ESTILO

Black power: uma luta que vai além dos cabelos

Histórias reais e inspirações que vão dos filmes as páginas dos livros

O assunto racismo ganhou uma grande visibilidade após a morte do norte-americano George Floyd, por policiais, nos Estados Unidos, em maio de 2020. Protestos pedindo justiça e respeito se espalharam pelo mundo todo e mais casos como esse começaram a ser gravados e denunciados. Nesta semana, o assunto que mais preencheu as redes sociais foi o preconceito ainda existente com o cabelo afro. Algo que por muitos anos precisou ser alisado e escondido, mas que hoje se tornou um símbolo de resistência e luta.

Como diz a escritora e ativista Djamila Ribeiro: “Os padrões de beleza são totalmente nocivos para a construção da autoestima da criança negra e por isso é importante outros referenciais, entender que pessoas negras também pensam o mundo e que fazem parte da construção da sociedade.”

Abaixo você confere alguns relatos de pessoas pretas contando como elas se sentem em frente ao preconceito, aquilo que serve de inspiração para elas e como elas se veem representadas quando o assunto é racismo.

Victor Luís, de 20 anos, na infância teve seu cabelo comparado com palha de aço

“Na minha vida sempre me senti inferior fisicamente por não ser branco e nem ter traços de gente branca, como o cabelo liso. Quando eu era criança, eu realmente queria ser branco. Com o passar do tempo, me dei conta de que isso era tudo besteira e me aceitei do jeito que sou. Fico muito feliz quando vejo artistas, atletas e celebridades comprando briga em prol da negritude, como na NBA onde os jogadores se ajoelhavam durante o hino se manifestando contra a violência policial com negros, como o caso mais recentemente que está enchendo o feed das redes sociais, onde a pauta do “cabelo duro” veio à tona e provocou reflexão nas pessoas. Ainda também quando jogadores de futebol se recusam a jogar por atos racistas da torcida.”, conta.

“Uma série que representa muito bem pessoas negras é “Todo Mundo Odeia o Chris“, porque ela mostra várias situações que eu passo no dia a dia, como a falta de representatividade, ser a única pessoa negra em um ambiente cheio de gente etc. Precisar ouvir comentários que são extremamente racistas mas que as pessoas que falam não percebem, como quando perguntam se eu estou fazendo faculdade por cota ou como já aconteceu de compararem meu cabelo com bombril, entre outros comentários desnecessários”.

Nathália Gonçalves, 18 anos, cresceu ouvindo que ter cabelo crespo era ser diferente 

“A infância é uma das fases mais cruéis na vida de uma pessoa com cabelo crespo. As crianças desde cedo, sob influência do racismo estrutural enraizado na nossa sociedade, nos enxergam como diferentes e ainda nos fazem acreditar que realmente somos. Ultimamente tem se debatido bastante, principalmente nas redes sociais, a questão da representatividade. Quando uma pessoa negra vê outra sendo a protagonista em um filme por exemplo, ela está enxergando além. Ela se sente contemplada, representada, correspondida, e isso é um avanço muito importante. Mas, o racismo estrutural continua ganhando espaço e, ao contrário de representação, pessoas pretas se identificam com o racismo sofrido por outras em âmbito mundial. Quantos George Floyd precisam morrer para que entendam que racismo não é brincadeira? Quantos comentários maldosos precisamos escutar até que consigam aceitar nosso cabelo, nossos traços, nossas marcas, nossa história? Estamos cansados de explicar o óbvio!”

(Foto: divulgação)

“O livro “O que é Racismo Estrutural”, do Silvio Almeida, é uma leitura indispensável para compreender esse tema e como o capitalismo age diretamente nele. Com toda certeza, o conhecimento é um dos maiores aliados no combate ao racismo, e acredito que se informar é o primeiro passo para desconstruir o que, desde cedo, nos é ensinado”, indica Nathália.

Por que não aprender um pouco mais sobre o racismo? Abaixo, selecionamos alguns livros, séries, podcasts e músicas para você entender, a partir da perspectiva de pessoas pretas, um pouco mais sobre preconceito e como combatê-lo. 

LIVRO: Lugar de Fala – Djamila Ribeiro

(Foto: divulgação)
Muito tem se falado sobre o conceito de lugar de fala e muitas polêmicas acerca do tema têm surgido. Fazendo o questionamento de quem tem direito à voz numa sociedade que tem como norma a branquitude, masculinidade e heterossexualidade, o conceito se faz importante para desestabilizar as normas vigentes e trazer a importância de se pensar no rompimento de uma voz única com o objetivo de propiciar uma multiplicidade de vozes.
 

SÉRIE: Cara Gente Branca

As mais refinadas faculdades americanas podem representar uma enorme carga de estresse para seus alunos. Tensões sociais, a pressão acadêmica e o medo que vem com a chegada à idade adulta podem ser aterrorizantes. Pior que isso, só se você for um afro-americano, tendo que lidar com os alunos majoritariamente brancos e os estigmas associados a você pela sociedade.

PODCAST: AFETOS por Gabi Oliveira e Karina Vieira

Autoamor não é autocuidado, é muito mais interno do que externo e para falarmos sobre isso, convidamos a incrível Drik Barbosa. Neste podcast as meninas citam: Vivendo de amor, da bell hooks; Educação não violenta, da Elisama Santos; Por que amamos, do Renato Noguera e O espírito da intimidade, da Sobonfu Somé. 

MÚSICA: ‘Dona de Mim’ – IZA

Pop político, a consciência de negritude e o apoio entre mulheres. Se por si só a música “Dona de Mim” da cantora IZA se apresenta como uma representação do empoderamento feminino, seu clipe arremata com uma relação de interseccionalidade entre raça e gênero.

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