ESTILO

A missão D’OSGEMEOS

Imersos em seu próprio universo, OSGEMEOS revelam detalhes da exposição “Segredos”

Gustavo e Otávio Pandolfo são quase um, são OSGEMEOS. Os artistas paulistas cresceram junto ao movimento hip-hop no Brasil e, com sua arte, tornaram-se conhecidos no mundo todo. Os traços específicos, que trazem uma identidade visual muito forte, foram construídos com muita referência e estudo ao longo dos anos.

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A exposição OSGEMEOS: Segredos, atualmente exposta no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, revela todo o processo artístico, desde o incentivo dos familiares na infância até a cultura hip-hop, que moldou o percurso dos artistas.

(Foto: Reprodução)

Para a TOPVIEW, Gustavo e Otávio falaram abertamente sobre a exposição enquanto desenhavam outro projeto. Uma hora, de olho na tela do computador, respondendo às perguntas da repórter, outra, traços e mais traços nos papéis.

Uma opinião pessoal: se você pretende visitar a exposição, recomendo que leia este texto. Esta conversa traz uma explicação com extrema profundidade de tudo o que é representado na mostra. E, caso já tenha a visto, tenho certeza de que esta conversa com Gustavo e Otávio vão abrir seus horizontes e fazê-lo (a) refletir sobre aquilo que havia interpretado na exposição. OSGEMEOS são um universo à parte. É a forma como eles enxergam o mundo — e sorte a nossa poder mergulhar com eles no desconhecido segredo de suas vidas.

(Foto: Reprodução)
(Foto: Reprodução)

A exposição OSGEMEOS: Segredos, escancara toda a trajetória de vocês enquanto artistas. Qual é a importância desse retrato tão profundo para vocês?

Gustavo: É a primeira vez que a gente faz uma exposição desse porte. Para nós, foi muito especial ter que ir atrás deste material e encontrar tudo isso. Conseguimos resgatar muitos desenhos da época de criança, desenhos que a gente, familiares e amigos tinham guardado.

Às vezes, como artistas, a gente não para para ver. Só pensa em produzir o próximo trabalho. E, na exposição Segredos, foi importante rever tudo aquilo que a gente produziu desde o início. E comparar, né? Tem desenho de quando a gente era criança que tem tudo a ver com o que a gente faz hoje.

A exposição revela o quanto vocês bebem da fonte do hip-hop e como acompanharam o início do movimento aqui no Brasil. Qual é a importância de enfatizar essas raízes?

Otávio: Na verdade não é que nós bebemos da fonte do hip-hop, nós nascemos dentro da cultura. Até então, não sabíamos o que era esse movimento, essa cultura, mas a gente se identificou. Foi amor à primeira vista.

Otávio: Uma das maiores influências que a gente teve foi nosso irmão mais velho — ele também desenha. Nós ficávamos horas vendo ele desenhar e ele sempre nos incentivou. O hip-hop era do lado de fora, mas, dentro de casa, tinham essas influências com o Arnaldo, nosso irmão mais velho. Então, não é que a gente fez do nosso trabalho o hip-hop, é uma mistura de tudo, na verdade, da nossa história. 

Como foi a busca pela identidade visual do trabalho de vocês e como o público pode ver isso na exposição?

Otávio: Além disso, os anos 1970 e 1980 foram uma época muito criativa. Por mais que tivesse aquela repressão, isso forçava você a ter um universo criativo e explorar esse lado. Se você pegar os músicos dessa época, você vê que eles são extremamente criativos. Foi uma época em que as pessoas estavam buscando maneiras de se expressar e se diferenciar das demais, ser autênticas, falar coisas que, para a época, eram extremamente importantes.

Gustavo: Eu acho que não é nem o lance da estética, “temos que buscar um estilo para podermos ser diferentes”, vai além disso. É uma coisa que vem da alma, uma coisa que vamos entender só depois da morte, algo que vai muito além do nosso plano. Para nós, isso é a nossa vida, a nossa missão. 

Há uma área muito legal na exposição que representa o surrealismo e traz uma semelhança com as obras de Salvador Dalí. Vocês podem falar um pouco sobre?

Gustavo: Eu acho que a gente pinta como enxergamos a vida. É como vemos uma árvore, uma montanha, uma casinha, as pessoas… nós vemos desse jeito e só materializamos isso. Para nós, esse universo é muito real e verdadeiro. É muito bonito guardarmos só para nós. Precisamos dividir com as pessoas porque é algo muito mágico, muito puro, de verdade.

É como se você fosse um filtro. Você vive aqui, neste plano, com as pessoas e esta sociedade, mas, paralelo a isso, você tem o seu universo, dentro de você, e é preciso materializar isso.

Como foi o processo de profissionalização de vocês?

Gustavo: Naquela época, pintar e expor em uma galeria era muito difícil. Você tinha que ter estudo universitário, o que era muito distante para nós. Então, um amigo nosso nos mostrou que era possível trabalhar só com arte

Tem muita gente que fala que o reconhecimento vem por meio da valorização, mas nós acreditamos que o reconhecimento vem primeiro por meio de nós. Como irmãos, eu preciso estar feliz com o que ele está fazendo e ele estar feliz com o que eu estou fazendo. Nós costumamos falar que somos os melhores críticos de arte um para o outro. Eu só escuto o que ele fala e ele só escuta o que eu falo.

Além disso, nós não estamos sozinhos, estamos abrindo portas para uma geração enorme de artistas que não tem oportunidade. Estamos mostrando que existem artistas muito bons e que não vêm de um mundo acadêmico tradicional de arte contemporânea. A gente vê muito isso na rua, no grafitti. Artistas muito bons pintando, mas que falta alguém olhar e valorizar os caras.

Eu queria saber um pouco da maneira de trabalho de vocês. Como vocês pintam e desenham juntos, como é essa relação?

Otávio: Na verdade, não sabemos explicar isso não. A gente só faz e nem queremos tentar entender, só queremos fazer.

Achei muito legal a intervenção que vocês fizeram fora do MON. Foi bem importante para nós aqui em Curitiba. O que vocês acharam?

Otávio: O MON entendeu o que está acontecendo no mundo. Sem contar essa experiência que a gente fez em Curitiba, com a resposta do público lá, que estava todo dia acompanhando, nunca vimos isso em nenhum lugar do mundo.

Muita gente tinha a curiosidade de entender como a gente pinta com o spray, como fazemos estes trabalho grandes, gigantescos, com lata de spray. Então, a exposição ficou completa, porque conseguimos também mostrar esse lado, ao vivo. Tipo uma performance. 

(Foto: Reprodução)
(Foto: Reprodução)
(Foto: Reprodução)

*Matéria originalmente publicada na edição #259 da revista TOPVIEW.

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