CULTURA ARTES

O novo conceito de luxo: experiências, arte e autenticidade

A busca por vivências autênticas e significativas redefine o nosso conceito de exclusividade

A palavra “luxo” é constantemente associada ao exagero, ao que é mais opulento, mais caro, mais exclusivo, mais, mais e mais um monte de tudo. Mas estamos em 2025 e, embora tudo isso continue sendo abordado, a gente bem sabe o quão kitsch é o exagero em tempos tão conturbados para a humanidade.

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Vivo entre mundos distintos, frequento lugares antagônicos (salas de desfiles de alta-costura, hotéis luxuosos, metrôs, trens, ruas lotadas de gente) e posso dizer: a sutileza de alguns detalhes é o luxo de hoje, porque toca a alma da gente com cuidado, sem atravessar a ideia ou a vida do outro. Em breves linhas, cito o que vejo como luxo, deixando de lado a parte material dele e focando o que nos eleva a um estado puro de alegria, o que, para mim, é o luxo verdadeiro.

Muita gente tem deixado de lado o consumo de objetos para focar vivências, o que vem ao encontro do que eu sempre pensei sobre sentir a sensação de luxo. Vale mais a exclusividade de uma vista limpa em frente ao mar, de uma praia deserta em uma ilha na Itália, do que os grandes movimentos dos lugares ditos de moda, em que estamos à vista de todos, mas não forçosamente em uma situação de bem-estar, de “relax”, de contato com o lado íntimo do que o luxo de antigamente se propõe: ao que não ostenta.

Exato. Luxo é não ostentar, é ser discreto no consumo e na maneira que se aproveita os bons baratos da vida, que vêm, claro, envelopados muitas vezes em bandejas de prata ou, porque não, de uma palha linda produzida por nativos de alguma parte do mundo.

É um luxo vivenciar o que pouca gente vê. É um luxo descobrir um novo autor, autora de poesia. Aliás, é um luxo amar a arte pura, a que ainda não virou pop. É luxo ser simples, mas não para querer parecer e, sim, porque se é verdadeiramente, porque entendeu-se que, ok, as nossas conquistas devem ser comemoradas, os nossos esforços gratificados, mas é importante que isso seja feito com leveza, pois a nossa evolução passa pela emoção, pelo sentimento e pela experiência, e isso é um fato que historicamente deve ser levado em conta. Se deixarmos as aparências de lado, o que fica de nós?

Já pensaram que luxo poder se libertar do que não se carrega ao além para o qual todos nós estamos destinados? Já pensaram em deixar legados para a eternidade que possam proporcionar felicidade aos que virão depois de nossos tempos apocalípticos? Minha sugestão é deixarmos tudo o que é supérfl uo de lado e, por alguns instantes de nossos dias, dedicarmo-nos a produzir o luxo nosso, aquele que ninguém nos tirará, aquele que nos eternizará. Aquele que falará ao outro quando nos calarmos.

*Matéria originalmente publicada na edição #297 da TOPVIEW

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