Paisagem construída
Em continuidade à matéria 70’s – Os Mais Representativos Edifícios Residenciais de Curitiba da Década de 1970 – da edição #256, destacamos aqui o Edifício Springfield, o mais votado nas redes sociais do nosso escritório. O segundo colocado, Conjunto Cosmos, será objeto da próxima edição. Eles foram eleitos, respectivamente, campeão e vice-campeão, com o apoio da IDEE Incorporadora.
São obras que sintetizam o período de afirmação do Movimento Modernista Paranaense e condensam importantes características do seu tempo.
Para selecionar os 10 finalistas da competição, consideramos que arquitetura é contexto e época, portanto, tentativas de cópias de outros períodos não podem ser definidas como tal. Os mal apelidados “edifícios neoclássicos” jamais terão qualquer relevância, assim como uma arquitetura, algo em voga, excessivamente pautada por insights marqueteiros ou decorativa. Os arquitetos vão continuar a protagonizar a arquitetura e, juntamente com seus clientes, fundamentais nesse processo, podem e devem pautar os seus projetos.
O Edifício Springfield
Uma planta de perímetro retangular, um lançamento estrutural justo e adequado e um bloco vertical prismático e contínuo, do térreo ao último pavimento, bastam para diferenciar o edifício. Localizado no bairro do Batel e projetado por Orlando Busarello, Dilva Slomp Busarello e Luiz Forte Netto, o edifício foi concluído em 1975. A construção ficou a cargo de M.A. Berger
Sem embasamentos pretensiosos, fachadas misturando aleatoriamente linguagens e materiais, seja na frente e nos fundos, ou coroamentos em “bolo de noiva”, destaca-se por suas proporções equilibradas, inventividade e materialidade discreta.
Seu térreo, em proporções humanas, relaciona-se com os jardins circundantes e, por extensão, com a cidade. Suas fachadas, iguais nos quatro lados, fazem com que o edifício possa ser apreciado a partir de qualquer ângulo ou posição geográfica. Não existem fachadas principais para serem vistas ou fachadas subalternas, em que, normalmente, identificamos janelas de banheiros e áreas de serviço, além de materiais de revestimento baratos. O prédio mantém, do térreo ao último pavimento, o mesmo perímetro em planta e a mesma materialidade. Apenas sublinhado no primeiro andar por uma linha contínua de terraços, diferentemente dos outros andares, em que os terraços são intercalados e, na cobertura, por uma platibanda que repete os terraços contínuos, com o dobro da altura, em um elegante coroamento.
Para demonstrar as qualidades do projeto, o escritório de arquitetura nos presenteia com uma planta revolucionária, em que espaços são delimitados por paredes em arcos. Entendemos, assim, a total flexibilidade dos usos. A estrutura modulada e independente permite as mais variadas articulações programáticas, liberando as fachadas, compostas por balcões intercalados que caracterizam e movimentam o edifício, em um sofisticado e sutil equilíbrio estético.
Uma pureza plástica e formal advinda do conhecimento técnico e funcional e da sensibilidade estética dos arquitetos e não de elementos decorativos ou ideias aleatórias e descontextualizadas. O resultado, tão justamente, é reconhecido pela maioria da população. Boa fruição!
*Matéria originalmente publicada na edição #258 da revista TOPVIEW.