Madeira do futuro
por Adriane Perin
Durabilidade equivalente à do eucalipto e resistência que rivaliza com o aço. Some ainda alta produtividade e o fato de ser renovável, reciclável, bonito, leve e flexível. Assim é o bambu, material que oferece inúmeras variedades com aplicações na arquitetura, em interiores e no design. É este conjunto de qualidades que o credencia como “madeira do futuro”, atraindo, no mundo todo, o interesse de pesquisadores e arquitetos.
No Brasil o bambu ainda é subutilizado – é mais visto em ambientes temáticos e detalhes decorativos –, mas seu uso começa a vencer obstáculos, com novas formas de aplicações e profissionais cada vez mais dispostos a demonstrar todo seu potencial e a derrubar preconceitos instalados.
A necessidade de tornar mais sustentável o consumo de materiais na construção coloca o bambu como alternativa promissora. “O bambu é uma das melhores soluções para substituir materiais com elevada energia embutida e emissão de CO2. Renovável, tem grande variedade de utilizações dentro da construção civil”, explica o arquiteto Ormy Hütner Jr., sócio do Tellus, escritório de arquitetura de Piraquara focado em construções sustentáveis e que oferece o curso de bioconstrução com bambu. Mesmo com custo inferior, ele diz que o cultivo do bambu para fins econômicos ainda é escasso e com pouco incentivo por parte do governo. Comparado com madeiras como eucalipto e pinus, a espécie apresenta um desenvolvimento muito mais rápido – pode atingir de 40 a 50 cm de crescimento por dia. Seu uso pode ser estrutural, para vedação (pisos, paredes e forros) e cobertura. “Mecanicamente, tem propriedades de resistência comparáveis a certos tipos de concreto e aço”, exemplifica Hütner Jr..
Fácil de combinar
O arquiteto Ivan Wodzinsky utiliza com frequência o bambu em arranjos decorativos e também na arquitetura, nos revestimentos de parede, divisórias e tetos. “É exótico e se usado de maneira correta e revisitada, tem estilo e é de bom gosto”, comenta ele, que volta e meia sugere o uso do material para seus clientes. “Há um preconceito inicial, mas eles sempre gostam do que eu apresento.” Já a dica do arquiteto Filipe Bender para tornar a decoração mais contemporânea é combinar o bambu com elementos sofisticados, como o mármore, espelhos e revestimentos nobres. “Versátil, é uma espécie que combina com quase todos os estilos”, pontua. Bender ainda cita novidades no mercado, como as placas de bambu, que facilitam a aplicação em alvenarias, mas ainda são pouco conhecidas.
Henry Cunha, arquiteto estudioso do bambu, lembra que a matéria-prima exige cuidados prévios. “Embora de fácil cultivo, existem variedades apropriadas para diferentes aplicações e sua durabilidade depende do plantio e dos tratamentos”, diz Cunha. Ele considera natural a resistência em torno de uma tecnologia em fase de conhecimento. “Foi assim com o concreto e é o que vivemos com o bambu”, aponta, ressaltando a importância de estudos como os do professor Khosrow Ghavami, da PUC-RJ, em torno do bambucreto.
Espaço garantido
Desde que ficou impressionado com uma touceira gigante de bambu, há quase 20 anos, o engenheiro agrônomo Danilo Cândia está na vanguarda do uso do material no Brasil. Ele é criador da Bambu Carbono Zero, de São Paulo, empresa que trabalha com venda do material tratado, produtos e projetos para construção civil e agronegócio. As parcerias com o arquiteto Simon Velles e com a paisagista Renata Tilli, sua esposa, trouxeram saltos qualitativos. “Fui aprendendo e foi aparecendo gente com dinheiro pedindo coisas incríveis.” Ele acompanha o bambu desde a colheita, passando pelo tratamento até transformá-lo em madeira de lei, dando a ele durabilidade por meio de técnicas que foi pesquisando. “A Renata me ensinou a não vulgarizar o bambu. Agregar referências do mercado de alto nível, no qual ela atuava, trouxe um olhar mais moderno, que escapou daquele orientalismo óbvio e do artesanal bobo”. Para ele, ‘queimaram o filme’ do bambu usando-o erroneamente. “As pessoas me chamam muito para consertar. O grande momento do bambu é de agora para frente”, aposta.
Um dos resultados dessa parceria é a casa do arquiteto Márcio Kogan, cujo brise tem duas peles de bambu que permitem controlar a entrada da luminosidade, sem impedir que os moradores desfrutem da paisagem.
Para a arquiteta Fernanda Moura Borio, o material é um item de decoração singular para ambientes mais naturais. “Ele está em voga de novo por conta da arquitetura sustentável, que trouxe a ideia do construir verde também para os interiores. É um material que permite inventar muito, é versátil e marcante”, finaliza.
COMO CUIDAR DO BAMBU
Como qualquer outro material construtivo, o bambu deve passar por períodos de manutenção previamente estabelecidos pelo projetista. Caso não haja comprometimento estrutural, a manutenção baseia-se na proteção do material contra insetos e intempéries. Como o bambu pode exigir tratamentos químicos bem agressivos, seu uso em ambientes com pouca ventilação e com longa permanência de pessoas não é adequado. Por isso, busque sempre orientação de profissionais qualificados.
Matéria publicada originalmente na edição impressa da TOP VIEW de dezembro de 2013
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