ESTILO ARQUITETURA & DECORAçãO

Casas que abrigam histórias

Para além da arquitetura, as casas podem ser protagonistas de momentos e histórias de amor em família

O primeiro amor da adolescência. O pedido de casamento. O anúncio de uma gravidez. As celebrações de conquistas. As comemorações de aniversários. Os natais em família. Momentos tão especiais como esses podem acontecer em qualquer lugar do mundo, mas ganham um significado ainda maior quando são vividos em casa. Lançado no final do ano passado, o filme Here chegou aos cinemas com a proposta de contar uma emocionante jornada por milhares de anos que ocorre, do início ao fim, em um único lugar: a sala de casa.

A casa, afinal, é uma testemunha silenciosa da história de seus habitantes. A arquitetura vai além da função prática de abrigo e se transforma em palco do amor familiar. Em tempos de distanciamento, a ideia de morar perto de quem se ama talvez seja uma forma de resgatar algo essencial: o afeto.

Do lazer aos grandes momentos

É assim no Condomínio Malutron, em Morretes, no litoral do Paraná. Às margens do Rio Nhundiaquara, a ilha em que está conjunto de casas da família Malucelli e Trombini contempla belezas naturais e memórias afetivas: ali, gerações cresceram compartilhando experiências. “Nossa família chegou a Morretes em 1877. Meus tataravós se instalaram lá e toda a família Malucelli é originária dessa região”, conta Luiz Malucelli, um dos integrantes da quarta geração.

As famílias Malucelli e Trombini compartilham um condomínio e histórias. (Foto: arquivo pessoal)

Há quatro décadas, Joel Malucelli e Lenomir Trombini adquiriram a área e convidaram primos e amigos próximos para construir suas casas. O espaço, hoje com 25 residências, tornou-se um reduto privado de convivência e celebração. “Tem quadra de tênis, campo de futebol, beach tennis, área de refeições, pizzaria… E ali acontecem confraternizações muito bonitas”, relata Luiz.

Os encontros vão além das datas convencionais. Casamentos, aniversários e até caranguejadas na temporada do crustáceo fazem parte do calendário afetivo da família. “Temos muitas datas representativas. Temos também o Museu do Futebol e o Museu do Malutron. Tudo está registrado lá”, diz.

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O espaço físico das casas no Malutron parece tangibilizar o afeto entre os integrantes da família. Os almoços, as festas e a rotina esportiva compartilhada se transformam em uma rede que, muitas vezes, se desfaz nas grandes cidades. “Hoje em dia, muitas pessoas estão perdendo a identidade. Muita gente mora fora, deixa pais e avós para trás. E nós conseguimos manter a convivência com os mais antigos”, pontua Luiz.

O Museu Malutron guarda memórias do time que pertenceu à família. (Foto: arquivo pessoal)

O convívio entre gerações é uma das maiores riquezas da vivência no condomínio. “O mais importante é a convivência nos finais de semana. É fundamental que os mais jovens convivam com os mais velhos. Existe um elo de sangue, existe família”, afirma. Luiz ainda completa: “Tudo tem um significado na trajetória das famílias Malucelli e Trombini.”

O desenvolvimento compartilhado

Em Curitiba o afeto também encontrou refúgio entre casas vizinhas. Roberta Hauer cresceu cercada por irmãos e primos em um condomínio no qual a infância foi recheada de histórias, brincadeiras e refeições em família. “Sempre foi muito bom ter companhia na nossa infância, no nosso crescimento. Muita bagunça, festa e, claro, brigas entre irmãos sempre existiram”, lembra ela.

Enquanto os mais velhos se organizavam nas dinâmicas cotidianas, para as crianças, o ambiente era pura descoberta. “Morávamos em um condomínio. Eu e meus irmãos éramos pequenos, mas sempre juntos. Só saímos da casa dos pais para casar”, conta.

Familiares reunidos para a celebração do casamento de Angela Soul e Roberta Hauer. (Foto: arquivo pessoal)

A rotina familiar era marcada pela ajuda de funcionários e também por uma certa autonomia precoce. “Começamos a dirigir bem cedo. Quando eu tinha 14 anos, meu pai deixava a gente ir para a aula de carro. Mas todo ano viajávamos nas férias de julho juntos, pelo menos até as responsabilidades começarem. No verão, até hoje, vamos para nossa casa em Caiobá.”

O apego à casa da infância permanece vivo até os dias atuais. “Minha mãe ainda mora lá. Toda sexta ela faz almoço para os filhos e noras. Minha relação e minhas lembranças são muito boas. Pelo menos eu aproveitei muito aquela casa”, completa.

*Matéria originalmente publicada na edição #300 da TOPVIEW.

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