SELF

Prevenção (e cura) personalizada

Como o aconselhamento genético e o acesso à informação auxiliam a fazer as escolhas certas

Recentemente, contei aqui na TOPVIEW a minha trajetória na busca da cura do câncer. Para quem não sabe, fui diagnosticada com câncer de útero, passei por uma cirurgia de
grande porte (histerectomia total, salpingectomia bilateral e
ooforectomia).

No fim, foram retirados todos os meus órgãos reprodutores, como útero, trompas e ovários. Passei por uma orientação genética em que foi avaliada a minha história pessoal e familiar de câncer e fui encaminhada para realizar um teste genético a fim de verificar se meu caso era esporádico (provocado pelo meio ambiente) ou hereditário (herdado).

Durante o exame, também foram explicados os benefícios e as implicações do teste. Devido à sua importância, resolvi contar aqui alguns pontos de como foi esse processo.

A coleta

A coleta do teste genético foi muito fácil. Hoje em dia, não há mais a necessidade de se coletar uma amostra de sangue. Basta uma amostra de saliva ou esfregaço bucal. É tudo muito prático, podendo ser coletado até em casa.

Tempo até o resultado

Os testes genéticos germinativos – aqueles que avaliam risco hereditário – variam de 15 a 60 dias, de acordo com o tipo e
conforme os diferentes laboratórios. O meu teste era um dos mais completos e demorou 40 dias para ficar pronto, desde a coleta.

Conforme foi explicado na orientação genética feita pela Dra. Graziele Losso, diferentes testes genéticos são indicados conforme cada pessoa, levando em conta o histórico familiar e pessoal de câncer.

Meu teste genético

Talvez muitas pessoas não gostem de compartilhar as suas informações genéticas, mas estou aqui para falar da capacidade da medicina preventiva dentro da medicina personalizada. Nem imaginamos o quanto essas informações são importantes para várias condutas em nossas vidas, para termos escolhas conscientes. O meu teste genético foi um dos mais completos, avaliando 22 mil genes. Fico pensando como um monte de letras AAA, TTT e GGG podem ter tanta informação e serem a base da vida!

O teste genético, analisado à luz da ciência atual, não identificou nenhuma alteração no meu DNA (sem mutações
patogênicas) correlacionada ao diagnóstico. Portanto, acredita-se que o câncer no qual fui diagnosticada não deve ser de origem hereditária.

Mudanças na minha vida

O teste genético me fez questionar o quanto o acesso à informação é importante no âmbito da saúde. Esse teste auxilia os médicos a tomarem decisões mais assertivas, principalmente quando envolvem cirurgias e orientação familiar. Muitas pessoas ficam com medo de fazer o teste genético e alguns acreditam que, às vezes, é preferível não
saber do que ter a certeza de que o nosso destino já pode estar definido. Não é que eu não tenha ficado com frio na barriga, mas entender o potencial e o quanto a informação poderia ter alterado a minha conduta clínica me assegurava de que, em conjunto com o médico assistente, eu estava fazendo as
escolhas certas.

Hoje, com o conhecimento de que meu câncer não deve ser hereditário, sei o quanto posso – e devo – mudar os meus hábitos.  Penso em praticar exercícios físicos, adaptar a minha
alimentação e até mesmo a minha postura em relação à poluição do nosso planeta, por exemplo. Também fico mais tranquila com o fato de meus filhos não herdarem de mim um gene de predisposição ao câncer que, se viesse a ser descoberto, poderíamos tomar condutas profiláticas adequadas.

Precisamos quebrar o paradigma da nossa  sociedade com o uso da frase “quem procura acha”. A frase deveria ser “quem procura se cuida”. Acredito que, com a medicina preventiva e personalizada, podemos aumentar as chances de cura. Afinal, um dos fatores de maior impacto da remissão do câncer é o diagnóstico precoce.

*Matéria originalmente publicada na edição #264 da revista TOPVIEW.

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