ESTILO ARQUITETURA & DECORAçãO

Y Arquitetos – poder de síntese

Da antiga rebeldia de estudantes surgem projetos questionadores e criativos
Um grande portão de ferro laranja chama a atenção de quem passa pela lanchonete Roots, na Avenida Vicente Machado. “Não temos medo de ser pop”, diz o arquiteto Pedro Sunyé.

Experimentação, questionamento, excentricidade e empatia são alguns dos termos que sintetizam a proposta do escritório Y Arquitetos, criado há pouco menos de dois anos pelos amigos Pedro Sunyé (1), 28, e Lucas Issey (2), 27. Aliás, poder de síntese é com eles mesmos: todos os projetos encabeçados pela dupla têm como marca registrada uma “peça-chave”, um elemento ao mesmo tempo capaz de transformar o espaço e chamar a atenção do público. Como o tobogã transportador de lanches da hamburgueria Whatafuck, na Avenida Vicente Machado, um marco da nova cultura local de divertimento na rua. Ou o imenso piso vermelho da cafeteria Barista, que se estende do interior da loja até a calçada. “Não criamos o escritório apenas para dar lucro. “Precisamos imergir na cabeça do cliente, para que a história dele tenha coerência com a arquitetura.”

“Precisamos imergir na cabeça do cliente, para que a história dele tenha coerência com a arquitetura.”

Todos os projetos contribuem para o nosso aprendizado e crescimento pessoal”, diz Sunyé. Formados pela UFPR, os dois contam que, logo no início do curso, adotaram uma postura crítica com relação à metodologia apresentada pelos professores. “Éramos os rebeldes. Estávamos conectados com o que acontecia de mais inovador na arquitetura do mundo inteiro enquanto nos ensinavam conceitos ultrapassados na sala de aula. Mas não era uma rebeldia gratuita”, garante Sunyé. Não mesmo. Tanto que ambos continuam ligados ao mundo acadêmico: Sunyé está terminando um mestrado na USP e Issey leciona em uma faculdade do interior.

O encontro entre o exótico brasileiro e a cidade contemporânea é uma das marcas do Ananã Coquetéis, que tem uma espécie de arquibancada de onde os clientes podem ver o trabalho do barman.

Outras características marcantes dos trabalhos do Y Arquitetos são a utilização de peças exclusivas (eles mesmos desenham todo o mobiliário), a otimização de espaços pequenos e a colaboração com mais de 20 profissionais da cidade – chamados de “coautores”. “Não costumamos repetir a mesma equipe. Nosso método para lidar com os problemas de cada projeto é multidisciplinar, por isso sempre convidamos pessoas diferentes, com especialidades diferentes”, explica Issey. Com um portfólio de 54 trabalhos concluídos, o escritório (que funciona no apartamento de Sunyé) também atua em projetos residenciais. A dupla já assinou 12 apartamentos e se prepara para ver sair do papel sua primeira casa. A obra começa em novembro, num terreno em Campo Largo, e é fruto de seis meses de conversas com o jovem casal contratante. “Mesmo nos projetos menores, levamos cerca de um mês só na fase de conceituação. Precisamos imergir na cabeça do cliente, para que a história dele tenha coerência com a arquitetura”, conclui Sunyé.

A “informalidade espacial” da hamburgueria Whatafuck, no Shopping Hauer: blocos revestidos de borracha espalhados pela lanchonete permitem que os clientes se acomodem com liberdade. No canto direito, o já famoso tobogã por onde os lanches escorregam.

*Matéria publicada originalmente por Omar Godoy na edição 204 da revista TOPVIEW.

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