As vantagens de ser imperfeito

Quantos pratinhos somos capazes de manter girando? Isto é, quais áreas da vida exigem atenção e melhoria constante? Se ser um bom profissional, um bom companheiro(a) e um bom pai ou mãe já tomam boa parte da energia disponível, os hobbies são o momento de relaxar e se permitir “não ser tão bom assim”, certo? Errado.

Ao assistir uma série, fazer uma aula por pura diversão ou encontrar um novo esporte para amar, não é incomum ter a culpa como companhia. A série precisa agregar intelectualmente, a aula deve virar um negócio e, no esporte, não basta competir, tem que ser o melhor. Às vezes, acolher a imperfeição é o caminho mais genuíno para evoluir.  

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O yoga, que é uma atividade que exige dedicação e equilíbrio, entrou na vida da supervisora comercial Eliane da Silva em um momento intenso e conturbado. Em meio à uma rotina que exigia ir de uma atividade para outra em questão de minutos, ela se desafiou em uma prática na qual o foco no momento presente era essencial e, durante alguns minutos, o seu mundo se reduzia ao seu tapete, seus movimentos e a conexão entre corpo, mente e espírito. 

Diferentemente de outras práticas, o yoga pressupõe conhecer os próprios limites para, só então, ultrapassá-los. Para Eliane, isso significa respeitar a capacidade do corpo e entendê-lo como seu refúgio e santuário. Em um ano de prática, ela ainda considera sua evolução “tímida”, mas com resultados já visíveis dentro e fora da sala de aula. 

A professora de yoga Maiara Fernandes Vasques de Sousa costuma acompanhar trajetórias de alunos que buscam a evolução a todo custo ou travam por não se sentirem preparados. “A primeira visão do aluno é, muitas vezes, achar que ele está perdido ou fazendo alguma coisa errada. Muita gente não começa por não achar que não é flexível, calmo, forte ou equilibrado”, afirma.

Devagar se chega mais rápido 

“Não se comparar com o outro e reconhecer as suas limitações como oportunidade de expansão”. Essas são as dicas de Maiara para que as aulas sejam aproveitadas ao máximo e a evolução aconteça naturalmente. “O yoga não é sobre performance. Você não precisa chegar em algum lugar. O único lugar que a gente tem que chegar é o momento presente, que é onde a gente está agora”, afirma.

Ironicamente, é quando os alunos se soltam e focam apenas na experiência do corpo e da mente que as maiores evoluções acontecem. “Eu não entro no yoga para fazer posturas difíceis ou trabalhar meu corpo. Estou aqui para encontrar meu centro e expandir minha consciência. Encontrar paz e liberdade”, relata a professora sobre sua relação pessoal com a prática.

Encontrar uma atividade prazerosa também pode ser uma fuga dos estresses do dia a dia. Em busca de passar um tempo longe das telas e se reconectar consigo mesma, a designer Camila Husch decidiu começar aulas de cerâmica. “ O contato com a argila relaxa e te obriga a focar apenas naquela atividade. É pelo menos uma hora do meu dia em que me distancio da correria do digital para apreciar os momentos e processos da cerâmica”, relata.

Por se tratar de uma arte, a criação de peças em cerâmica pode ter resultados interessantes mesmo para quem tem pouca experiência. “Comecei aprendendo técnicas básicas para conhecer o material, textura, consistência. Depois, fomos criando produtos mais elaborados. Hoje, anos depois, me surpreendeu que no meu primeiro projeto eu já consegui executar como estava imaginando”, completa Camila.

O que a ciência diz?

Não é por acaso que a falta de produtividade vem acompanhada de culpa. “A gente acha que só vale aquilo que produz valor. Mas para que possamos produzir em termos de trabalho, precisamos estar bem”, afirma Fabiana Thiele Escudero, coordenadora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). 

Segundo a profissional, apesar dos hobbies serem, comprovadamente, uma forma de nos tornar mais saudáveis física e mentalmente a longo prazo, a cultura produtiva faz com que eles sejam negligenciados. “Quando a gente fala sobre atividade relaxante, temos que ser perfeccionistas apenas no quão relaxante aquilo tem que ser”, diz Fabiana.

Para incluir momentos de lazer na rotina, segundo Fabiana, é preciso, primeiro, colocá-los na agenda em substituição às outras atividades, como o tempo destinado a rolar o feed das redes sociais. Outra dica é começar pequeno, com 10 ou 15 minutos por dia, até que se torne natural. Por fim, a autocompaixão é necessária para entender que nem tudo pode ser feito sempre ou da melhor forma possível. 

Evolução: um guia prático

Respiração Iogue 

A respiração na prática de yoga envolve abdome, tórax e peito, diferentemente da respiração no dia a dia, que geralmente acontece somente no peito. 

Saudação ao sol

Uma das sequências iniciais do yoga, a saudação ao sol é importante para aquecer o corpo e une alongamento, flexibilidade e força. No início da prática, é possível realizá-la várias vezes. 

Meditação

Pode ser feita nas posições sentada ou deitada. É importante ter um ponto de foco, como a própria respiração, temperatura ou um objeto à frente para que a mente possa focar no momento presente. 

*Matéria originalmente publicada na edição #289 da TOPVIEW.