Gustavo Bittencourt pelos olhos de Marcos Bertoldi
Nosso convidado do mês é o jovem designer carioca Gustavo Bittencourt, muitas vezes premiado e com uma visão bastante voltada para todos os processos envolvidos nas produções, tais como: execução, fabricação, transporte, uso, desuso, manutenção e comercialização de peças. Ele não abre mão do lado artesanal ou de seus processos criativos: “Acredito que, quando colocamos a mão, como artesãos, passamos nossos sentimentos para o móvel, o que traz alma e o torna único.”
Seu desenho fluido e “magricelo” me interessou desde o início, acostumados que estávamos a um design de proporções generosas e oversized, inclusive de tradições cariocas, como aquele encontrado nas obras de mestres brasileiros como Sergio Rodrigues e Ricardo Fasanello.
Um design sedutor por suas formas, sua materialidade e suas proporções elegantes e que, apesar de limpo e por vezes metálico, convida a nos sentar e nos envolve. Tampouco se restringe à madeira, outra poética brasileira, mas se arrisca em paletas menos previsíveis de materiais, cores e acabamentos. O resultado é novo e arejado. Assistimos dessa forma à construção de uma linguagem pessoal, equilibrada e bela, adaptável a diversos usos e aos espaços da contemporaneidade. Boa fruição!
GUSTAVO BITTENCOURT
Em 2004, entrei na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para estudar Desenho Industrial. Iniciei o curso muito decidido sobre o que iria fazer, pois, desde muito cedo, convivi bastante com arquitetura. Minha mãe é arquiteta, trabalha com construção, interiores e móveis de design. Com o passar dos anos, durante a faculdade, fui conhecendo mais pessoas da área, pedindo estágios, inscrevendo-me em concursos de design. Acabei trabalhando com importantes designers brasileiros, que são referências para mim e me ajudaram muito a crescer e a amadurecer profissionalmente. Estudei na Itália, no Politecnico di Torino, ganhei alguns prêmios, fui finalista em outros tantos. E, depois de rodar bastante, formei-me em 2009. Inclusive, trabalhei em uma galeria em Los Angeles e estou desde 2013 com meu ateliê na região serrana do Rio de Janeiro, em Petrópolis, onde temos a proposta de desenvolver, produzir e comercializar nossos próprios móveis.
O Atelier Gustavo Bittencourt preza pela qualidade da matéria-prima, pelo feito à mão, valorizando a diversidade de madeiras, encaixes, materiais, texturas e detalhes. Tudo com muito carinho e dedicação, porque acreditamos em móveis atemporais. Gostamos de criar uma relação diferente entre nossos móveis e as pessoas. Acredito que todos nós temos um olhar, um ponto de vista sobre o que vemos, somos todos diferentes. E meus móveis são exatamente a minha interpretação sobre as formas, as misturas, como consigo me expressar, como transformo minhas referências e meus pontos de vista.
Gosto bastante de desenvolver meus móveis com um diferencial, criar uma relação com as pessoas, desenvolver uma interação, pois penso em móveis atemporais, que durem para uma vida inteira. Portanto, esses móveis acabam se tornando não apenas móveis, mas um bem imaterial, insubstituível, que vai fazer parte da família, de sua história.
*Coluna originalmente publicada na edição #253 da revista TOPVIEW.