Brasil + China: a instigante combinação que norteia a Bienal de Curitiba
A promessa é clara: pela primeira vez na América Latina um único projeto almeja trazer uma leitura tão completa da arte contemporânea de outro país. “É como se fôssemos à China”, garante Luiz Ernesto Meyer, diretor-geral da Bienal de Curitiba, que começa no dia 30. Ele ressalta que o país de dimensões continentais (como o Brasil) tem uma produção espetacular, apreciada por especialistas e museus do mundo todo. Afinal, o constante desenvolvimento da China desde a década de 1980 não se limitou ao setor econômico, expandindo a realidade do país a um estado de permanente metamorfose.
A crescente liberdade de expressão aliada ao caráter coletivista herdado do regime comunista foram fatores influentes na transformação da cena da arte contemporânea chinesa no que ela é hoje. Não à toa, já em 1999, um quarto dos artistas da Bienal de Veneza – a mais antiga e importante do mundo – era do país asiático. Desde então, o hype em torno de sua nova produção só tem aumentado.
Em 2015, o evento que abrange artes visuais, cinema e literatura em Curitiba chegou a ter sua programação estendida pelo sucesso de público. Foi estimada a visita de mais de um milhão de pessoas nos 100 diferentes pontos de exposição naquele ano. Em 2017, parece que não será diferente. Sob o título curatorial de Antípodas, que se refere a posições diametralmente opostas entre si, o evento pretende dialogar culturas, manifestações artísticas e diversidade entre China e Brasil.
Palco principal
Com 35 mil m² de área construída, o Museu Oscar Niemeyer é considerado o maior do país e da América Latina. Não surpreende, portanto, que seja a sede principal da Bienal, abrigando artistas chineses e internacionais de destaque. Juliana Vosnika, sua diretora-presidente, ressalta: “A Bienal eleva a nossa cidade a polo da arte e irradiador do que há de mais relevante nas manifestações artísticas contemporâneas, e é um privilégio podermos vivenciar esta experiência”.
A organização do museu antecipa que o Olho, seu espaço de maior prestígio, dará lugar a Vibrations, exposição com curadoria de Fan Di’an, Fang Zhenning e Liu Chunfeng, e 36 artistas chineses. A Torre do Olho também será ocupada com obras selecionadas pela Bienal Cafam de Pequim e pela Bienal de Xangai. Outras salas serão ocupadas por artistas escolhidos pelos curadores Tício Escobar, Massimo Scaringella, Tereza de Arruda e Agnaldo Farias, entre outros.
Na última edição, mais de um milhão de pessoas visitaram a Bienal de Curitiba, em seus mais de 100 espaços expositivos.
Destaques da programação chinesa no MON
He Wenjue
O artista teve uma infância ribeirinha na província de Hunan. Quando começou a carreira artística, em 1996, focou seus esforços em retratar as belezas naturais que o cercaram. Primeiro, ganhou renome internacional pela série Watch movie, em que fundia cinema à pintura, retratando sistematicamente cenas de filmes de maneira abstrata e própria. Depois, também passou a aventurar-se no mundo da escultura, com os mais diversos materiais. O artista integrará a mostra principal com 12 peças de ouro 24 quilates – o estado mais puro possível em uma pepita – da série Zodíaco chinês.
Liang Shaoji
O artista natural de Xangai é conhecido por seus trabalhos surrealistas, que envolvem uma mediação única entre natureza e existência humana. Aclamado pela crítica, Shaoji recebeu o Prêmio de Arte Contemporânea da China em 2002, além de diversas condecorações internacionais. Suas esculturas apresentam elementos têxteis construídos de maneira quase macabra, misturando biologia, tapeçaria e surrealismo. Com um imaginário essencialmente chinês, o artista transforma e cria novas formas de natureza em instalações contemporâneas. Shaoji, aos 72 anos, apresentará quatro obras na Bienal de Curitiba, também na exposição Vibrations.
Jin Jiangbo
Surpreendentemente, para o renomado fotógrafo, seu meio é apenas um instrumento da arte – o que está fora do enquadramento é mais importante. Jiangbo ficou conhecido em 2007 como o primeiro artista a expressar a chegada da crise financeira internacional por meio da arte contemporânea. Figura célebre nas mais prestigiosas bienais internacionais (como as de Veneza, Xangai e Montpellier), o fotógrafo trará três imagens da série China market prospect.
Arquitetura em evidência
Em constante transição, a arquitetura sempre se relacionou aos cenários, costumes e padrões estéticos que distinguem seu tempo. Em outras palavras, acompanha e influencia tendências culturais das sociedades, refletindo sua história. Não poderia, portanto, ser negligenciada de um recorte atual da arte.
A mostra de arquitetura contemporânea da Bienal será no Palácio Iguaçu, com 36 nomes homenageados por seus projetos de relevância e projeção internacional, majoritariamente sediados na China. Aqui estão alguns deles.
Nota:
O artista contemporâneo mais importante da China é também persona non grata em seu país. O dissidente
Ai Weiwei fala neste podcast da New Yorker sobre censura, arte e Twitter.
SERVIÇO
Bienal Internacional de Curitiba: 30 de setembro de 2017 a 25 de fevereiro de 2018.
*Matéria escrita por Mariana Benevides e originalmente publicada na edição 203 da revista TOPVIEW.