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CRÍTICA: Os 7 de Chicago (2020) e a encenação de um filme

A impessoalidade do filme soa muito mais como desinteresse do diretor do que uma escolha criativa

Atualmente, é comum o espectador de um filme dar mais valor aos aspectos literários da obra do que aos aspectos cinematográficos. Aposto que quando elogia um filme, ou o recomenda para alguém, você destaca a história, o desenvolvimento da trama, a riqueza dos personagens ou a originalidade dos diálogos. É claro que o roteiro é fundamental em uma obra cinematográfica, mas ele representa apenas uma parte – gosto de imaginá-lo como o esqueleto – de um filme. O que te impacta diretamente são as escolhas formais que o diretor faz para ilustrar aquela história. Ou seja, não é só o que o personagem fala ou faz, mas principalmente como ele o faz: os ângulos de câmera que o enquadram, a escolha da trilha sonora, a linguagem corporal e inflexão do ator ao declamar os diálogos, o ambiente que o personagem ocupa e etc. Tudo isso – e muito mais – é o que chamamos de mise-en-scène, ou, para simplificar, a encenação de um filme. Mas não se sinta intimidado, pois é curioso observar como Aaron Sorkin, diretor de Os 7 de Chicago, também parecia muito mais inspirado ao escrever a obra do que ao filmá-la.

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O filme é situado em 1968, dentro dos tribunais onde ocorre o julgamento de sete acusados de conspiração, líderes de uma manifestação pacífica contra a guerra do Vietnã que se transformou em um confronto violento com a polícia.

Sorkin – vencedor do OSCAR de melhor roteiro adaptado por A rede social (2010) – reconhece sua aptidão como roteirista ao movimentar praticamente toda a trama no campo verbal. Os protagonistas se encontram naquela situação não somente por conta de seus atos palpáveis – a violência do protesto em si -, mas principalmente por sua eloquência no campo ideológico, o que acaba justificando a valorização do texto. E mesmo se passando nos anos 60, Sorkin é inteligente ao não investir em uma ambientação pesada: os carros e os figurinos podem ser de época, mas a narrativa é moderna, evidente nos diálogos atropelados (no bom sentido) e acompanhados de uma montagem frenética. Isso porque o diretor – opositor ferrenho de Donald Trump – deseja discutir algo que não se limita aos tempos do Vietnã.

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O problema é que essa roupagem contemporânea se limita apenas às inventividades de montagem, que intercalam os momentos do protesto com depoimentos ouvidos no tribunal e imagens de arquivo do período. Isso acaba não se sustentando por muito tempo, já que Sorkin parece não estar muito interessado em desenvolver o restante de seu filme imageticamente. Sua câmera é impessoal até demais e sua decupagem se limita a planos e contraplanos, sem uma visão muito inspirada. Isso, por si só, não seria um problema caso essa impessoalidade ao retratar as figuras centrais soasse realmente como uma escolha. Acontece que ela é rapidamente abandonada em prol de uma pieguice injustificada da metade para o final.

As atuações são boas, os diálogos excelentes, mas tudo soa meio desinteressante (Foto: reprodução)

De uma hora pra outra, os personagens – e o filme, consequentemente – abandonam a postura fria e sarcástica da situação, abraçando um sentimentalismo barato. O que antes era uma troca de farpas dinâmica, se torna uma babação de ovo banhada por uma música inspiradora e crescente! O final é pavoroso, cafona e te faz pensar se toda essa frieza sarcástica do início da projeção não passava de pura preguiça de Aaron Sorkin, que se viu com excelentes 120 páginas de roteiro, mas se abdicou de qualquer escolha criativa na hora de filmá-las, optando por um caminho seguro e desinteressante.

NOTA: ★★★☆☆


No OSCAR 2021, Os 7 de Chicago foi indicado aos prêmios de melhor filme, melhor ator coadjuvante, melhor montagem, melhor fotografia, melhor roteiro original e melhor canção original. O filme está disponível na Netflix.

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