ESTILO ARQUITETURA & DECORAçãO

Sustentável Leveza do steel frame

por Daniélle Carazzai

A arquitetura e a construção civil podem ser grandes aliadas da humanidade no uso racional dos recursos naturais. Mas o sistema construtivo Light Steel Framing (LSF), ou simplesmente steel frame, não começou a ser utilizado na América do Norte – onde se consolidou – por este motivo, e sim devido à vantagem de ser mais seguro diante de intempéries naturais, como ventos fortes e terremotos.

Também se difundiu na Europa pela rapidez, muito necessária em pós-guerras, e, mais tarde, pelo uso reduzido de água e menor geração de resíduos. Oceania e, mais recentemente, a América do Sul – especialmente Chile – abraçaram o steel frame também. Entre os chilenos, o sistema ganhou mercado devido à sua agilidade diante da necessidade de que imóveis fossem reconstruídos após o terremoto que devastou o país em 2010. O sistema é bem parecido com o wood frame (técnica construtiva que usa lâminas de madeira), já mais conhecido dos brasileiros. Entretanto, no steel frame a madeira é substituída por perfis de aço galvanizado como principal elemento estrutural.

 

Finalizada, casa em LSF atende as complexidades de projetos contemporâneos de alto padrão.
Finalizada, casa em LSF atende as complexidades de projetos contemporâneos de alto padrão.

 

EM SOLO CURITIBANO
Primeiro, um esqueleto estrutural da casa, composto por painéis em perfis de aço, é montado sobre a fundação. Em seguida, os espaços são preenchidos com painéis de madeira, os chamados OSB (Oriented Strand Board), unidos em diversas camadas – o que aumenta a resistência mecânica e a rigidez – com um tipo de resina resistente à umidade. Depois são feitas as instalações elétricas e hidráulicas. Não há reboco, corte de tijolos, nem grande geração de resíduos e consumo de água na obra, que fica pronta até seis vezes mais rapidamente do que uma construção de alvenaria. O uso do concreto se limita à fundação da residência.

A construtora Monreal é uma das que apostam no método. “Na Califórnia, conheci o sistema e mais tarde visitei a fábrica da LP (maior produtora mundial de OSB), no Chile, onde o LSF está hoje em 80% das novas construções, especialmente por ser mais resistente aos terremotos, comuns na região”, afirma o engenheiro civil e sócio-proprietário da Monreal, Cassiano Garcia. “A evolução foi inevitável, embora ainda ofereçamos aos clientes brasileiros os projetos em alvenaria porque essa mudança está em processo no país.” A expectativa da Monreal é de crescimento. Após dois projetos bem-sucedidos no ano passado, já tem pedidos para 2015.

 

Não é de agora que Curitiba é palco de tentativas para emplacar as residências feitas em LSF. Os sócios do escritório Maganhoto e Casagrande Arquitetura já investiram em seu próprio loft no ano de 2005. “O mercado de steel frame tem melhorado bastante nos últimos quatro anos, mas muitos clientes ainda precisam constatar que a obra é realmente resistente”, conta Daniel Casagrande. Para ele, as vantagens são muitas. “Além de ser leve e de construção rápida, essa estrutura é resistente ao fogo e segue todas as normas da construção civil, com produtos homologados, a maioria deles já fabricada no Brasil”, explica. O diretor da Montare Sistemas Leves, Paulo Afonso Marins de Souza, atua há sete anos nesse mercado como distribuidor de materiais e reforça que atualmente as matérias-primas necessárias são facilmente encontradas em alta qualidade no Brasil, com empresas nacionais e multinacionais.  Ele explica que o custo do steel frame é semelhante ao da construção convencional de alvenaria. Mas a rapidez construtiva – em torno de 50% – confere grande ganho financeiro, principalmente em empreendimentos comerciais, além de o custo da manutenção das unidades ser sensivelmente inferior. Segundo o empresário, as vendas têm aumentado em cerca de 30% ao ano nos últimos cinco anos.

