. Arte Jovem del Brazil, Galeria Rafael Ortiz, Sevilla, Espanha. Colheu diversos prêmios e tem seu trabalho representado em importantes coleções públicas e privadas. Como a de Gilberto Chateaubriand no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Uma de suas mais recentes individuais ” The End Factory Project” teve curadoria do curador Colombiano Santiago Rueda e itinerou por várias capitais. Seus trabalhos revelam objetos e lugares cotidianos com referência direta na relação entre eles e o corpo humano bem como a energia existente nestas relações. Funda em 2012 o coletivo S.T.A.R no qual vem desenvolvendo trabalhos de performance-rito e filmes experimentais junto com outros integrantes e artistas convidados participando de mostras e festivais. Atualmente tem se dedicado a pintura e ao desenho tendo a Performance Art como um foco de ação da sua produção artística repleta de potência poética e questões filosóficas. 

* Coluna originalmente escrita por Adriana Tabalipa, convidada de Marcos Bertoldi, e publicada na edição #250 da revista TOPVIEW.

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