O canto do passarinho
Um passarinho voa por entre as mesas do Maneko’s Bar, no Centro. Desvia de cadeiras com agilidade e assovia antes de entregar o pedido ao cliente. Chama-se Nilson Costa da Silva, mas se você gritar “Passarinho!”, ele aparece em instantes com seu bom humor característico, a gravata borboleta e o bloquinho para anotar pedidos no bolso da camisa. Sim, o apelido vem dos assovios que imitam canarinhos e sabiás com perfeição e o identificam no restaurante.
Nascido ao pé da Serra do Mar, em Guaratuba, Nilson começou a trabalhar como garçom aos 15 anos, em Matinhos. Veio para a capital aos 20 e passou a atender no Mano’s Bar. Certo dia, ganhou de presente do patrão um pássaro preto, que ele próprio tratou de ensinar a cantar. Sete anos depois, ficou triste da vida quando uma ratazana invadiu a gaiola e devorou a ave. “Quase não fui trabalhar naquele dia”, lembra.
Em 1984, Mano vendeu o estabelecimento a Manoel Pereira Alves, o Maneko, garçom que havia acabado de deixar as mesas do tradicional Bar Stuart. Passarinho seguiu com o novo patrão, para o qual trabalha até hoje. E, mesmo agora, aos 66 anos, impressiona pela extrema dedicação, alegria e rapidez com as quais exerce sua profissão. “É o funcionário mais dedicado, sempre o primeiro a chegar”, diz Maneko, garantindo que os assovios agradam e que tem gente que vai lá só por causa do Passarinho.
Nilson voa: se a um instante está limpando a toalha azul da mesa ao lado, no segundo seguinte já está atrás do balcão buscando um chope – e num piscar de olhos está no outro canto do salão servindo um prato. A receita para tamanha disposição “é fazer com amor aquilo que a gente gosta”, explica.
Em 2008, precisou pausar para uma cirurgia: câncer no estômago. A recuperação durou mais de um ano, em que a tristeza foi maior por não poder trabalhar do que pela própria doença. Para dias depois da entrevista à TOPVIEW, no final de julho, estava programada uma nova cirurgia, no intestino. Nada que o desanime: “Pretendo continuar no Maneko’s enquanto Deus me der forças para trabalhar”, assovia o Passarinho.