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blōma: Angelo Bucci traz a arte para primeiro empreendimento em Curitiba

Angelo Bucci, um dos principais nomes brasileiros da arquitetura contemporânea mundial, chega a Curitiba com o seu primeiro projeto: o blōma. O empreendimento da L`Espace Incorporadora, localizado no Ecoville, traz o conceito da arquitetura como arte. Para o arquiteto paulistano, a arquitetura como arte tem sofrido nos últimos anos com projetos focados apenas na rentabilidade e na replicação de projetos semelhantes entre si.

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“Sempre há um risco na ousadia, claro. Um prédio pronto dialoga com o seu entorno e você vai percebendo as reações àquele projeto. Há uma tendência de repetição dos padrões nas construções e, muitas vezes, ninguém lembra por que o projeto foi um acerto. Gosto de pensar que, exigindo pouco, conseguimos fazer um projeto que tenha um interesse arquitetônico para a sociedade. E o blōma terá esse interesse”, afirma.

Um espaço que ganhou destaque incomum no desenvolvimento do blōma foi a escada de incêndio. Em geral fora do campo de atenção dos arquitetos e comumente desenhada como um ‘core’ escuro, aqui, em contraste, a escada de incêndio terá papel relevante na personalidade do edifício e convida ao uso cotidiano. 

“Os elevadores são convencionais, mas o hall é panorâmico. Uma espécie de varanda protegida. Você abre a porta do apartamento e se surpreende com a luz, espera o elevador enquanto aprecia a paisagem. São dois halls, cada um deles dá acesso a dois apartamentos. Localizados nos extremos opostos, esses dois halls estão unidos pelas escadas”, explica Bucci.

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Bucci prefere olhar para coisas que normalmente nos escapam durante o processo de desenho. “Gosto de prestar atenção naquilo que usualmente é desprezado. No caso deste edifício poderíamos ilustrar isso nas escadas de incêndio.”

Quilômetro zero em uma obra

A consciência ambiental tem impacto no modo de se construir, no repertório de materiais e, portanto, nas formas e no modo de se desenhar. Interessante que ela tenha a escala do planeta e ao mesmo tempo coloque atenção em cada bioma e reconheça o valor dos pormenores que caracterizam cada lugar. 

Para Bucci, isso impacta diretamente no plano cultural e no plano urbano. Além de a cidade também ser percebida como um equilíbrio de forças, no plano arquitetônico a riqueza entre diferentes contextos culturais é valorizada, fugindo dos anseios de unificação formal que marcam a arquitetura há algumas décadas.

“Hoje, somos convidados a pensar cuidadosamente sobre a pertinência dos recursos que uma obra mobiliza na sua produção e nos materiais que ela aplica na sua construção. Por exemplo, o quilômetro zero, um conceito caro à arquitetura sustentável, sugere que os materiais deveriam viajar o mínimo possível. Interessante como isso aproxima a arquitetura de cada lugar ao seu contexto cultural e natural. Você pensa, por exemplo, no uso de uma pedra e, ao mesmo tempo, se ocupa em refletir sobre o vazio que produz a sua extração. Assim, a arquitetura vai se comprometendo a evitar extravagâncias, seja pelo custo ou pela sustentabilidade, como a ideia de trazer uma pedra que precisou cruzar o oceano vinda de outro continente para fazer o piso da sua sala”, observa.

São hipóteses que já não cabem. “É interessante pensar que, afinal, isso nos leva a fazer as coisas mobilizando menos recursos e, principalmente, ampliando os seus sentidos”, finaliza.

Qualidade arquitetônica x custos

Bucci é incisivo ao afirmar que a arquitetura é o desenho da economia. “O anseio da arquitetura é ser inclusiva, e não o contrário. A qualidade está na pertinência da solução, na sua viabilidade construtiva e no que corresponde aos modos de viver, colaborando para ampliar o nosso campo de possibilidades e estética. A arquitetura pertence antes ao campo da cultura, por isso não exclui. Ao contrário, ela convida. Nesse campo, o discernimento e a sensibilidade valem mais do que o poder aquisitivo”, reflete.

“A qualidade arquitetônica não impõe custos extras e a arquitetura é um pensamento sobre o uso econômico dos materiais e eficiência dos processos construtivos. Você pode fazer um prédio de ouro, mas ele terá que ser econômico”, completa.

Relevância arquitetônica

Bucci comenta que não é necessário construir um estádio para ter uma obra arquitetônica de relevância, “A graça é exatamente o contrário disso. Fazer algo menor que entra no diálogo da arquitetura com o urbano. Gosto dessa ideia de que a beleza desse campo ínfimo de invenção seja onde caiba a humanidade do autor do projeto. Mas do autor, que é uma pessoa querendo conversar com as outras e não um autor que é uma grife carimbando um edifício. A arquitetura é feita por alguém que está vivo e conversando, que erra, acerta e arrisca.”

O arquiteto explica que duas coisas foram marcantes no desenvolvimento do projeto. O desnível relevante da frente para o fundo do terreno, o que impõe uma implantação muito mais desenhada e o arranjo da torre em si. “Esses detalhes são interessantes e foram apropriados ao projeto. Teremos, por exemplo, um térreo que na verdade será um duplo térreo. A entrada da garagem e o térreo da torre estarão em nível com a rua. Por consequência, o arranjo da torre em si está muito ligado a essa intenção de adaptação ao terreno.”

“O edifício terá um desenho diferente, puro e muito elegante, explorando materiais autênticos como concreto, madeira, vidro”, descreve o arquiteto Alexandre Dely, um dos empresários à frente da L´Espace Incorporadora, que foi buscar a elegância escultural de  Angelo Bucci para o projeto.

Detalhes do blōma, por Angelo Bucci,  em Curitiba

Os apartamentos, gardens e coberturas de 110 a 180m² do blōma têm plantas versáteis, jardins privativos, lindas vistas para a cidade. O roof garden, um espaço de uso comum no alto do blōma, foi projetado para encontros informais, realização de festas e pequenas recepções, momentos de relaxamento e lazer. O espaço possui área coberta e descoberta, jardim, espaços de descanso com sofás, poltronas, lareira externa e wine bar. Na área externa do edifício, há espaço verde para meditar, praticar yoga, exercícios físicos e fazer um piquenique. 

O edifício traz também mudanças, sempre sutis mas importantes, no que o prédio sugere como modo de morar, com áreas comuns como uma extensão dos apartamentos. O empreendimento traz ambientes que permitem usos diversos para o mesmo espaço, com paredes que abrem e fecham, criando uma divisão conforme a necessidade dos moradores. Um exemplo disso é a releitura do espaço gourmet, que no blōma foi pensado para se adequar a um uso profissional dos moradores durante o dia, permitindo a recepção de trabalho, reuniões privadas entre outros, otimizando assim um ambiente que fica, na grande maioria do tempo, ocioso nos edifícios.

O arquiteto Alexandre Dely explica que os espaços de morar devem ser preenchidos por histórias de vida. “Trazemos uma proposta de produtos únicos que tenham a alma das pessoas. Por isso, assumimos o desafio de equilibrar a arquitetura pura com a arquitetura comercial.”

Outro ponto de destaque, nessa análise, é o espaço da invenção nos projetos e a expressão da humanidade. “Às vezes é nos detalhes aparentemente insignificantes que cabe alguma invenção. Justo ali é que se vai perceber, depois da obra pronta, um autor humano, uma pessoa disposta a dialogar com as outras. É no risco implícito da invenção — pois é onde está a possibilidade do erro — que se dá conta que um projeto é feito por gente viva”, acrescenta Bucci.

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