ESTILO

O design silencioso de Jader Almeida

por Luise Takashina  fotos Daniel Katz

Desde pequeno, ele queria trabalhar com projetos. Sem conhecer o design como profissão, pensou em ser estilista ou engenheiro. “Eu falava isso porque não tinha muita noção do que era uma coisa ou outra. Para mim, qualquer coisa que estivesse relacionado a desenho estava valendo”, explica Jader Almeida, diretamente do seu showroom, em Florianópolis (SC). Aos 16 anos, ele teve contato com a indústria do mobiliário e, posteriormente, acabou cursando arquitetura em Chapecó (SC).

A trajetória pouco comum a um estudante – primeiro ter contato com o lado prático de uma profissão para depois se aperfeiçoar com cursos e viagens – talvez seja uma das razões da ascensão do designer, que só neste ano expôs 80 peças em um espaço próprio na Feira de Milão, maior referência mundial quando o assunto é mobiliário.

Dono de vários prêmios do Museu da Casa Brasileira e premiado nos Estados Unidos e na Alemanha, desde 2004 Jader tem a marca catarinense SOLLOS como sua principal parceira. E desde 2013 integra o time de designers da alemã ClassiCon. Nesta entrevista exclusiva, Jader atribui o seu sucesso a muito trabalho e a um pensamento muito focado, de quem sabe o que quer assim que idealiza um produto.

TOP VIEW: O que define a assinatura Jader Almeida?

Jader Almeida: Eu busco um traço leve, linhas suaves, um produto que viaja pelo tempo e que permanece elegante. Algo que seja silencioso – não é aquele produto que grita, que é protagonista. Eu gosto muito de pensar que um produto que leva minha assinatura vai ser atual daqui a 40, 50 anos.

TV: Você busca referências em outras áreas para criar?

JA: Todas as áreas são referências. Cinema tem um impacto gigantesco para mim, as artes de forma geral – moda, arquitetura, música. Sou influenciado por aquilo que vivo, que experimento, o que de fato eu gosto. Logo, tudo é inspiração. Tem uma frase que eu gosto que diz: “Inspiração existe, mas é bom que ela me encontre trabalhando”. Não é aquela coisa divina, é algo que eu tenho que buscar a partir do trabalho, do desenvolvimento.

Eu trabalho muito em cima das ideias, das conexões, do uso. Sou muito racional. Quando eu penso em uma peça ela está clara na cabeça, mas o caminho para ela se materializar é um processo longo.

Há produtos que são necessários 20, 30 protótipos para chegar ao ideal. E depois são inúmeras fases para tornar esse produto viável para comércio. E mais inúmeras fases para tornar esse produto adequado para logística. Tem profissionais que não se prendem a isso, mas eu imagino todas essas etapas lá no começo.

TV: E é muito difícil fazer um produto de design e que, ao mesmo tempo, tenha apelo comercial? 

JA: Pensar apenas no lado comercial pode render dificuldade; pensar no produto só pelo lado emocional também pode não dar certo. Quando já se tem uma assinatura, se torna algo natural, mais fácil. Quando alguém busca o meu trabalho, já sabe que ele tem um estilo definido.

TV: Qual é o seu produto preferido?

JA: Eu sempre digo que um produto é um produto apenas, que pode ser um experimento de muitas coisas. Quando se olha vários, é possível identificar uma linguagem. O conjunto da obra é que vai definir a assinatura de alguém. Muitos profissionais gostam de ter várias experimentações. Talvez isso faça uma assinatura desse profissional. Para mim, minha assinatura é uma linha sem muitas rupturas.

TV: Muitas publicações definem o seu trabalho como tendo grande sinergia com a identidade nacional. Você concorda com isso?

JA: Vivemos em um mundo globalizado, onde somos influenciados e influenciamos os outros. No meu ponto de vista, o design é feito para seres humanos, independentemente da nacionalidade. Um produto tem que ser usável, adequado tanto para um japonês, um americano, um europeu, um brasileiro, qualquer pessoa. Nunca concordei com esse clichê de brasilidade. Sou brasileiro. Obviamente, quando coloco o pé para fora do Brasil, sou identificado como designer brasileiro, mas eu não uso esse atributo de ser 100% nacional.

TV: Está em seus planos buscar o sucesso internacional?

