Vida longa à revolução cervejeira!

por Daniel Wolff

Há dez anos, quando comecei a trabalhar com cervejas especiais, sabia que uma revolução estava por vir. Estávamos prestes a deixar as cervejas de sabor massificado e prontos a recepcionar a infinidade de sensações, sabores e aromas das cervejas especiais.

Havia poucos rótulos, grande parte era importada, e raros eram os de  microcervejarias locais. Os cervejeiros trocavam conhecimento em sites e blogs e procuravam informações nos poucos livros estrangeiros sobre o assunto. O perfil desses apaixonados por cerveja era parecido: pessoas que gostavam de viajar e conhecer gastronomia e culturas diversas. Eram aventureiros abertos a novas experiências. Muitos visitaram países cervejeiros como Inglaterra, Alemanha e Bélgica e se decepcionaram ao retornar ao Brasil. Sim, isso aconteceu comigo. Era difícil chegar aqui e ver apenas grandes marcas que não ofereciam nada em sabor. Aqueles que tiveram contato com as cervejas especiais – gourmet, artesanais ou cervejas de verdade, como preferirem chamar –, notavam que elas ofereciam uma intensa experiência gastronômica e não apenas matavam a sede. Essas pessoas se tornavam de imediato disseminadores da cultura da cerveja.

Em uma época de poucos rótulos e raros locais de venda especializados, a saída para muitos foi fazer a própria cerveja. Isso não aconteceu somente aqui, mas em outros países, como Estados Unidos e Canadá. E assim os cervejeiros caseiros tiveram um papel importante. Cansados de beber cerveja sem cor, sem aroma, sem gosto e sem graça, faziam questão de compartilhar suas experiências e cervejas com amigos ou com quem estivesse disposto a saborear aquela arte. Muitos desses cervejeiros de panela tornaram-se donos de cervejarias. Por que não? Trabalhar com cervejas é o sonho de muitos!

Paralelamente, cerveja e gastronomia começaram a se unir. A cerveja não precisava mais ir à mesa somente para matar a sede ou limpar o palato após uma carne gordurosa ou petisco de boteco. A variedade de estilos ainda não era farta, mas já permitia a harmonização da entrada à sobremesa – até com queijos e chocolates.

A arrancada da cultura cervejeira se consolidou no 6º Festival Brasileiro da Cerveja em Blumenau, no mês passado. Mais de 600 rótulos, a maioria de microcervejarias nacionais, tomaram os pavilhões da Vila Germânica. As fabricantes curitibanas, unidas como sempre, deram um show: a Bodebrown levou o prêmio de melhor cervejaria do ano, e marcas como Way, Klein, Wensky, Gauden, Morada, DUM, Ogre, F#%*ing Beer e Bier Hoff também se destacaram. Sem querer puxar o malte para o nosso lado, deixaram os presentes alvoroçados para provar o que os revolucionários curitibanos andam fazendo.

Um brinde à cerveja de verdade e aos consumidores que estão vibrando com o movimento cervejeiro: à nossa saúde e vida longa, que essa é apenas a primeira etapa!

 

Daniel Wolff é sommelier de cervejas e proprietário da rede de franquias de lojas de cerveja Mestre-Cervejeiro.com   

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