Riquezas brasileiras

por Ivan Lopes

Sou natural do Pernambuco. Ainda cedo, com 8 anos, fui para o Rio de Janeiro. Por influência do meu irmão, fui em busca de novos ares profissionais e aceitei seu convite para auxiliá-lo na cozinha. Tive passagens por São Paulo, mas me consolidei mesmo em Curitiba, que sempre me acolheu. Desde cedo, percebi que a cozinha seria um mundo apaixonante e que gostaria de explorá-lo. Então, fui em busca do meu sonho: ser um chef. Sempre tive a sorte de ter a influência de profissionais consagrados. Além disso, as técnicas francesas e outras técnicas internacionais contemporâneas foram grandes referências para o meu início de carreira. Porém, ao longo desses meus 15 anos de profissão, chamou-me a atenção a diversidade de ingredientes que nosso país possui. E não somente os ingredientes, mas as técnicas, os costumes e a cultura que diferem e caracterizam cada região do Brasil. Então, comecei uma busca incessante por novidades que tantos brasileiros, por incrível que pareça, desconhecem.

Hoje, uma grande fonte inspiradora para mim é o nosso tão premiado Alex Atala, que levou os nossos ingredientes Brasil afora, elevando ainda mais a nossa gastronomia. Alex faz um lindo trabalho, junto ao Instituto ATÁ (fundado por ele), pela valorização dos ingredientes, cores e sabores do Brasil. Tenho feito muitas pesquisas e viagens em busca dessas descobertas e o resultado é encantador, tanto pela diversidade dos ingredientes quanto pela possibilidade de parcerias com pequenos produtores que tanto precisam de incentivo.

Em outubro do ano passado, com a abertura do Mukeka Cozinha Brasileira, pude realizar um grande sonho: abrir um restaurante que trabalhasse exclusivamente com ingredientes brasileiros e no qual os comensais pudessem sentir a nossa “brasilidade” em cada prato. Citarei apenas alguns dos ingredientes que trabalhamos em nossa cozinha: a taioba, uma planta que descobri em uma viagem a Tiradentes (MG) e que vem sendo cultivada aqui pertinho, em Morretes; o tucupi, que vem diretamente de Belém – o chef Paulo Martins já afirmou que esse ingrediente proveniente da mandioca brava um dia vai ser considerado o “shoyo brasileiro”; a fruta mana-cubiu, outro ingrediente amazônico interessantíssimo e que cultivamos em Antonina; o palmito pupunha, uma alternativa sustentável para o palmito e que é muito cultivado em nosso litoral; e o rei dos peixes brasileiros: o pirarucu. De origem amazônica, vem sendo criado em cativeiro no interior paulista de forma sustentável.

Voltando ao nosso quintal, fico muito feliz com o crescimento da gastronomia de Curitiba, com destaque no cenário nacional e com a aceitabilidade do público curitibano para a cozinha de autoria. Fico feliz também pelo fato de os da nova geração terem interesse pelos nossos ingredientes. Afinal, o que é bom não precisa ser importado e o que nós temos é muito valioso. Basta usufruí-los. Isso é gastronomia brasileira moderna, que tanto nos identifica e nos fortalece.

 

Ivan Lopes é chef do Mukeka Cozinha Brasileira.

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