ESTILO

Os tesouros de Paris e Amsterdã

Hotéis com design renomado e serviço impecável; restaurantes premiados pelo Guia Michelin... Há um universo luxuoso além da Torre Eiffel e da Casa de Anne Frank

Na porta do meu quarto, em Paris, há uma rosa. O detalhe, uma tradição do hotel, é como um presente de boas-vindas. Uma obra-prima esculpida pela natureza e posta ali para dizer ao novo hóspede que ele é mais que bem-vindo – deve se sentir em casa. Dentro, em um volume agradável, toca uma sinfonia clássica daquelas que te transporta para grandes óperas – ou por momentos inesquecíveis da sua vida. Deixo a música rolar. Uma viagem é feita de sons, sabores e cheiros. A trilha sonora eu já tinha. Faltava explorar outros sentidos em Paris e também Amsterdã, o segundo destino do meu roteiro de luxo pela Europa.

PARIS

Dormir onde Marlene Dietrich e Grace Kelly já dormiram

O hotel-boutique Lancaster – esse da rosa na porta do quarto – foi a primeira parada. Membro da The Leading Hotels of the World (a principal associação de hotéis de luxo do mundo), fica há poucos passos da Champs Élysées. Enquanto em um minuto você é só mais um na multidão às compras, no outro, é como se voltasse à casa onde cresceu, aos fartos almoços de domingo e às confortáveis sonecas no sofá. Faz sentido, já que foi construído em 1889 com a pretensão de ser “apenas” uma luxuosa mansão particular. A arquitetura é clássica e também pudera: a carga histórica do lugar é poderosa. Os móveis, relógios, pinturas e lustres que adornam o Lancaster foram adquiridos em casas de leilões de Paris. Parte do mobiliário era de Luís XV e XVI. É o tipo de lugar com carisma natural. Um ponto tranquilo no agito de Paris – que já hospedou personalidades como Marlene Dietrich, Clark Gable, Greta Garbo, Robert Capa e Grace Kelly. E se depois de um dia de compras pela cidade-luz sua única vontade for descansar, pode relaxar na banheira com os mimos da francesa Clarins enquanto ouve Bach, Mozart, Chopin, Vivaldi e outros ícones da música clássica, estrategicamente colocados para tocar pelas camareiras.

_7 Rue de Berri, 75008 Paris.
+33 1 40 76 40 76.

Jantar com o chef que tem duas estrelas Michelin

Julien Roucheteau, o chef do La Table du Lancaster, é tímido e discreto. Não fala inglês, tão pouco português. A introspecção, no entanto, não o impediu de ganhar duas estrelas Michelin. É concentrado, focado e cria seu menu com produtos da estação, no melhor estilo slow food. Para o jantar, ele prepara um inesquecível peixe vermelho grelhado acompanhado de risoto de erva-doce e caldo de lagosta. Forte, mas equilibrado. A experiência se torna ainda melhor – e original – se você topar jantar ao lado dele na cozinha, enquanto o vê finalizando o prato bem ali, na sua frente.

_7 Rue de Berri, 75008 Paris. +33 1 40 76 40 76.

Conhecer a curadoria de arte da Louis Vuitton

Picasso, Matisse, Monet e Cézanne são só alguns dos nomes na nada convencional Fondation Louis Vuitton. Isso até fevereiro de 2017, quando o acervo do museu se renova. Criado em 2006, a pedido de Bernard Arnault, presidente e diretor executivo do grupo LVMH, o espaço é um grande centro de propagação cultural e, além da coleção permanente, conta com o acervo da própria LV e a coleção pessoal de Arnault. É must go em uma ida a Paris. Do terraço, tem-se uma visão especial da cidade e fica mais fácil compreender cada detalhe da arquitetura futurista do prédio de Frank Gehry, canadense que já ganhou um Prêmio Pritzker, uma espécie de Nobel da arquitetura.

_8 Avenue du Mahatma Gandhi, 75116 Paris. +33 1 40 69 96 00.

