CULTURA TECNOLOGIA

Eles estão entre nós! Os robôs estão mais presentes que nunca

Os robôs saíram da imaginação para o mundo real. Resta saber como lidar com isso

Rose, de os Jatsons, C-3PO e R2-D2, em Star Wars, WALL-E… na cultura pop, os robôs sempre foram presenças constantes em suas mais variadas formas, talvez pela sua capacidade de representarem um possível futuro na vida real. No filme Eu, Robô, estrelado por Will Smith e lançado há duas décadas, a história é ambientada no fictício ano de 2035, quando o mundo já seria habitado por robôs. Mas, diferentemente da ficção, no mundo real, essas máquinas estão mais perto de se tornarem assistentes do que ameaças em potencial.

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Robios Go é um robô de autoatendimento desenvolvido em Curitiba (Foto: divulgação)

Antes que fosse possível se assustar com a presença de figuras humanóides, eles chegaram nos mais diversos formatos, da Alexa, presente em diferentes partes da casa, ao ChatGPT, que pode ser acessado por meio de um aplicativo. Aprender a conviver com essas tecnologias acabou sendo mais fácil do que se poderia imaginar, já que elas vêm de encontro com demandas reais. 

O setor industrial é uma boa referência para entender o crescimento da presença de robôs no mundo. Uma pesquisa da Federação Internacional de Robótica (IFR, na sigla em inglês) revelou que, em 202o, em todo o mundo, já existiam mais de 3 milhões de robôs operando nas fábricas, o que era correspondente ao dobro existente em 2015.

Direto para a realidade

Apesar de serem um assunto comum há mais de um século, foi no final dos anos 90, com a chegada da internet pessoal, que os robôs se popularizaram ainda mais. É o que afirma a jornalista e especialista em tendências Andrea Greca Krueger.

“Desde quando surgiram os primeiros computadores, fala-se de robôs e existe esse inconsciente coletivo de que eles vão dominar o mundo. É importante desmistificar a ideia do homem de lata e entender que eles estão no tablet, em um autoatendimento como estratégias ou apetrechos”, explica.

Beatriz Nagamine vive com a presença de robôs mais intensamente há pelo menos cinco anos, desde quando se mudou para o Japão. Apesar de não morar na capital, Tóquio, reconhecida internacionalmente pela tecnologia, hoje existem vários dispositivos no seu dia a dia que tornam a sua vida mais fácil. 

Em casa, seu interfone permite que ela veja a movimentação em frente à sua casa mesmo quando está ausente, as lâmpadas com controle remoto possibilitam várias programações de luz. Já quando precisa de algum serviço, como ir ao hospital, todo o atendimento é automatizado e os recursos abrangem do totem na recepção aos equipamentos para realização de exames. Nos restaurantes, já é comum esperar ser atendido por um robô garçom. Depois que o pedido é feito em um tablet, basta esperar o “atendente” chegar. Ele ainda interage a partir de uma interface que imita um rosto e notificações sobre sua direção com setas indicadoras. No supermercado, o carrinho funciona como um caixa ao fazer a leitura do código de barras e ao sair, é preciso apenas pagar no guichê.

“Eu acredito que a tecnologia vem com uma tendência de atender uma necessidade”, diz Beatriz, que saiu do Brasil como gestora de uma equipe de telemarketing e hoje trabalha em uma fábrica operando cinco máquinas diferentes. Mesmo com uma preparação de anos antes de se mudar, a mudança de país foi radical por conta da distância, da língua e das diferenças culturais ligadas à presença de tecnologia.  

O robô Pepper, projetado para ‘ler emoções’ e usado em serviços e varejo, foi um dos primeiros encontrados por Beatriz ao chegar no Japão (Foto: divulgação)

Robô curitibano 

Criada em 2017, a Human Robotics teve início em novembro de 2017 a partir do desenvolvimento de um robô pensado para auxiliar pessoas idosas que ficam muito tempo em casa. A ideia é que a tecnologia oferecesse as funções de entreter, conversar e monitorar o idoso durante 24h por dia. O responsável por pensar e desenvolver essa tecnologia foi o engenheiro de computação Olivier Smadja.