Além das residências, também estão na lista de empreendedores estabelecimentos comerciais e galpões. “O LSF permite adequar o projeto para situações como isolamento térmico ou acústico e equilíbrio de umidade no ambiente, evitando o conhecido problema de umidade ascendente nas paredes”, explica Renan Hessel da Cunha,  gerente geral da SMART Sistemas Construtivos Inteligentes, que tem sede em Ponta Grossa (PR) mas atua também em Curitiba.

 

PROJETOS PERSONALIZADOS
A Monreal montou uma casa show com toda a complexidade de um projeto exclusivo e bem contemporâneo para divulgar as possibilidades do LSF. “Queríamos garantir que tudo o que nossos clientes exigem fosse possível de fazer nesse sistema”, explica Cassiano Garcia.  O que se vê na casa são itens como pé direito de sete metros, escadas vazadas, todo tipo de revestimento, ripado de concreto aparente e coberturas de vidro. “Tudo para ver se o sistema comportava.”

Segundo Garcia, qualquer projeto pode ser feito pelo sistema LSF, seja partindo do zero ou ainda adaptando um projeto tradicional que já esteja pronto. Nesse caso, a vantagem do steel frame é a precisão, uma vez que as placas OSB são quase milimetricamente perfeitas. “O que não acontece com os tijolos, por exemplo.”

 

 

A principal desvantagem ainda seria o orçamento, que no steel frame geralmente é maior, mas não acima de 5% da obra. “`Mas se levarmos em conta a limpeza, a agilidade e toda a sustentabilidade que envolve a construção, a diferença é muito baixa”, acrescenta Casagrande.  Outro porém seriam casas com subsolo. No sistema LSF, o pavimento ficaria em contato com a terra, portanto a parte inferior precisa ser executada no sistema convencional.

Com a escassez cada vez maior de mão de obra para as construções convencionais, o steel frame vai se consolidando como uma das opções no Brasil também pela redução do número de trabalhadores necessários na obra devido à industrialização da matéria-prima necessária. “No LSF existe uma grande tendência de evolução técnica e redução de custos, enquanto a construção tradicional já vem demonstrando aumento de preços nos últimos anos”, finaliza Hessel da Cunha, da SMART.

 

 

STEEL FRAME: POR QUE NÃO?

Vantagens
Rapidez: materiais industrializados possibilitam que a obra seja finalizada até seis vezes mais rápido do que uma construção de alvenaria.
Sustentabilidade: o aço é material 100% reciclável; há menos geração de entulhos e uso de água na obra; e a proteção térmica reduz o consumo de energia na residência.
Conforto: as placas de OSB promovem isolamento termoacústico.
Segurança: as placas OSB são preenchidas com lã de vidro antichamas.
Resistência: o aço não sofre alterações provocadas pelo tempo, como expansão, desencaixe e mofo.
Precisão: o material vem cortado e furado de fábrica.
Versatilidade: total flexibilidade para a escolha de perfis arquitetônicos, acabamentos internos e externos e reformas.
Retorno rápido de investimento: a finalização mais rápida agiliza o retorno de capital de incorporadoras, investidores e obras comerciais.
Alta durabilidade e resistência: os materiais passam por rigorosos controles que garantem durabilidade e resistência à construção.
Precisão no orçamento: com materiais já prontos, é possível ser fiel ao orçamento, com
total controle de custos.

Desvantagens
Mais caro: o custo ainda é um pouco superior, mesmo com prazo de construção reduzido;
Pouco difundido: o tradicionalismo do consumidor ainda impede a difusão da técnica.
Mão de obra: precisa ser especializada.
Umidade nas paredes: apesar de facilmente resolvida por profissionais capacitados já no início da obra, se a empresa construtora ou o proprietário não derem atenção a isso durante a obra, pode se tornar um problema futuro.
Subsolo em alvenaria: se o cliente quiser uma casa com subsolo, terá de executá-lo no sistema convencional, uma vez que no steel frame as paredes ficam em contato direto com o solo.

 

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