Crônica editorial, por Ike Weber
Viver de forma interessante é meu principal objetivo. As viagens longas e distantes são o melhor caminho. O sonho de infância – viajar – foi transformado em projeto profissional e consolidado como estilo de vida, conectado à minha essência. Desde cedo, a vida me exigiu. Casei e tive a primeira filha bastante jovem, aos 23 anos. Acumulei empregos e tarefas para cuidar da família. “Quando alcançar os 40 anos, minha filha estará criada e espero percorrer o mundo”, planejava, sem ter deixado de visitar diversos países e de ter conhecido bastante o Brasil. Quando a idade chegou, me encontrou no auge da carreira profissional – era diretor de comunicação da Federação das Indústrias do Paraná.
Difícil o momento oportuno surgir espontaneamente, teria que ser provocado. Optei por um ano sabático e percorri, sozinho, sempre por terra e água, as três Américas, do Peru ao Alaska. O sonho virou trabalho: elaborei projetos, consegui patrocinadores, lancei livro, fiz exposições fotográficas e palestras pelo Brasil todo. Não retornei mais ao mercado formal. Segui pela Ásia, regressei admirado pela cultura, sabedoria e riqueza histórica. Escutar o estalar das tiras da mochila sendo ajustadas era o meu maior prazer. Para mim, viajar lentamente é vivenciar experiências únicas, compreender novos costumes e refletir, principalmente em lugares inóspitos. Se a jornada é longa, exótica e econômica, são fundamentais a adaptabilidade, a capacidade de improviso, a iniciativa, a criatividade e a força de vontade. Viajar é se deparar consigo, mas também é se encontrar com os outros. O isolamento ajuda a avivar a memória, a movimentar recordações e a provocar interiorização. Viajar sem pressa, mudando lentamente de cenário, é assimilar a existência até as entranhas, de forma única e visceral. É se perder nos dias para ganhar cada instante da vida.