Se hospedar em um palácio decorado por Philippe Starck

Também membro da The Leading Hotels of the World, o Le Royal Monceau – Raffles Paris é um palácio moderno, que combina a arquitetura dos anos 30 ao design arrojado e leve de Philippe Starck, o designer francês que assina o interior e exterior do Hotel Fasano, no Rio de Janeiro. Ao notar o tapete instalado torto no elevador e o revestimento listrado nas paredes de forma irregular você pode até achar que Starck errou. A verdade é que cada detalhe foi planejado por ele para dar ao Le Royal um ar de imperfeição, “como a casa da gente”. A diferença é que, ali, você tem quatro restaurantes incríveis à disposição. O Il Carpaccio, comandado pelo chef Roberto Rispoli, explora a culinária italiana e é referência em Paris quando se fala em frutos do mar. Não à toa, tem uma das cobiçadas estrelas Michelin. Já o Matsuhisa Paris, do superstar Nobu Matsuhisa, traz uma visão contemporânea da culinária japonesa.

_37 Avenue Hoche, 75008 Paris. +33 1 42 99 88 00.

Descansar na suíte que aparece em Meia Noite em Paris

Ao entrar na Panoramic Suíte, do hotel Le Bristol Paris, é quase como se você dividisse o espaço com Owen Wilson e Rachel McAdams, os atores que dão vida ao casal Gil e Inez na comédia de Woody Allen, Meia Noite em Paris (2011). Do florido terraço, o céu parisiense é um irresistível convite a viver ali uma história de amor – sentimento que atinge mesmo os do tipo inabalável. Não há como não se emocionar com a atmosfera bucólica do quarto, decorado pessoalmente pela família Oetker, dona do Le Bristol. E seguindo essa mesma linha, a Honeymoon Suíte – e sua incrível vista para alguns dos monumentos mais bonitos da capital – combina o refinamento de Luís XV e a graça de Luís XVI. E enquanto descansa em um desses quartos cheios de história e personalidade, é bem provável que você encontre Cleópatra ou Faraó, os dois gatos de estimação do hotel.

_112 Rue du Faubourg Saint-Honoré, 75008 Paris. +33 1 53 43 43 00.

Ir além de macarons e crème brûlée

Os doces clássicos da gastronomia francesa devem entrar no seu roteiro. Mas os restaurantes de Paris podem lhe surpreender (e muito) no quesito sobremesa. O badalado Café Antonia, ainda no Le Bristol Paris, por exemplo, leva a sério essa parte da refeição. O seu pastry chef, Laurent Jeannin, cria combinações originais e inusitadas, como o Antonia, um doce feito de chocolate branco e toranja rosa, acompanhado por um biscoito de vanilla e gengibre. Não deixe de provar as tortinhas de frutas vermelhas, chocolate ou limão, que são cobertas por folhas de… ouro! E se estiver por lá no verão, leve o chá ou o café para o jardim e faça companhia às magnólias e outras flores perfumadas.

_112 Rue du Faubourg Saint-Honoré, 75008 Paris. +33 1 53 43 43 00.

AMSTERDÃ

Passar a noite em um antigo conservatório de música

Da clássica e romântica Paris, viajo rumo à jovem e contemporânea Amsterdã. Um lugar conhecido no mundo todo pelos belos canais, bicicletas e tulipas. Mas é tão injusto resumir a capital da Holanda assim. Há um lado ainda pouco explorado nesta capital. Hotéis cinco estrelas, com histórias tão intensas quanto às de Anne Frank e, ao mesmo tempo, um espírito jovem que em nada tem a ver com idade. O Conservatorium Hotel – também da The Leading Hotels of the World – recebeu minhas expectativas de braços abertos. De um lado, um design contemporâneo – que o torna único em Amsterdã –, do outro, uma história que começa em 1275, ano em que foi inaugurado. Referências ao antigo conservatório de música que existiu ali décadas atrás não faltam – o lustre gigante feito com cerca de 80 violinos é apenas um deles. Não à toa, recebe com frequência personalidades da música como Justin Bieber, Drake e Rihanna. Em uma eventual estadia por lá, reserve um tempo para conhecer o bar do hotel, o Tunes Bar, e provar os mais de 30 tipos de gim combinados às seis variedades de água tônica. A casa é reconhecida por ter a maior variedade da bebida na Holanda. O drinque clássico é a especialidade deles, mas vai a dica: peça para o garçom criar uma combinação exclusiva para você.

_Van Baerlestraat 27, 1071 AN Amsterdam. +31 20 570 0000.