JA: São 11 anos de trabalho. Tenho um pensamento muito objetivo do que é transcender fronteiras, da matéria-prima à fabricação. Soma-se a isso o fato de que, aos olhos do mundo, os países emergentes são desconhecidos. Se é exótico, logo passa. Mas aquilo que tem contundência, alinhado a um pensamento global, causa um impacto positivo. Este ano, expus 80 peças na Feira de Milão – pela segunda vez em um espaço exclusivo.

Foi um crescente de 2014; muitas pessoas que foram observadoras no ano passado notaram um amadurecimento, pensam que é alguém que está aqui para continuar, não é aquele que aparece um ano e depois desaparece. Ou que estava com uma linha de pensamento e que agora está com outra.

TV: Atualmente seu mercado consumidor está mais fora ou dentro do Brasil? 

JA: Nestes dez anos houve foco para o mercado nacional. Nós, brasileiros, consumimos muito nos últimos anos, então a estratégia comercial foi fortalecer o mercado interno. Mas trabalhando de forma paralela o mercado internacional.

Nos últimos três anos, sabendo que esse período do Brasil era uma sazonalidade, o departamento comercial focou em estratégias para o mercado externo, já se preparando para a internacionalização da marca. Hoje o mercado nacional ainda é maior, mas as perspectivas nos próximos anos, em um período curto, é equilibrar meio a meio. Agora, 80% é nacional e 20% internacional.

TV: O consumidor brasileiro reconhece bom design, já tem olhar mais apurado?

JA: Isso é muito relativo. Do ponto de vista da identificação e da procura houve uma melhora por uma série de fatores: há muitos veículos que divulgam o que é design e isso impacta muito mais as pessoas; há muitas lojas que abriram nos últimos anos – elas atuam como uma interface com o consumidor – e isso educa o olhar. E há mais cursos de design, de artes. De 2005 para 2015 há uma evolução, mas só o tempo vai dizer melhor o que esse período representa. O design como produto industrializado está totalmente ligado à situação econômica de um país. Uma crescente econômica faz com que as pessoas tenham mais acesso aos produtos e mais poder de escolha entre o que é bom ou ruim.

TV: Qual é o seu material preferido para trabalhar?

JA: Como faço um produto que é feito por uma indústria, estou ligado ao tecnológico. Como designer eu não tenho preferências, mas como pessoa, gosto dos materiais naturais, que envelhecem com dignidade, como o couro, a madeira, um metal que sofre uma oxidação natural, como o latão e o cobre.

TV: E quais são seus projetos futuros?

JA: Como produto imobiliário, a expansão internacional: Melbourne, Beirute, Londres, Tóquio, Paris, Chicago, Miami. Só falta a África, que está na mira. E há projetos em outras áreas, que vou desenvolver como Jader Almeida.

JADER EM CURITIBA
Onde comprar
Ton Sur Ton
(41) 3224-6660
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.285, Batel. tonsurton.com.br

“Peças premiadas e icônicas do Jader fazem parte do nosso portfólio. São peças únicas, que tratam a madeira mais do que como uma matéria-prima, mas como uma fonte de criação de peças que são verdadeiras obras de arte.” Sonia Elias, proprietária

É Mobiliário Brasileiro
(41) 3244-3244
Av. Sete de Setembro, 5.873, Água Verde. facebook.com/emobiliario

“Por causa da profissão de arquiteto, é um designer que consegue pensar o produto no ambiente. Isso faz com que seus móveis conversem entre si.” 
ari coelho, proprieTáRIO

Momentum&Design
(41) 3242-2920
Rua Des. Costa Carvalho, 208, Batel. www.momentumdesign.com.br

Simmetria Ambienti
(41) 3027-3100
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.707, Batel. simmetriaambienti.com.br

“Suas soluções construtivas de estrutura se destacam por cumprir sua função primária de forma eficiente, sem deixar de lado o aspecto estético.”

Maristela Campagnaro 
Bubniak e equipe

Onde VER

Nomaa Hotel
(41) 3087-9595
Rua Gutemberg, 168, Batel. nomaa.com.br

“Eu gosto das linhas puras e retas do Jader, do seu design limpo e contemporâneo.” Fernanda Cassou, arquiteta de interiores do hotel, que tem peças de designers brasileiros em sua decoração

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