ESTILO

Cinema feito por mulheres

Conheça alguns destaques da temporada 2020/2021 com direção e atuação de grandes mulheres

Falar de um “cinema feminino” é, de certa forma, redutor. A obra de cada diretora é um universo, composto por suas referências estéticas, experiências pessoais e formação artística. O fato de serem mulheres, embora seja essencial, não as coloca em uma categoria à parte. Talvez a expressão mais adequada e precisa seja “cinema feito por mulheres”. E 2021 deve entrar para a história como o ano delas!

O longa-metragem mais festejado da temporada é Nomadland, de Chloé Zhao, Chloé Zhao, diretora chinesa que, com o filme, venceu o Leão de Ouro (melhor filme) na última edição do Festival de Vaneza (2020) e tem fortes chances de ser a segunda mulher a ganhar o Oscar de melhor direção – a primeira foi Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror, em 2010. Nomadland traz a estupenda Frances McDormand no papel de Fern, uma viúva, na faixa dos 60 anos, que, após a grande depressão econômica iniciada em 2008, vê sua pequena cidadezinha morrer. Com o fechamento da empresa que era a força matriz da localidade, tudo definha rumo ao desaparecimento. Esse apagamento se estende à existência da personagem, que passa a morar em sua van e transforma-se em nômade, para sobreviver.

Bastidores da gravação de Nomadland, dirigido por Chloé Zhao. (Foto: divulgação | Searchlight Pictures)

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Desafiando gêneros, Bela Vingança, longa-metragem de estreia da diretora e roteirista inglesa Emerald Fennell, faz rir, comove e choca, para falar de abuso sexual e violência contra a mulher. A trama gira em torno de Cassie (a também britânica Carey Mulligan), uma ex-estudante de Medicina, curso que ela abandonou há alguns anos depois de viver um grande trauma. Ela hoje divide seu tempo entre seu emprego diurno em um café e suas aventuras noturnas. De bar em bar, boate em boate, ela desempenha o papel de uma espécie de super-heroína, cuja missão é provar que os homens se aproveitam de mulheres embriagadas, as forçando a fazer sexo. Fennell constrói um filme potente, que, sim, traz um olhar feminino, a respeito de um tema muito urgente.

Carey Mulligan em Bela Vingança. (Foto: reprodução | Amazon)

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Um dos melhores e mais premiados longas do último ano, Nunca, Raramente, às Vezes, Sempre, da cineasta americana Eliza Hittman, opta pelo realismo e evita o tom sentimental para tratar de um tema nevrálgico: o aborto. No centro do filme está Autumn (a revelação Sidney Flanegan), uma garota de 17 anos, estudante secundária que vive uma situação tensa dentro da própria casa. Tem uma relação discretamente hostil com o padrasto, e também é distante da mãe, que embora seja afetuosa, parece dividida entre o marido e a filha. Autumn é a personificação da angústia. Além da tensão familiar, ficamos sabendo que ela também sofre em silêncio assédio no colégio: garotos com quem estuda a chamam de vadia e dela abusam verbalmente. Ao descobrir-se grávida, ela terá de decidir o que fazer. 

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Vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2019, por Se a Rua Beale Falasse, Regina King fez uma potente estreia na direção com Uma Noite em Miami, que traz um relato fictício do encontro, em um quarto de hotel, entre o boxeador Muhammad Ali (Eli Goree), o líder Malcolm X (Kingsley Bem-Adir), o cantor de soul Sam Cooke (Leslie Olsom Jr.) e o jogador de futebol americano Jim Brown (Aldis Hodge). Nessa noite, eles discutem seus papéis no movimento pelos direitos civis e na revolução cultural dos anos 1960. King leva à tela uma afiada adaptação da peça teatral homônima de Kemp Powers, também autor do roteiro, com brilhantes atuações e uma pulsação que impressiona.

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*Coluna originalmente publicada na edição #247 da revista TOPVIEW.

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