Coluna Marina Bertoldi, junho de 2017
TOPVIEW: O que é art advisory?
MARINA BERTOLDI: Nas últimas décadas aumentou o intereesse do público principalmente por arte contemporânea, enquanto o meio se manteve relativamente restrito – isso possibilitou o surgimento do trabalho do art advisor. Hoje há muitas aberturas de exposições em instituições e galeria e se pensarmos no mundo, pode-se ir a uma feira de arte diferente por dia. O indivíduo, colecionador ou não, não tem a disponibilidade de acompanhar tudo.
TV: Como você trabalha?
MB: Em primeiro lugar, o convívio com uma obra de arte se dá em muitas esferas, seu entendimento talvez nunca se dê por completo e isso é um ótima notícia. Está aí, em parte, a beleza do que faço. Trabalhamos para entender e atender as paixões do cliente. Desenvolvemos serviços como catalogação de obras, criação de narrativas, aquisições, vendas…
TV: Qual o perfil do seu cliente?
MB: Hoje, colecionadores e que estão começando uma coleção. Represento um aplicativo de gestão de coleções, o Collectrium, que ajuda a entender o que o colecionador já tem e para onde ir. Os que não são colecionadores chegam ávidos por conhecimento e querem entender o que terão em suas casas.
TV: Seu trabalho é também uma forma de trazer a arte mais acessível?
MB: Sim e não. “Tornar acessível” é uma expressão difícil porque pressupõe que uma atitude minha possa pura e simplesmente transformar algo, quando na realidade depende em grande medida do espectador. O artista criou uma obra, e eu posso até mostrar interpretações, contextualizar o trabalho, na carreira do artista e na história da arte, mas o entendimento verdadeiro só virá quando o indivíduo diante do trabalho se questionar, e internamente dialogar com o que vê e sente. O acesso depende portanto de aspectos que fogem ao meu controle, mas trabalhamos para facilitar esse caminho.
TV: Você também se preocupa em incentivar o trabalho de jovens artistas?
MB: Sim. Além de mostrar os jovens artistas que já estão representados por galerias para meus clientes, criei um projeto independente, que se chama Faisca, para divulgar e viabilizar o início da carreira de artistas que considero excepcionais, mas que ainda não são formalmente representados. Muitas vezes – e isso é uma boa coisa na minha opinião – leva alguns anos para que os artistas sejam representados, e esse momento inicial é muito importante. Acompanhamos o ateliê desses artistas, apresentamos críticos e curadores, sugerimos residências e participação em exposições e prêmios, articulando clientes potenciais.
TV: Como você vê a importância da educação em arte na formação do cidadão?
MB: É fundamental. Não tem como pensarmos em cidadania, em convivência, no coletivo, se não formos críticos em relação ao que está a nossa volta. Arte é uma forma para se pensar o mundo.
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*Matéria publicada originalmente na edição 200 na revista TOPVIEW.