A partir do primeiro protótipo, novas ideias começaram a aparecer, como um robô voltado para o atendimento de crianças e um robô autônomo de atendimento e telepresença. Isso deu origem ao Robios Go. Com uma personalidade simpática, ele permite a melhoria da experiência dos clientes e da percepção das marcas. Seja em lojas, supermercados ou eventos, o Robios Go colhe e oferece informações e recomendações de produtos, além de levar os consumidores até eles. 

Se um consumidor não sabe onde encontrar determinado item, um pacote de macarrão, por exemplo, o dispositivo pode levá-lo até o setor de massas. Apesar de existir desde 2017, o Robios Go viralizou no início de 2024, em um vídeo publicado no TikTok, no qual um cliente de um supermercado do Rio de Janeiro pede auxílio à tecnologia para encontrar queijo ralado é  direcionado pelo robô. 

O empresário e desenvolvedor do robô explica que dar “um um corpo” à máquina foi a maneira encontrada de trazer a Inteligência Artificial para o mundo tangível, físico. “No Brasil a gente tem pouquíssimas empresas de robótica. No autoeatendimento, somos a única. Então, ainda tem muito trabalho pra fazer aqui”, afirma. 

Além deste, a empresa trabalha com outros quatro tipos principais de robôs, com diferentes funções: para carga de até 40kg, identificação de gôndolas com produtos em falta, detecção e atendimento de pessoas e autoatendimento via tablet.

Segundo Smadja, “as pessoas estão começando a conviver realmente com Inteligência Artificial e todas as grandes empresas investem em IA ou em robótica. No futuro, cada um vai ter um robô em casa.” Para o empresário, no entanto, os robôs não serão capazes de substituir as pessoas em todas as suas funções, apenas em tarefas repetitivas que não agregam valor.   

Humans first

Apesar de existirem robôs capazes de executarem as mais variadas tarefas, desde criar imagens a partir de comandos até limpar o chão, não existe uma máquina que exerça tarefas variadas e possa ser totalmente integrada ao dia a dia, a chamada “inteligência geral”. Talvez por isso, a ideia de um robô semelhante a uma pessoa ainda esteja longe  de se tornar realidade. 

Vale lembrar também que por trás de todo avanço e aprimoramento tecnológico, há um ser humano por trás. Esse é o motivo pelo qual os recursos ainda são imperfeitos e  alguns deles podem reproduzir “comportamentos” desvirtuantes, como respostas erradas e preconceitos. Prova disso são as problemáticas na busca de imagens no Google ou em bancos, que priorizam pessoas brancas e a falta de reconhecimento de rostos considerados “fora do padrão” por sistemas de reconhecimento facial.

Contratendência

No Japão, os robôs e a tecnologia como um todo representam, além de um atrativo turístico, oportunidades de acessibilidade, redução do custo da mão de obra, entre outras vantagens. Por outro lado, essa evolução pode ter influência na mudança de comportamento das pessoas. “Quanto mais você tem automação nos atendimentos, mais pessoas introspectivas você cria”, diz Beatriz. “Uma das coisas que me deixou chocada foi quando cheguei, peguei minha bicicleta, saí com ela na rua e não vi ninguém”, conta ela sobre uma de suas primeiras experiências no oriente. 

Os robôs são uma oportunidade de acessibilidade e redução do custo de mão de obra (Foto: divulgação)

Ao visitar o Brasil em 2022, Beatriz teve um outro choque: a dependência extrema de pessoas com o celular. “Apesar de aqui ser muito tecnológico, as pessoas não são reféns do celular e no Brasil eu me senti assim”. Para ela, isso se deve à naturalidade que os japoneses têm em relação à tecnologia e a multifuncionalidade que os brasileiros atribuem aos smartphones. 

