Como identificar o autismo
O jornalista carioca Luiz Fernando Vianna lançou em 2017 o livro Meu menino vadio, sobre o relacionamento com o filho com autismo e os percalços no tratamento – sobre os quais fala nesta entrevista.
TOPVIEW: Como identificou que seu filho, hoje na adolescência, tem autismo?
Luiz Vianna: O atraso na fala foi o primeiro sinal. Por volta de dois anos, ele falava muito pouco. Mas éramos pais de primeira viagem, não tínhamos informação sobre autismo. Procuramos uma fonoaudióloga, outras terapeutas, mas demoramos a reconhecer que era mesmo autismo. O diagnóstico só foi fechado quando ele tinha quatro anos. Antes, sofremos com uma pediatra que ignorou nossas preocupações (disse que nós o mimávamos muito); com uma psicanalista desatualizada, que dizia não querer dar diagnóstico; e depois veio uma terapeuta comportamental despreparada e de má-fé. Não foi fácil, mas acho que a situação melhorou no Brasil na última década.
TV: No livro e em entrevistas, você diz que é preciso tirar a aura de glamourização do autismo. O que quer dizer?
LV: Eu não gosto quando dizem que é uma bênção ter um filho com autismo. As pessoas têm todo o direito de lidar com o assunto da maneira que acharem melhor, mas essa visão um tanto cor-de-rosa mascara o problema, faz com que ele fique mais privado do que público (e o Estado precisa saber das nossas dificuldades e ser cobrado) e pode ser sufocante para quem se esforça para sustentar essa visão.
TV: O tratamento do autismo costuma ser caro e depende de uma abordagem de várias áreas, como fonoaudiologia, psicologia, psiquiatria. O que funcionou para o seu filho?
LV: Nada funcionou integralmente, porque, por causa da separação dos pais, ele passou por muitas mudanças de rotina, já tendo vivido na Austrália, nos Estados Unidos e, em alguns períodos, no Brasil. Creio que isso prejudicou muito o seu desenvolvimento. Mas a terapia comportamental o ajudou a entender certas regras e a se concentrar mais. Só que não endosso grande parte dos preceitos comportamentalistas. Acho que terapias relacionais, como o Floortime, teriam surtido mais efeito com ele. Mas não foi possível tentar, por causa das várias mudanças de rotina que ele sofreu na vida.
TV: Que conselhos daria para pais que têm filhos autistas?
LV: Não tenho conselhos para dar, cada caso é um caso. Só costumo dizer que o autismo não é uma tragédia nem uma comédia. Não concordo com a ideia de que é uma benção, mas também não acho que dá pra pensar que o mundo acabou. O luto é terrível, mas ele pode passar e, como se diz, ser transformado em luta.
Meu menino vadio, de Luiz Fernando Viana, foi publicado pela Editora Intrínseca e está à venda na Amazon, Saraiva, Livraria Cultura e Submarino.