ESTILO ARQUITETURA & DECORAçãO

As obras impactantes e polêmicas de Santiago Calatrava

O nome por trás do Museu do Amanhã transforma meras estações 
e pontes em megaesculturas 
ou catedrais futuristas

Tão controverso quanto o Porto Maravilha é o arquiteto responsável pelo recém-inaugurado Museu do Amanhã, principal símbolo da revitalização da zona portuária carioca: brinca-se que Santiago Calatrava acumula tantos prêmios quanto processos judiciais.

O próprio museu, um dos prometidos legados das Olimpíadas de 2016, dá pista da polêmica em torno do espanhol: custou R$ 85 milhões a mais do que o previsto inicialmente, teve quase dois anos de atraso e produziu opiniões conflitantes sobre sua estética (chegando a ser comparado a uma barata branca).

Ao mesmo tempo, é uma obra grandiosa que gera inegável interesse, inclusive turístico, à moda de superprojetos assinados por Zaha Hadid, Frank Gehry, Rem Koolhaas e mesmo Renzo Piano.

O fato é que o engenheiro, arquiteto e escultor tornou-se uma marca. Nascido em Valência, em 1951, ficou conhecido pelas pontes esculturais que projetou ao redor do mundo (a Ponte da Mulher, em Puerto Madero, Buenos Aires, é elogiada pelo encontro frutífero entre as três áreas de atuação do espanhol).

Mas foi sobretudo a partir dos anos 1990 que sua assinatura se estabeleceu, nas formas ousadas de centros culturais, estações de trem e torres de apartamentos de luxo: construções monumentais de ambição artística, geralmente brancas, em materiais como aço, concreto e vidro, que remetem a exoesqueletos.

Estados Unidos, Portugal, França, Itália, Catar, Israel, entre outros, receberam exemplares de suas “catedrais góticas em versões futuristas”, como já foi sugerido.

Do desdenho à idolatria

“Desde o visionário designer Antoni Gaudí não se combinava tão bem arquitetura, escultura e engenharia para criar trabalhos que parecem nascer da natureza”, avaliou a revista Time, acrescentando que Calatrava “cria espaços transcendentes que elevam o espírito humano”.

As mesmas obras recebem, porém, avaliações menos elogiosas, que não veem ali nenhuma Notre-Dame, mas formas extravagantes, complicadas de construir e incongruentes com sua funcionalidade.

Gostos e preferências à parte, ainda sobram aborrecimentos com as criações do arquiteto-estrela, em falhas estruturais e técnicas. Seu Museu de Arte de Milwaukee (2001), nos EUA, parece atrair mais visitantes do que o acervo em si, sobretudo pela cobertura móvel, que abre como asas de pássaros para aproveitar a iluminação natural – o problema, como lembra o crítico Fernando Serapião, é que a estrutura não funciona propriamente.

Sua ponte para pedestres em Veneza (1999-2008) custou três vezes o valor inicial (previsto em 4 milhões de euros) e rendeu um processo ao arquiteto pelo crescimento do custo de construção e “excessivas” reparações da obra.

Uma de suas maiores criações, a Cidade das Artes e das Ciências (2005-2009), em sua terra natal, também triplicou o orçamento inicial (300 milhões de euros) e apresentou problemas sobretudo na casa de ópera, que chegou a alagar e foi fechada por causa dos mosaicos que estavam caindo do teto. Nem sempre, porém, consegue-se determinar de quem é o erro.

Amanhã

O virtuosismo formal e as altas cifras parecem remeter ao período anterior à crise de 2008, enquanto a sustentabilidade, o papel social da arquitetura e a valorização do público e do coletivo (frente ao individual e ao privado) seriam questões mais condizentes com os tempos atuais e com o “amanhã” – o prêmio Pritzker, considerado o Nobel de arquitetura, foi conferido neste ano ao chileno Alejandro Aravena justamente por seu envolvimento com tais pontos.

No meio do debate, Santiago Calatrava diz que seu objetivo “é sempre criar algo excepcional, que valorize as cidades e enriqueça a vida das pessoas que moram e trabalham nelas”. Será o caso de sua primeira obra no Brasil? Lembrando a Torre Eiffel, que foi duramente criticada à época de sua inauguração, o arquiteto Marcos Bertoldi se pronunciou minimizando as polêmicas.

“A barata carioca (…) será incorporada à paisagem da cidade”, prevê o curitibano. “Gostemos ou não, depois de algum tempo será tão brasileira quanto o Pão de Açúcar e o Corcovado.”

Museu do Amanhã

Inaugurado no final de 2015, é um museu experiencial, que explora as conexões entre ciência, tecnologia e arte. A mostra principal, com curadoria do físico e doutor em cosmologia Luiz Alberto Oliveira, coloca questões sobre 
o futuro da humanidade, pensando as mudanças climáticas, a alteração da biodiversidade, o crescimento 
da população, o avanço da tecnologia, etc. No primeiro mês de funcionamento, recebeu mais de 100 mil visitantes.

A água da Baía de Guanabara é captada para abastecer os espelhos d’água e o sistema de refrigeração do museu. Painéis fotovoltaicos captam energia solar, aproveitando 
a estrutura da cobertura, que se move para acompanhar o posicionamento do sol.

*Ocupa 15 mil m² do Píer Mauá

*Espera receber 450 mil 
visitantes por ano

*3.810 toneladas é o peso da 
cobertura metálica do teto

*30 mil metros de pilares submersos suportam o peso do edifício

SERVIÇO

De terça-feira a domingo, das 12h às 20h
Ingresso: R$ 10 e R$ 5 (meia-entrada); 
às terças-feiras a entrada é gratuita.
Não há estacionamento.
Praça Mauá, 1, Centro
www.museudoamanha.org.br

 

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