Antes mesmo dos robôs estarem totalmente integrados ao dia a dia, um comportamento de contratendência busca fortalecer as relações humanas. Exemplos disso são programas e estabelecimentos nos quais a proposta é se desconectar da internet para se conectar a quem está por perto. Exemplos desses lugares ou aumento no número de buscas. Além disso, cresce o número de pessoas que preferem viver longe de aparelhos e recursos digitais. 

“Quem nunca ligou para uma empresa de telefonia e reclamou de falar com um atendimento automático ao invés de uma pessoa?”, questiona Andrea. “Quanto mais os robôs fazem parte do dia a dia, mais as pessoas anseiam por convivência humana”, explica a profissional. 

Em todo lugar, ao mesmo tempo

Em casa

Zenbo

O Zenbo, da Asus, que começou a ser vendido na China, funciona como um assistente para as funções diárias, como lembrar de compromissos e tarefas, contar histórias para as crianças, tocar músicas, tirar fotos e até ligar para a emergência.

Zenbo (Foto: divulgação)

No trabalho

Robô EVA

Desenvolvido pela Automata, o Robô EVA funciona em fábricas, com adaptações para segurar itens de tamanhos diferentes. Apesar de ainda precisar de aprimoramentos, a tecnologia promete ser capaz de realizar tarefas cada vez mais complexas e delicadas.

Robô EVA (Foto: divulgação)

NAS RUAS

ROBOTÁXI

Dividir os espaços de deslocamento com robôs deve ser mais comum do que nunca. A Uber Technologies Inc e a Motional lançaram o serviço público de robotaxi em Las Vegas em 2022 com os robôs de seis rodas da Cartken. Outras e-commerces e aplicativos também já se adaptaram à nova proposta.

ROBOTÁXI (Foto: divulgação)

No acesso

Atalante X

O exoesqueleto da start-up francesa Wandercraft é uma verdadeira revolução em acessibilidade, ao permitir que pessoas sem mobilidade nas pernas possam andar. Negociado pelo governo de São Paulo, a tecnologia deve ser disponibilizada para tratamentos no SUS (Sistema Único de Saúde) ainda este ano.

Atalante X (Foto: divulgação)

Na educação

NÃO

O NAO, desenvolvido pela United Robotics Group é um humanoide que pode ser usado como assistente em aulas e trabalhos. Ele tem uma personalidade pré-definida e aprende conforme o uso. Ele já chegou às escolas da rede de educação básica do SESI e do SENAI em algumas cidades de Santa Catarina. 

NÃO (Foto: divulgação)

Robótica na história

1495

O autômato, desenhado por Leonardo da Vinci, era uma espécie de armadura articulada.

Autômato (Foto: divulgação)

1737

Um androide que toca flauta e um pato capaz de comer e defecar são desenvolvidos pelo francês Jacques de Vaucanson.

Android (Foto: divulgação)

1770

O Turco era uma ilusão mecânica criada por Wolfgang von Kempelen que permitia a um jogador escondido operar uma máquina de xadrez.

O Turco (Foto: divulgação)

1961

Na General Motors, o Unimate é o primeiro robô usado comercialmente para erguer peças de metal.

Unimate (Foto: divulgação)

1972

O Wabot-1, capaz de andar e se comunicar, é desenvolvido na Waseda University, em Tóquio.

Wabot-1 (Foto: divulgação)

2005

Desenvolvida para fazer companhia a idosos, a Wakamaru é lançada pela Mitsubishi.

Wakamaru (Foto: divulgação)

2010

O Robonauta é desenvolvido pela NASA para explorar o espaço. Em 2011, ele viajou até a Estação Espacial Internacional.

Robonauta (Foto: divulgação)

2013

Criado pelo Google, o Schaft é capaz de tarefas como dirigir e subir escadas.

Schaft (Foto: divulgação)

*Matéria originalmente publicada na edição #288 da TOPVIEW.

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