ESTILO CULTURA

Roberto Parmeggiani e a importância da leitura na infância

Em entrevista exclusiva, o pedagogo italiano Roberto Parmeggiani, autor de vários livros infantis, fala sobre a importância da leitura para as crianças

Ele é italiano, mas adotou o Brasil de coração. Depois de viver por aqui por dois anos, em que trabalhou como voluntário na periferia de São Bernardo  do Campo (SP), o pedagogo Roberto Parmeggiani voltou a seu país e começou a escrever literatura infantil – em português. Desde então, seus livros foram publicados em Portugal, Espanha, Itália e Coreia do Sul, e frequentaram listas de melhores do ano no Brasil. Na entrevista a seguir, Parmeggiani, que é formado pela Universidade da Bolonha e trabalha com a inclusão de crianças com necessidades especiais fala sobre a importância da leitura e a integração das diferenças.

TOPVIEW: Na era digital, vale qualquer tipo de leitura, e-book, tablet, smartphone e celular?

Roberto Parmeggiani: Para as crianças, o livro de papel ainda tem muito valor. É difícil que um livro digital proporcione a mesma experiência com imagens. Perde um pouco da magia das cores, da experiência tátil. Dependendo da idade, a criança nem precisa ler até o fim. Às vezes, é só o contato com as imagens, as cores, e tudo bem. A criança olha o livro, deixa num canto, vai brincar, volta e olha de novo.

TV: Por que se lê pouco?

RP: No ano passado, fiz uma palestra para estudantes de cerca de 17 anos. Eles tinham muito interesse no trabalho do escritor e ficaram fascinados ao perceber que muito do que assistem na TV e em séries começa com um texto escrito, um roteiro. O mundo literário pode se mostrar aos olhos das pessoas em qualquer situação do dia a dia. Infelizmente, o sistema educacional na Itália ainda vincula muito a escrita às tarefas escolares, não existe liberdade maior para escrever. A mesma coisa com a leitura: os alunos leem sempre para aprender algo. Isso a torna uma obrigação, e não tem que ser assim. A primeira função da leitura é o prazer. As pessoas leem simplesmente para se sentir bem. E “se sentir bem” significa também conhecer novos mundos, se informar, mas de maneira espontânea, não compulsória.

TV: Como família e escola podem ajudar na inclusão de diferenças e diversidades?

RP: A inclusão não é uma postura individual. Deve ser uma decisão conjunta da família, da escola e da sociedade. A diversidade pode aproximar em vez de afastar. Mas a escola e a sociedade, em geral, exigem que as crianças sejam como elas querem e não como realmente são.

TV: No que se refere à integração e inclusão das diferenças, a literatura pode ser um instrumento de transformação?

RP: Tudo começa quando enxergamos a literatura como ferramenta para organizar os pensamentos e nominar aquilo que sentimos. Isso é importante porque quando identificamos o que passa pela cabeça ou pelo coração, temos possibilidade de decidir, com segurança, o que queremos.

TV: Quais assuntos ainda considera tabu em sala?

RP: Temas como morte, guerra, diferença  de gênero ou religião não são fáceis, mas devem ser afrontados porque fazem parte do mundo e as crianças devem ter instrumentos para aprender a lidar com esse desafio.

Matéria escrita por Roberta Gonçalves e publicada originalmente na edição 201 da revista TOPVIEW.

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