CULTURA MúSICA

#Music: Pianistas paranaenses apresentam obra de John Cage em turnê nacional

O concerto raro de sonoridade peculiar irá circular, entre setembro e outubro deste ano, por cinco cidades brasileiras

As pianistas paranaenses Grace Torres e Lilian Nakahodo se apresentarão pelo Brasil com uma turnê da revolucionária obra do norte-americano John Cage (1912 – 1992), ‘Sonatas e Interlúdios Para Piano Preparado’. A tour ocorrerá entre os meses de setembro e outubro.

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John Cage (1912-1992) foi compositor, teórico musical experimentalista, escritor, multiartista e pioneiro da música de acaso ou aleatória, da música eletrônica, do uso de instrumentos não convencionais, bem como do uso não convencional de instrumentos convencionais. É considerado uma das figuras chave nas vanguardas artísticas do pós-guerra, pois contribuiu de forma decisiva para o desenvolvimento estético da música no século XX abrindo caminhos para outros compositores eruditos experimentarem sonoridades variadas.

Composta entre 1946 e 1948 com 16 sonatas e 4 interlúdios, a obra raramente é executada na íntegra em público. Grace e Lilian, integrantes do Coletivo Pianovero, foram as primeiras e únicas pianistas da América do Sul a gravarem a composição por inteiro, ao vivo. O feito inédito das brasileiras com o álbum ‘Preparado em Curitiba – John Cage: Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado’ foi lançado em janeiro de 2012, na 30ª Oficina de Música de Curitiba e no mês seguinte em Darmstadt, na Alemanha, no evento ‘Tage für Neue Musik’. De lá para cá o duo fez diversas apresentações no Brasil.

(Foto: divulgação)

O concerto tem duração de 70 minutos, indicada pelo compositor, e conta com a direção musical da pianista e professora Vera Di Domênico. A obra, uma das mais representativas do repertório erudito do século XX, revela a identificação de Cage com o pensamento indiano e dialoga com sonoridades das orquestras de gamelão da Indonésia.

A preparação do piano, que demora de duas a três horas para ficar pronto conforme as precisas indicações feitas por Cage, as quais chamou de ‘bula’, no caderno das partituras impressas da obra é o grande desafio do trabalho. O autor especificou não só o material a ser utilizado, de acordo com a característica de cada tecla, mas a localização e a distância entre elas e os objetos. “Pode não parecer, mas tudo é feito com muita técnica. As partituras foram escritas de forma tradicional. Não há nada de improviso, os fundamentos são muito sólidos”, conta a diretora.        

 Ao todo, 45 notas são preparadas para o ciclo de Sonatas e Interlúdios e diferentes métodos são usados para modificar o som original do instrumento. A inserção de diferentes objetos em suas cordas resulta em sonoridades inimagináveis.

“Existe ainda muito preconceito com a obra, pois muitos acham que a preparação agride o piano, pelo contrário, o acaricia. O resultado são sons assimétricos, porém delicados e sensíveis que lembram uma exótica orquestra de percussão”, explica Grace.

Parte do estudo, realizado no período de um ano pelas pianistas, foi feito em um piano convencional. Para poderem estudar em um piano de cauda preparado e criar uma relação auditiva com a composição tal como ela é, elas contam que foi preciso alugar um instrumento durante vários meses para que pudessem executar a obra.

Considerada como uma das melhores realizações de Cage, o objetivo da obra é expressar os nove estados emocionais, experimentados por qualquer ser humano, de acordo com a tradição hindu, conhecidos como rasa, são eles: o heróico, o erótico, o maravilhoso, o cômico, o patético, o furioso, o terrível, o abominável e a tranquilidade.

“Algumas notas soam como piano, outras não. A composição se encaixa perfeitamente nesta sonoridade. Tem muito respiro, muito silêncio. Os sentidos ficam aguçados, ouvimos o entorno, o tecido da nossa roupa, os ruídos das cadeiras, da plateia, insetos, tosses, pigarros. O mesmo acontece com o público. Alguns podem sentir até mesmo um desconforto porque não estão acostumados ou não esperam por isso em um concerto de piano”, avisa Lilian.

 Além dos concertos, o projeto também vai oferecer gratuitamente neste mesmo período miniconcertos didáticos para alunos da rede pública de ensino, bate-papo online interativo com a equipe técnica do projeto e oficina abordando a preparação de piano e a obra de John Cage.

“Estamos de volta com este projeto porque retomar o contato com esta obra visionária e tão relevante não só para a música, mas para as artes em geral, é uma oportunidade de aprofundamento, hoje podemos oferecer ainda mais ao projeto e ao público. É uma grande alegria poder realizar no Brasil um projeto com esta qualidade”, conclui Vera.

Sobre as pianistas

Grace Torres

(Foto: divulgação | Gabriel Stocchero)

Curitibana, compositora, produtora e Mestre em Música (UFPR). Integra o Coletivo Pianovero e o Fato, grupo autoral com 9 álbuns e shows pelo Brasil e exterior. Atuou como pianista em montagens como a “Ópera dos Três Vinténs”; com Lilian Nakahodo gravou ao vivo e fez concertos pelo Brasil com as “Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado”, de John Cage (2012-2016). Como compositora, criou trilhas premiadas para dança, teatro e audiovisual.

Lilian Nakao Nakahodo

(Foto: divulgação | Gabriel Stocchero)

Piracicabana radicada em Curitiba, graduada em Produção Sonora e Mestre em Música (UFPR). Pianista, compositora, produtora e editora de áudio, integra o Coletivo Pianovero e o Sons Nikkei, projeto de fusão musical Brasil-Japão. Ao lado de Grace Torres e Vera Di Domênico, realizou a 1ª gravação integral na América Latina, ao vivo, das “Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado”, de John Cage, além de concertos pelo Brasil (2012-2016).  Em 2022 lançou um EP com composições próprias para piano preparado.

Serviço

Quando: 26 e 27 de outubro, 20h

Onde: Teatro Paiol (R. Cel. Zacarias, 51 – Prado Velho)

Ingressos: ainda não há informações oficiais sobre ingressos, acompanhe aqui.

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