Viajar pelas várias fases de Van Gogh

Assim como em várias cidades da Europa, Amsterdã, por si só, é um museu a céu aberto. Caminhe partindo da Dam Square, no centro, e vai topar com inúmeros museus, galerias e teatros. E para não perder nenhuma história, a dica é contratar a Sandeman, uma empresa fundada em 2003 por uma estudante de Yale que presta um serviço nada convencional, com guias carismáticos e irreverentes. Ao final do tour – que passa por toda a história da cidade, desde que era uma aldeia à beira do rio Amstel até a prostituição e descriminalização das drogas – é provável que você se torne amigo do guia. Uma dica que ele provavelmente vai te dar é a de conhecer (ou revisitar) o Van Gogh Museum, um dos mais de 50 museus espalhados pela capital, logo em frente ao Conservatorium Hotel. Aqui, reserve pelo menos uma tarde para conhecer cada fase do trabalho do renomado pintor holandês. E para descobrir o que há por trás de cada quadro, sugiro que baixe (gratuitamente) o aplicativo Touch Van Gogh (disponível em iOS e Android). Por meio dele, você descobre, por exemplo, qual era a cor que existia antes do vermelho desbotado em O Quarto (uma das obras mais famosas de Van Gogh).

_Museumplein 6, 1071 DJ Amsterdam. +31 20 570 5200.

Degustar rótulos do mundo todo na maior adega de vinhos de Amsterdã

No centro da cidade, de frente para um dos canais e perto da maioria dos lugares que você provavelmente vai querer conhecer, como museus, lojas e bares, está o Hotel De L’Europe, o último do tour pela Europa, perfeito para quem está conhecendo a cidade pela primeira vez. Tem uma decoração clássica, quase que extraída de um filme dos anos 20, com seus quartos monocromáticos, papéis de parede floridos e candelabros imponentes. Lá dentro, o restaurante Bord’Eau, do chef Richard van Oostenbrugge, duplamente estrelado pelo Guia Michelin, explora ingredientes excepcionais, como pato, pombo, filé e frutos do mar. No mesmo lugar você encontra a maior adega de vinhos da cidade (15), com nove mil garrafas e rótulos de 60 países – incluindo Brasil, Marrocos, China e produções da casa. Peça ao sommelier para conhecer o porão onde parte das garrafas ficam guardadas. Quem sabe você possa segurar a mais desejada delas, um Romanee-Conti de 26 anos, cujo preço está em € 20 mil – cerca de R$ 70 mil.

_Nieuwe Doelenstraat 2-14, 1012 CP Amsterdam. +31 20 531 1777.

Subir o prédio mais alto da cidade

Do outro lado do rio, no Overhoeks – um dos bairros mais novos de Amsterdã –, fica o novíssimo A’DAM Lookout. Foi inaugurado só há alguns meses, tem 20 andares – a mais alta construção da cidade – e é inteiramente dedicado à música. A começar pelo elevador, que tem teto transparente, música eletrônica e luzes coloridas. Vai do térreo até o 20º andar em 22 segundos e rende alguns gritos de susto quando vai chegando ao topo. Se curtir a experiência, pode ir até o terraço e experimentar o balanço sobre a borda da torre, a cerca de 100 metros do chão.

_Overhoeksplein 5, 1031KS Amsterdam. +31 20 242 01 00.

Experimentar carne de veado e macaron de banana

No revestimento da parede que imita uma cerejeira, no lustre com tsurus ou no quimono das atendentes em dois dos quatro restaurantes do hotel Okura está claro que, ali, a cultura oriental reina. Também da The Leading Hotels of the World, fica na área comercial de Amsterdã e é destino preferido dos que viajam à cidade a negócios. E apesar das referências japonesas, é o restaurante Serre é a menina dos olhos do hotel. Está no Guia Michelin, na categoria Bib Gourmand, que prestigia os restaurantes que oferecem comida de qualidade excepcional por preços moderados. Lá você pode (e deve!) provar uma surpreendente salada com carne de veado, um bacalhau fresco acompanhado de cogumelos e purê de feijão branco e terminar com um delicioso macaron de banana – feito com uma das frutas que mais lembra o Brasil para te lembrar que, em breve, é preciso voltar.

_Ferdinand Bolstraat 333, 1072 LH Amsterdam. +31 20 678 7111.

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